A dona de uma agência de modelos de São José do Rio Preto
(SP) está sendo investigada por tráfico de pessoas. A modelo rio-pretense Ludmila Verri, 21 anos, depôs ontem à
CPI do Tráfico de Pessoas, na Câmara dos Deputados, em Brasília, e disse ter
sido explorada nos 40 dias em que permaneceu na Índia, em 2010. A jovem e a
irmã L., na época com 15 anos, foram enviadas a Mumbai pela agência de modelos
Raquel Management, de Rio Preto, investigada pela Polícia Federal por tráfico
internacional de pessoas. “Ao que tudo indica, são agências de fachada, que traficam
seres humanos do Brasil para todo tipo de finalidade”, disse ontem o deputado
federal Arnaldo Jody (PPS-PA), presidente da CPI.
Ludmila e o pai, Damião
Verri, foram convocados a depor a partir da divulgação pela imprensa, inclusive
o Diário, de ação cível do Ministério Público Federal (MPF) contra a empresa.
A proposta de Raquel Felipe, segundo o pai, era que ambas
fizessem trabalhos publicitários na Índia durante seis meses. As duas
desembarcaram na cidade em 12 de novembro, e foram levadas pelo agente de
modelos Vivek Singh até um prédio que, segundo a polícia local, é conhecido
ponto de prostituição na cidade. No apartamento, já havia uma brasileira,
contratada pela Dom Agency Model’s, de Passos (MG).
As condições de trabalho e moradia, segundo o depoimento de
Ludmila, que durou uma hora e meia, eram análogas à de escravidão. O
apartamento era mobiliado, mas sem água e sujo. A modelo disse ainda que
trabalhou muito e mal teve tempo para comer. Metade do dinheiro recebido por
ela e pela irmã - cerca de US$ 6 mil - foi usado para pagar dívidas de viagem.
O indiano, segundo ela, era alcoólatra e, muitas vezes, descontrolado. “Ele já
ergueu a mão para me bater.”
Acionado pelo pai no Brasil, o Consulado brasileiro na Índia
resgatou a jovem em 22 de dezembro de 2010. “Eu não tinha noção de que poderia
ser uma farsa, uma fantasia. A gente vai com a consciência de que podem
acontecer coisas, mas não pensa que pode de fato”, disse Ludmila à comissão,
conforma informou ontem a Agência Câmara. “Se elas não fossem resgatadas, não
tenho dúvidas de que seriam encaminhadas para prostituição”, disse ontem o
deputado Jordy.
Damião confirmou a versão da filha, e criticou a agenciadora
de Rio Preto, ainda de acordo com a transcrição da Agência: “A Raquel havia
dito que daria assistência pessoalmente às meninas se acontecesse alguma coisa.
No fim, ela não fez nada, só empurrou com a barriga e propôs tirar as meninas
de lá fugidas. Eu, como pai, fui ao fundo do poço. Minha mulher tem pressão
alta e diabetes. Imagina a situação”?, disse. Procurado ontem, ele não foi
localizado.
Raquel Felipe deverá ser ouvida pela CPI em agosto, segundo
o presidente da comissão. Ela chegou a ser intimada em junho, mas apresentou
atestado médico de gravidez. “Logo após ouvi-la, vamos nos reunir e decidir se
iremos indiciá-la”, disse Jordy, sem informar o possível crime contra a
agenciadora. Os trabalhos da CPI, que investiga o tráfico de brasileiros dentro
e fora do País, seguem até outubro deste ano. O relatório final será
encaminhado ao Ministério Público.
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