A afirmação de Paulo em Gálatas – "Não há mais
diferença entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus
Cristo" – deve ter parecido extraordinária para a sua audiência. Esqueça o
voto e o direito à educação: o mundo de Paulo era um mundo em que as meninas
eram rotineiramente abandonadas ao nascer, e as mulheres não podiam testemunhar
no tribunal. Mas se as palavras de Paulo inquietaram os seus ouvintes, o
comportamento das mulheres que traziam essas palavras em seu coração deve ter
sido verdadeiramente chocante.
A maioria das pessoas já ouviu falar dos Padres da Igreja,
mas as Mães da Igreja... essa é uma categoria de santos que ouvimos com menos
frequência.Em parte, isso se deve ao fato de que não muitas das mulheres
cristãs escreviam. No entanto, isso não deveria obscurecer a importante
contribuição que as mulheres deram à Igreja primitiva.
De fato, como inúmeros sociólogos e historiadores da Igreja
demonstraram, o cristianismo envolveu um reconhecimento revolucionário da
dignidade única das mulheres.
O livro de Mike Aquilina e Christopher Bailey, intitulado
Mothers of the Church: The Witness of Early Christian Women [Mães da Igreja: O
testemunho das primeiras cristãs] (Ed. OSV, 2012), vai além dos evangelhos para
descobrir a riqueza que as mulheres trouxeram para a Igreja primitiva. Os
autores criam esboços fascinantes de várias personagens cristãs primitivas.
Entre as mais memorável está Tecla, uma das primeiras discípulas de Paulo, que
cortou seu cabelo, se vestiu como um homem e fugiu de um pretendente rico, a
fim de ajudar a espalhar a Boa Nova. Depois que outro nobre fizera uma proposta
para ela, Tecla bateu nele e foi condenado a ser dilacerado pelas feras.
Felizmente, sua fé lhe permitiu amansar e domar os animais, e ela escapou ilesa.
Nem todas as vidas foram tão dramática como a de Tecla, mas,
como missionárias, mártires, escritoras e mestras, as mulheres participaram
completa e entusiasticamente da vida da Igreja primitiva. Este livro guia os
leitores ao longo dessa importante lição, lembrando-lhes que as mulheres
merecem ser lembradas e celebradas todos os meses do ano
Este é um livro tremendamente bom e preenche uma importante
lacuna – aqui temos um livro que se centra na influência de importantes
mulheres cristãs. Ele aborda diversas áreas fascinantes.
Primeiro, ele destaca o fato de que o cristianismo provocou
um reconhecimento revolucionário da dignidade das mulheres. Dito de forma mais
simples, filhas mulheres eram frequentemente descritas como um fardo. Uma
análise cuidadosa da sociedade greco-romana revela que muitas bebês meninas
eram simplesmente descartadas ao nascer, entregues à morte nos esgotos. Uma
antiga peça de correspondência envolve uma carta enviada por um homem, afastado
em uma viagem de negócios, à sua mulher em casa. A carta diz:
"Saiba que eu
ainda estou em Alexandria. E não se preocupe se todos voltarem e eu permanecer
em Alexandria. Eu peço e imploro que você cuide bem do nosso filho bebê, e
assim que eu receber o pagamento, vou enviá-lo para você. Se você der à luz uma
criança [antes de eu chegar em casa], se for um menino, fique com ele; se for
uma menina, descarte-a" – Carta de Hilarion à sua esposa grávida (1 a.C.)
[1].
Das mais de 600
famílias do século II registradas em Delphi, apenas 1% tinha criado duas
meninas [2]!
Por que essa aversão às mulheres? Mike Aquilina escreve:
"Mas quão bom
era ter uma menina? Se os pais tivessem sorte, sua filha poderia se casar com
um homem poderoso e fazer uma aliança útil para eles. Mais provavelmente, no
entanto, eles teriam que alimentar e cuidar dela durante 15 anos ou mais e
depois teriam que pagar a algum esbanjador inútil um dote ruinoso para tirá-la
das suas mãos. Não admira que um dos adjetivos favoritos para 'filhas' era
'odiosas'" (p.15).
Ele continua
explicando como as meninas resgatadas do infanticídio eram criadas
frequentemente para se tornarem meninas escravas sexuais e para trabalhar em
bordéis.
Em segundo lugar, Aquilina destaca como os cristãos
responderam a essa situação: eles salvavam as jovens de morte – e de uma vida
de escravidão sexual. Na época de Constantino, isso significava que uma parte
considerável da população romana era cristã.
Em terceiro lugar, Aquilina destaca a incrível contribuição
das cristãs primitivas, como Macrina – a mulher que um dos Padres da Igreja da
Capadócia descreveu como "a Mestra".
Ele também conta a história de santas como Felicidade e
Perpétua. As duas santas são mencionadas na Oração Eucarística Nº. 1 e,
portanto, provavelmente são familiares à maioria dos católicos – mas a maioria
não sabe muito sobre elas!
1. Citado
em Naphtali Lewis, Life in Egypt under Roman Rule. Oxford: Clarendon,
2. Susan
Scrimshaw, Infanticide in Human Populations: Societal and Individual Concerns.
In: Infanticide: Comparative and Evolutionary Perspectives (G. Hausfater e S.
Hardy; Piscataway, orgs.). Nova Jersey: Aldine Transaction, 2008, p.439.
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