“Nosso feminismo se inspira nas guerreiras
africanas. Levantar a cabeça é necessário, negras e pretas revolucionárias”. Os
versos de rap cantados pela ativista Larissa Borges embalaram o dia 25 a
discussão sobre a primeira Marcha de Mulheres Negras, marcada para o dia 18 de
novembro, em Brasília. Reunidas na 8ª edição do Festival Latinidades, cerca de
50 mulheres trocaram experiências sobre a identidade negra feminina e as
principais demandas desse público, que serão apresentadas na marcha.
“O Movimento de Mulheres Negras,
a partir da marcha, inaugura um novo processo de empoderamento e uma nova etapa
na agenda política das mulheres negras no Brasil e na América Latina”, avaliou
Larissa, que é diretora de programas de Ações Afirmativas da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
A ampliação do protagonismo das
mulheres negras, que estão presentes em diversos movimentos sociais, também foi
destacada pela historiadora Gisele dos Anjos Santos, uma das organizadoras da
mobilização em São Paulo. “As mulheres negras estão em todos os movimentos
sociais, a grande questão é saber a posição que essas mulheres ocupam. Na
marcha, vamos estar à frente da construção de todo o processo e vamos sentar à
mesa para discutir e negociar o que nos implica diretamente e está relacionado
a nossa possibilidade de sobreviver nesse país”, apontou.
Entre as questões que serão
levadas à marcha, estão temas como visibilidade e identidade das mulheres
negras. “Ainda temos meninas que não têm coragem de sair na rua com turbante na
cabeça, têm medo do que vão dizer delas”, lembrou a professora e rapper Vera
Verônica. “Vamos marchar pelas nossas crianças, pelos nossos filhos, pelas
mulheres que ainda não nasceram e pelas que morreram por nós, vamos juntas.”
Emocionada, a estudante Gabriela
Nascimento deu um depoimento sobre as contradições vividas por ela sendo negra
em uma escola de classe média de maioria branca e disse que mobilizações como a
da marcha dão voz às mulheres negras e garantem espaço de reconhecimento de
identidades e afirmação da beleza e da cultura negras.
“Marchar vai significar um
momento em que vou resistir ao cotidiano. Vou marchar para que as pessoas
possam se reconhecer como negras, não queiram se embranquecer”.
“Vou marchar para que as pessoas possam se
reconhecer como negras, não queiram se embranquecer”, disse a estudante
Gabriela Nascimento (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
A violência de gênero, o racismo
institucional e o genocídio da juventude negra também integram a agenda das
mulheres negras e foram lembrados no debate deste sábado. “Por que vou marchar?
Porque tenho três filhos e dois netos homens, e como outras mães, quero dar um
basta ao genocídio dos brasileiros negros. Vivemos com medo de saber que, a
qualquer momento, um dos nossos pode ser vítima, pode ser morto pela polícia.
Venham para a marcha em nome da juventude negra”, defendeu Maria Luiza Junior,
professora e militante do movimento negro em Brasília.
A marcha vai ocupar a Esplanada
dos Ministérios no dia 18 de novembro, dois dias antes do Dia Nacional da
Consciência Negra. Segundo Gisele dos Anjos Santos, uma das organizadoras, a
data foi escolhida para não esvaziar as mobilizações estaduais e municipais do
movimento negro no dia 20 de novembro. A organização ainda não tem estimativa
do número de participantes da caminhada, mas está levantando informações com
movimentos de mulheres negras de todo o país para trazer o maior número de ativistas
a Brasília.
Fonte: Agência Brasil
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