Na “parábola do filho pródigo”
fala-se também do filho mais velho.
Nunca partiu de casa, mas seu coração esteve sempre afastado. Sabe cumprir
mandamentos, mas não sabe amar. ...Envolvidos na crise religiosa da sociedade
moderna, habituamo-nos a falar de crentes e de descrentes, de praticantes e de
afastados, de matrimônios abençoados pela Igreja e de casais em situação
irregular... Enquanto nós continuamos a classificar Seus filhos, Deus continua
à espera de todos, pois não é propriedade dos bons nem dos praticantes. É Pai
de todos.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 15,1-3.11-32 que corresponde
ao 4° Domingo de Quaresma, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto. Eis o texto
Sem dúvida, a parábola mais
cativante de Jesus é a do “pai bom”, mal denominada de “parábola do filho
pródigo”. Precisamente este “filho mais novo” atraiu sempre a atenção de
comentadores e pregadores. O seu regresso ao lar e a acolhida incrível do pai
comoveram todas as gerações cristãs.
No entanto, a parábola fala
também do “filho mais velho”, um homem que permanece junto ao seu pai, sem
imitar a vida desordenada do seu irmão, longe do lar. Quando o informam da
festa organizada pelo seu pai para acolher o filho perdido, fica desconcertado.
O retorno do irmão não lhe produz alegria, como ao seu pai, mas sim raiva:
“ficou com raiva, e não queria entrar” na festa. Nunca tinha saído de casa, mas
agora se sente como um estranho entre os seus.
O pai sai a convidá-lo com o
mesmo carinho com que acolheu o seu irmão. Não lhe grita nem lhe dá ordens. Com
amor humilde “insiste com ele” para que entre na festa de acolhimento. É então
quando o filho explode deixando a descoberto todo o seu ressentimento. Passou
toda a sua vida cumprindo as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele
ama. Agora só sabe exigir os seus direitos e denegrir o seu irmão.
Esta é a tragédia do filho mais
velho. Nunca partiu de casa, mas seu coração esteve sempre afastado. Sabe
cumprir mandamentos, mas não sabe amar. Não entende o amor do seu pai por
aquele filho perdido. Ele não acolhe nem perdoa, não quer nada com o seu irmão.
Jesus termina Sua parábola sem satisfazer a nossa curiosidade: entrou na festa
ou ficou fora?
Envolvidos na crise religiosa da
sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e de descrentes, de
praticantes e de afastados, de matrimônios abençoados pela Igreja e de casais
em situação irregular... Enquanto nós continuamos a classificar Seus filhos,
Deus continua à espera de todos, pois não é propriedade dos bons nem dos
praticantes. É Pai de todos.
O “filho mais velho” é uma
interpelação para quem acredita viver junto Dele. Que fazemos os que não
abandonamos a igreja? Assegurar a sobrevivência religiosa observando o melhor
possível o que está prescrito, ou ser testemunhas do amor grande de Deus a
todos Seus filhos e filhas? Estamos construindo comunidades abertas que sabem
compreender, acolher e acompanhar a quem procura Deus entre dúvidas e interrogações?
Levantamos barreiras ou estendemos pontes? Oferecemos amizade ou olhamos com
receio?
Fonte: Ihu
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