sexta-feira, 13 de julho de 2012

''Mães'' da Igreja : as mulheres que moldaram a vida da Igreja primitiva


A afirmação de Paulo em Gálatas – "Não há mais diferença entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo" – deve ter parecido extraordinária para a sua audiência. Esqueça o voto e o direito à educação: o mundo de Paulo era um mundo em que as meninas eram rotineiramente abandonadas ao nascer, e as mulheres não podiam testemunhar no tribunal. Mas se as palavras de Paulo inquietaram os seus ouvintes, o comportamento das mulheres que traziam essas palavras em seu coração deve ter sido verdadeiramente chocante.

A maioria das pessoas já ouviu falar dos Padres da Igreja, mas as Mães da Igreja... essa é uma categoria de santos que ouvimos com menos frequência.Em parte, isso se deve ao fato de que não muitas das mulheres cristãs escreviam. No entanto, isso não deveria obscurecer a importante contribuição que as mulheres deram à Igreja primitiva.
De fato, como inúmeros sociólogos e historiadores da Igreja demonstraram, o cristianismo envolveu um reconhecimento revolucionário da dignidade única das mulheres.
O livro de Mike Aquilina e Christopher Bailey, intitulado Mothers of the Church: The Witness of Early Christian Women [Mães da Igreja: O testemunho das primeiras cristãs] (Ed. OSV, 2012), vai além dos evangelhos para descobrir a riqueza que as mulheres trouxeram para a Igreja primitiva. Os autores criam esboços fascinantes de várias personagens cristãs primitivas. Entre as mais memorável está Tecla, uma das primeiras discípulas de Paulo, que cortou seu cabelo, se vestiu como um homem e fugiu de um pretendente rico, a fim de ajudar a espalhar a Boa Nova. Depois que outro nobre fizera uma proposta para ela, Tecla bateu nele e foi condenado a ser dilacerado pelas feras. Felizmente, sua fé lhe permitiu amansar e domar os animais, e ela escapou ilesa.
Nem todas as vidas foram tão dramática como a de Tecla, mas, como missionárias, mártires, escritoras e mestras, as mulheres participaram completa e entusiasticamente da vida da Igreja primitiva. Este livro guia os leitores ao longo dessa importante lição, lembrando-lhes que as mulheres merecem ser lembradas e celebradas todos os meses do ano

Este é um livro tremendamente bom e preenche uma importante lacuna – aqui temos um livro que se centra na influência de importantes mulheres cristãs. Ele aborda diversas áreas fascinantes.
Primeiro, ele destaca o fato de que o cristianismo provocou um reconhecimento revolucionário da dignidade das mulheres. Dito de forma mais simples, filhas mulheres eram frequentemente descritas como um fardo. Uma análise cuidadosa da sociedade greco-romana revela que muitas bebês meninas eram simplesmente descartadas ao nascer, entregues à morte nos esgotos. Uma antiga peça de correspondência envolve uma carta enviada por um homem, afastado em uma viagem de negócios, à sua mulher em casa. A carta diz:
 "Saiba que eu ainda estou em Alexandria. E não se preocupe se todos voltarem e eu permanecer em Alexandria. Eu peço e imploro que você cuide bem do nosso filho bebê, e assim que eu receber o pagamento, vou enviá-lo para você. Se você der à luz uma criança [antes de eu chegar em casa], se for um menino, fique com ele; se for uma menina, descarte-a" – Carta de Hilarion à sua esposa grávida (1 a.C.) [1].
 Das mais de 600 famílias do século II registradas em Delphi, apenas 1% tinha criado duas meninas [2]!
Por que essa aversão às mulheres? Mike Aquilina escreve:
 "Mas quão bom era ter uma menina? Se os pais tivessem sorte, sua filha poderia se casar com um homem poderoso e fazer uma aliança útil para eles. Mais provavelmente, no entanto, eles teriam que alimentar e cuidar dela durante 15 anos ou mais e depois teriam que pagar a algum esbanjador inútil um dote ruinoso para tirá-la das suas mãos. Não admira que um dos adjetivos favoritos para 'filhas' era 'odiosas'" (p.15).
 Ele continua explicando como as meninas resgatadas do infanticídio eram criadas frequentemente para se tornarem meninas escravas sexuais e para trabalhar em bordéis.
Em segundo lugar, Aquilina destaca como os cristãos responderam a essa situação: eles salvavam as jovens de morte – e de uma vida de escravidão sexual. Na época de Constantino, isso significava que uma parte considerável da população romana era cristã.
Em terceiro lugar, Aquilina destaca a incrível contribuição das cristãs primitivas, como Macrina – a mulher que um dos Padres da Igreja da Capadócia descreveu como "a Mestra".
Ele também conta a história de santas como Felicidade e Perpétua. As duas santas são mencionadas na Oração Eucarística Nº. 1 e, portanto, provavelmente são familiares à maioria dos católicos – mas a maioria não sabe muito sobre elas!
 Notas:
1. Citado em Naphtali Lewis, Life in Egypt under Roman Rule. Oxford: Clarendon,
2. Susan Scrimshaw, Infanticide in Human Populations: Societal and Individual Concerns. In: Infanticide: Comparative and Evolutionary Perspectives (G. Hausfater e S. Hardy; Piscataway, orgs.). Nova Jersey: Aldine Transaction, 2008, p.439.

 Fonte: Ihu

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