O sexo? É superestimado. "A
verdadeira revolução do Papa Francisco seria dizer: 'Chega, não me importa mais
nada dos comportamentos sexuais das pessoas, sejam hétero ou homossexuais'. A
Igreja deveria simplesmente deixar cada um livre para fazer o que quiser, sem
aquela ansiedade pruriginosa de codificar a intimidade."
Gianni Vattimo é filósofo, gay e
"um cristão crente mais do que nunca" (não necessariamente nessa
ordem). Ele está acompanhando o debate sobre o Sínodo e a homossexualidade com
bastante desencanto, a ponto de perceber uma esperteza na "saída do
armário" de Krzysztof Olaf Charamsa, o monsenhor que revelou ao mundo que
era gay, orgulhoso da sua condição e de ter um companheiro ao seu lado:
"Eu o considero menos simpático do que eu gostaria. A sua saída me parece
muito calculada. Ele já falou de um livro pronto e próximo do lançamento. Sinto
o cheiro de um golpe publicitário".
Eis a entrevista.
Mas fez com que todo o mundo discutisse.
Porque chamar a atenção da Igreja
sobre o tema do celibato é fundamental. O problema não é tanto a homofobia
católica, mas a sexofobia: você se dá conta de que tipo de moral sexual a
Igreja continua pregando? João Paulo II era contra o uso dos preservativos –
que, em um mundo onde há o vírus da Aids, é como convidar ao assassinato de um
monte de gente.
Você pensa – assim como o Mons. Charasma – que a castidade é
"desumana"?
Não. Desumano é estar sozinho.
Eu, quando jovem católico, lutava pela castidade, era feliz. E ainda estou
convencido de que – como faz uma certa moral católica – pôr limites ao uso da
sexualidade desenfreada têm as suas razões.
Você foi jovem, homossexual e católico. Como se sentiu?
Eu estive na Ação Católica até a
formatura e, entre os 20 e os 25 anos, sofri de problemas de identidade sexual:
eu temia o estigma do homossexual da forma como é socialmente codificado. Mas
não acredito que foi culpa da Igreja: foi culpa da sociedade em que eu vivia.
Digo-lhe a verdade: para mim, a questão da homossexualidade não parece ser nada
central para o catolicismo. Parece-me mais absurdo obrigar à abstinência
sexual.
O Papa Francisco pode mudar as coisas? Você tem confiança?
Francisco me reconciliou com
muitos aspectos da Igreja. É o único que poderia guiar uma Internacional
Comunista, porque não está ligado a nenhum Estado, a nenhum poder temporal. Ele
poderia pregar o comunismo um pouco fantasmagórico. Como o meu. Se eu não fosse
cristão, não seria nem mesmo comunista.
Sobre os temas dos direitos, porém, Francisco é bastante conservador.
Não é ele que é conservador: é a
Cúria. O seu problema é conduzir gradualmente a Igreja a uma posição diferente.
Eu não sei se ele visa até a destruí-la, mas, seguramente, está disposto a uma
grande mudança. Estou até assustado com a hipótese de que, em um certo ponto,
ele declare que tudo aquilo sobre o qual repousa o seu poder é falso. Ele é
alguém de quem se pode esperar de tudo.
Você aprova a ideia da família gay?
Eu sempre penso no que Pasolini
diria. E, a meu ver, ele teria zombado daqueles que querem ter uma família
homossexual. É claro, eu me dou conta de que os direitos individuais estão no
meio disso: dois homens levam uma vida juntos, um morre, e ao outro não é
reconhecido nenhum direito... Isso não é justo. Estou convencido de que, para
evitar abusos desse tipo, é preciso regular essas relações.
Mas...?
Mas, no plano da experiência
pessoal, a ideia da família gay é uma assimilação da diversidade. É como se nos
dissessem: "Vocês querem ser gays? Bem, tenham uma família, nós a
reconheceremos, e não encham mais o saco!".
E não lhe parece um passo à frente?
Ao contrário, é uma coisa muito
conservadora. Assim, a experiência da homossexualidade é reabsorvida e integrada.
Além disso, em um momento em que a família faz água por todos os lados, as
poucas famílias estáveis que eu conheço são as gays. Do ponto de vista do seu
estar bem juntos, elas são admiráveis: mas são um elemento de estabilização da
empresa, um dos pilares da ordem.
Para ser revolucionário – como promete a imagem que o Papa Francisco se
construiu (e que lhe construíram) – o que ele deveria fazer neste Sínodo?
Dizer que o amor de Deus não tem
nada a ver com a instituição da família. A Igreja deveria deixar de ser
obcecada pelo sexo. Pense nisso: por que as pessoas contam ao confessor as suas
transas, as orgias, as noites com as prostitutas e não se sentem culpadas por
terem sonegado os impostos?
Talvez porque consideram como "sagrada" a família e não o
fisco?
Concordo, a tradição do
matrimônio não deve ser jogada fora. Mas não é o único modo de viver a
sexualidade. O Papa Francisco deveria reconhecer isso. São Paulo diz que, sem
caridade, a fé e a esperança são vazias e perigosas. Eu digo que elas também o
são sem o eros.
Fonte: Ihu
Nenhum comentário:
Postar um comentário