A antropóloga Irailde Caldas, alerta sobre o
tráfico de mulheres na Amazônia e fala das vertentes sobre como ele se dá
Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Amazonas (Sejus), houve um crescimento de 106,2%, no número de denúncias de tráfico de pessoas, no Amazonas, entre os anos de 2011 e 2013, e as mulheres representaram 66,6% das vítimas.
No Dia
Internacional da Mulher, o programa Amazônia Brasileira trouxe um assunto
importante e muito sério que afeta muitas mulheres no mundo, no Brasil e na
Amazônia: o tráfico de mulheres.
Em entrevista ao Amazônia
Brasileira desta terça-feira (8), a doutora em Ciências Sociais e Antropologia,
professora de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e uma das
escritoras da obra “Tráfico de Mulheres na Amazônia”, Iraildes Caldas, falou
sobre o tráfico de mulheres na Amazônia.
A professora fala sobre a
construção histórica da imagem menosprezada da mulher amazônida: “Estamos
diante de um tema que é aqui na Amazônia, muito caro para nós que estamos a
frente dessa luta. Eu estou durante quase três décadas fazendo estudos na área
de fronteira e na área indígena com mulheres e as minhas pesquisas tem
demonstrado que cresceu o número de tráfico de mulheres, especialmente, na
Amazônia pela discriminação de gênero, que é o aspecto étnico”, comenta.
Ela esclarece que as mulheres
amazônicas são tidas, no imaginário europeu e no imaginário brasileiro, como
uma mulher exótica, bela e lasciva. A escritora explica que foi construída,
historicamente, uma imagem depreciativa dessa mulher.
Segundo Iraildes Caldas, acredita
que o exotismo em relação as mulheres que está no imaginário das pessoas, que
introduzem as mulheres amazônidas no tráfico de mulheres: “são moças que são
pobres, algumas indígenas, outras de classe média, que estão fazendo universidade,
então a questão do tráfico não é uma questão de pobreza, é uma questão do
patriarcado mundial. No nosso caso, a questão indígena e étnica vem se
posicionar dentro desse patriarcado. Aqui, nós temos uma ideia de que do século
XVIII para cá, se construiu uma imagem da índia que se oferece”, conta.
Outra questão que se aloja com
esta, contada por Iraildes Caldas, é que, a partir do século IX, começaram a
acontecer doações de moças, para as famílias abastadas de Manaus: “famílias iam
para o interior, até a área ribeirinha, conversavam com a família da moça, se
tornavam padrinhos e madrinhas ao fazerem a passagem pela fogueira, um costume
da região, e levavam as moças para a cidade,com o propósito de que ela teria
uma vida melhor na cidade grande. Na verdade, essa moça seria explorada, tanto
do ponto de vista servil quanto do ponto de vista sexual”, diz.
A professora explica que na
Amazônia, essa ideia étnica, da índia lasciva, faz com que a sociedade,
enxergue o tráfico como uma coisa natural.
De acordo com Iraildes Caldas,
existe uma rede sofisticada de tráfico humano, com pessoas importante. “Aqui
nós conseguimos denunciar e fazer com que a Justiça levasse a prisão um
prefeito que fazia abuso sexual de meninas, conforme a idade”, comenta.
“Descobrimos vertentes, em três
cidades, que promovem, abertamente, dentro de barcos, orgias sexuais com
meninas. As pessoas que estão nela são pessoas que vem de fora, havendo uma
proliferação desse tipo de negócio e de uma forma fácil”, conta.
A escritora comenta sobre a
tríplice fronteira, Brasil, Peru e Colômbia: “Acabei de voltar da tríplice
fronteira e lá temos uma rede de enfrentamento com organismos da sociedade.
Detectamos o rapto de índias e nada acontece”, explica.
Iraildes Caldas relata a
dificuldade de se sair desse mundo, geralmente as moças precisam fugir:
“Resgatamos uma moça, que foi vendida pelo avô. Ela estava na Itália e
conseguiu fugir do tráfico. Temos casos onde moças são ajudadas por clientes
dos bordéis. E geralmente, não saem com facilidade, precisam fugir. Quando
chegam ao Brasil e procuram os serviços de saúde, normalmente, são encaminhadas
para os serviços de proteção, só assim, conseguimos fazer um trabalho de
atendimento psicológico”, comenta.
A dica que a professora dá, de
acordo com uma política de enfrentamento ao tráfico de mulheres, para que isso
seja visualizado pela sociedade, é que as pessoas denunciem o tráfico humano.
” É uma questão que ninguém quer
se comprometer, uma pesquisa e uma investigação nesse assunto, envolve um risco
físico para o pesquisador. ”, explica.
Ouça a entrevista na íntegra no
player (Baixar áudio)e saiba mais sobre o tráfico de mulheres na Amazônia.
A apresentação é de Sula Sevillis
e a produção-executiva, de Taiana Borges.
Fonte: Rádio Nacional da Amazônia
/ Amazônia Brasileira
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