Binoche interpreta Anne, uma jornalista de classe média alta, da revista "Elle". Com um perfil família, ela, que é casada com um executivo, Patrick (Louis-Do de Lencquesaing) e mãe de dois filhos, empenha-se em escrever uma ampla reportagem sobre universitárias que trabalham como garotas de programa.
Não raro, a atriz francesa Juliette Binoche dá asas a
projetos que, sem ela, jamais decolariam. É o caso de "Elles", uma
coprodução entre França, Polônia e Alemanha, dirigida pela polonesa Malgorzata
Szumowska. O filme estreia no Rio e está em pré-estreia em São Paulo.
Não há um ponto de partida lá muito original. Binoche
interpreta Anne, uma jornalista de classe média alta, da revista
"Elle". Com um perfil família, ela, que é casada com um executivo,
Patrick (Louis-Do de Lencquesaing) e mãe de dois filhos, empenha-se em escrever
uma ampla reportagem sobre universitárias que trabalham como garotas de
programa.
Duas personagem dominam a matéria escrita por Anne - a jovem
Alicja (Joanna Kulig), desinibida e sem culpa diante da alta renda que lhe
proporciona a atividade clandestina, que ela esconde da mãe na Polônia. Outra é
Charlotte (Anaïs Demoustier, de "As Neves do Kilimanjaro"), que
disfarça sua verdadeira profissão com um emprego de meio-período no comércio,
para enganar o namorado e os pais.
O eixo do roteiro, escrito a quatro mãos pela diretora e
Tine Byrckel, é o choque de valores entre a jornalista e as prostitutas -
embora, em nenhum momento, o filme se proponha a uma cruzada moral.
De todo modo, é possível perceber falta de sutileza na
maneira como a diretora conduz este contraste, reduzindo a clichês as
tentativas de Alicja para escandalizar a refinada Anne sobre as ousadias que
ela relata viver com seus clientes, enquanto tenta embebedar sua interlocutora.
Charlotte parece uma personagem mais verdadeira, que expõe
com mais sinceridade as contradições de sua situação, que se tornam palpáveis
na tela, como suas revelações sobre um desastroso encontro com um cliente
sádico (Andrzej Chyra) e seus almoços com os pais carinhosos e normais (Valérie
Dreville e Jean-Louis Coullo'ch) - desmontando um outro clichê sobre a
prostituta que viria, necessariamente, de um meio familiar problemático.
O aspecto em que o filme se revela mais frágil é quando
tenta retratar o conflito que se insinua entre Anne e o marido, que tem uma
história anterior à sua reportagem com as prostitutas mas se acirra justamente
devido ao teor de intimidade das conversas da jornalista com elas - que a fazem
entrar em contato mais profundo com sua insatisfação emocional.
A diretora perde uma grande oportunidade de tirar melhor
proveito de uma intérprete do quilate de Juliette Binoche e investigar, com
mais grandeza, um tema que toca de perto a condição feminina.
Fonte: Neusa Barbosa
em Cineweb
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