O Grupo de aconselhamento Sisters
foi fundado por ex-prostituta que, assim como muitos no país, vê leis alemãs
para a profissão como liberais demais. Regras teriam incentivado a demanda e o
tráfico de mulheres.
As leis de prostituição na
Alemanha estão entre as mais liberais do mundo. Pelo menos por enquanto, já que
uma reforma está avançando no Legislativo, com o intuito de facilitar a
regulação da prostituição e combater o tráfico de mulheres. Enquanto isso, a
ex-prostituta Huschke Mau se juntou a uma assistente social e a uma política
para fundar a organização antiprostituição Sisters, com o objetivo de ajudar
mulheres a deixar o mercado do sexo.
Embora existam outros grupos de
aconselhamento a prostitutas na Alemanha, a Sisters é praticamente a única a se
concentrar no aconselhamento de profissionais que abandonam a profissão. As
fundadoras afirmam que se trata de um serviço raro num país onde se acredita
que 400 mil mulheres trabalhem como prostitutas (número muito citado, porém
incerto) e mais de um milhão de homens paguem pelo serviço a cada dia.
Mau trabalhou durante dez anos
como prostituta, até encontrar uma saída há três anos e meio. Segundo ela, foi
impossível achar o tipo de apoio que a Sisters oferece. "Eu estava num
centro de aconselhamento na minha cidade, e disse que não aguentava mais, que
queria sair. Eles então me perguntaram: ‘Qual é o seu problema? É um trabalho
bom, por que você simplesmente não para de ir ao bordel?", conta.
"Fiquei completamente
chocada por precisar explicar a alguém que supostamente deveria me ajudar que
eu estava numa situação desesperadora e que a prostituição machuca e
traumatiza", diz Mau. "Se você quer sair da prostituição, você
realmente está com problemas, sendo ameaçada, estando isolada ou com depressão.
Você pode até estar sem-teto. Você está assustada."
O outro lado
Hydra Berlin, um grupo
pró-prostituição fundado há 35 anos, argumenta que já oferece aconselhamento a
prostitutas, inclusive àquelas que querem deixar o mercado. "Mas nós
trabalhamos num campo mais amplo", diz Simone Wiegratz, uma das
conselheiras da organização.
Ela admite que deveriam existir
mais programas voltados a quem quer abandonar a profissão, mas vê a Sisters
como um tipo de serviço missionário que acredita na "salvação" das
prostitutas, trabalhando a partir de uma premissa de julgamento moral que acaba
fechando as portas para uma gama de profissionais do sexo. "Oferecemos
tudo, de conselhos a quem quer entrar na prostituição a àquelas que procuram
alternativas", afirma Wiegratz.
Para Mau, mulheres que querem
deixar o mercado do sexo não procuram centros como a Hydra. "Eles não
apenas aceitam a prostituição, como fingem que não há problemas nela",
diz.
Wiegratz rebate: "Elas não
conhecem nosso trabalho. Nós vivenciamos todo tipo de situação, de mulheres que
querem viver sua sexualidade de uma forma diferente, cuja motivação não é apenas
ganhar dinheiro, àquelas que estão numa situação econômica complicada, ou mesmo
às que foram persuadidas a fazer o trabalho, que foram vítimas de violências ou
tráfico de pessoas."
"Um ombro para chorar"
A Sisters nomeou de dois a três
voluntários por prostituta para fornecer apoio emocional e orientação, seja em
reuniões de grupo ou individualmente. "Muitas mulheres já nos procuraram
dizendo que a prostituição é terrível, ou que viram prostitutas em suas ruas e
querem ajudar", conta Mau. "Qualquer pessoa que queira fazer algo
contra essa profissão pode vir até nós, mesmo que seja apenas para estar lá
quando alguém precisar de um ombro para chorar."
O princípio fundador da Sisters é
de que a prostituição viola a dignidade humana e de que o termo "trabalho
sexual" dá à profissão uma legitimidade que mascara sua verdadeira
miséria. Um número crescente de críticos alemães concorda com a organização e
acredita que as leis liberais sobre prostituição na Alemanha, que entraram em
vigor em 2002, causaram uma explosão no mercado do sexo, tornando o país a
"Tailândia da Europa", assim como define Mau.
"Essas leis encaram a compra
de mulheres como algo perfeitamente normal", considera. "Ou seja, os
homens aprendem que isso é legal e que eles estão autorizados a fazer isso,
aumentando a demanda. Quando a demanda cresce, não é mais possível encontrar
prostitutas suficientes, tornando o mercado dependente do tráfico de
mulheres."
Mudanças na lei
As duas metades da coalizão do
governo alemão concordam que a lei de 2002 precisa de uma reforma, mas o
projeto de lei apresentado pela ministra da Família, Manuela Schwesig,
desagradou ambos os lados. Entre outros pontos, a proposta prevê que todas as
prostitutas se registrem numa autoridade local a cada dois anos, e que se
consultem com médicos anualmente.
O lobby antiprostituição,
liderado pela revista feminista Emma,classificou a possível reforma na lei como
um "triunfo para cafetões", enquanto grupos como a Hydra Berlin circularam
uma petição entre as profissionais do sexo dizendo que a reforma encorajaria a
prostituição ilegal.
Apesar da forte opinião sobre o
mercado do sexo, Mau acredita na importância do registro da profissão, pelo
menos no intuito de forçar esse número desconhecido de prostitutas na Alemanha
a ter algum tipo de contato com o mundo exterior. "Cerca de 90% das
prostitutas vêm do Leste Europeu. Às vezes elas nem sequer sabem a cidade em
que estão", diz.
Fonte: Noticias Terra
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