Lucetta Scaraffia tem verdadeira veneração por Bento XVI e
se define como "feminista". Sua batalha? Que os homens na Igreja
cedam parte do seu poder para as mulheres, que trouxeram "tantas
riquezas" ao longo desses 2.000 anos de cristianismo. Esta mulher vivaz de
64 anos, olhos cinzentos profundos, eminente historiadora, é uma lutadora que
se gaba de ter o apoio de Joseph Ratzinger.
A reportagem é de Jean-Louis de la Vaissiere e é da AFP,
08-07-2012. A tradução é do Cepat.
Colunista do L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano, e
colaboradora em vários jornais italianos, ela expressa o que a choca na Igreja
– a ambição, a corrupção do sexo e do dinheiro. Dedicada de corpo e alma à
instituição, ela sabe que fez inimigos ali.
Com o apoio do Papa – “foi ele, disse ela, que decidiu que
deveria haver mulheres no L’Osservatore Romano” –, ela lançou no mês passado o
Inserto, um suplemento feminino mensal do jornal da Santa Sé. É a primeira vez
na história da Igreja que isso acontece, o que seria inimaginável há apenas uma
década.
Em seu apartamento repleto de livros, no bairro Parioli,
esta esposa de um jornalista italiano conta com humor como alguns homens no
Vaticano reagem ao seu suplemento: "Alguns dizem: ‘eu não o li’. Eles não
vão me dizer: ‘Não está bem’. Eles preferem jogar um: ‘isso não me interessa’.
A indiferença é terrível".
Celibato
Este sistema tem de evoluir. "Todas as mulheres da
Igreja estão insatisfeitas!", diz ela com uma risada. Apenas duas mulheres
ocupam postos de responsabilidade (números três) nos ministérios do Vaticano e
nenhuma se encontra em cargos mais elevados.
Segundo ela, a busca de uma carreira "também pode
explicar o Vatileaks, o escândalo que ocorreu com o vazamento de documentos
confidenciais. “Se houvesse mulheres no poder na Igreja, nada sairia da
Secretaria de Estado. As mulheres são mais livres porque elas não têm a
perspectiva do poder”, lança em tom de brincadeira.
De acordo com Lucetta Scaraffia, “a pedofilia foi um
escândalo quase exclusivamente masculino. Em geral, as mulheres mantêm o
controle. Se houvesse mulheres em posições de poder, elas não teriam permitido
essas coisas!”
A historiadora frequentemente tomou posição para que as
mulheres ensinem nos seminários masculinos, de modo que os seminaristas
aprendam a realidade nas leituras profanas e que os formadores lhes proporcionem
“verdadeiros antídotos”, "respostas culturais", que lhes permitam
viver bem celibato.
"As mulheres eram consideradas um perigoso sexual! Mas,
vemos que esse ‘perigo’ são também os homens e as crianças...”, suspira.
"A vergonha é necessária"
Seu "feminismo" é diferente do de outras
feministas laicas: ela é contra o aborto, defende o celibato dos sacerdotes e
se opõe à ordenação de mulheres dizendo que elas têm outra vocação que não o
sacerdócio.
A jornalista afirma que Bento XVI é "muito solitário e
que tem um pontificado muito difícil, porque todos os problemas que estavam
ocultos, de repente explodiram... Problemas muito enraizados na Igreja nos
últimos 30 a 50 anos”.
"Ele tem a coragem de ver as coisas como são. Ele dá
vazão aos escândalos. Eles sempre estavam escondidos. No caso do Vatileaks
também, ele é firme, ele deixa as coisas saírem". "Muitas pessoas
pensam que é melhor esconder tudo. Ele disse que a Igreja não está protegida
pelo silêncio. Ele pensa que a vergonha é necessária para a purificação."
Para a historiadora, "as mulheres tiveram um lugar
muito importante no cristianismo, desde as suas origens." "É a
primeira religião em que houve paridade espiritual. Houve, na sequência,
mulheres santas e isso é revolucionário. As mulheres puderam não viver o seu
destino biológico, mas viver para Deus."
"Esta é a primeira religião que disse que a mulher têm
os mesmos direitos que os homens. A mulher foi capaz de pedir fidelidade ao seu
marido. Nos primeiros séculos, as mulheres representavam a maioria dos novos
cristãos convertidos", destaca Lucetta Scaraffia.
Fonte: Ihu
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