Os leitores vão obter inspiração sobre por que as imagens masculinas de Deus permanecem dominantes, por que as mulheres são associadas com o pecado, e por que a noção de sacerdotisas ainda desperta um sentimento tão negativo. Muitos vão ficar satisfeitos com a conclusão de DeConick de que a distorção e o apagamento do feminino na história cristã "é o resultado da antiga misoginia tornada em decreto divino".
A análise é de Jamie L Manson, mestre em teologia católica e
ética sexual pela Yale Divinity School, em artigo publicado no sítio do jornal
National Catholic Reporter, 11-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Embora DeConick seja uma estudiosa, e este livro, fruto de sua formação, a sua escrita é extremamente acessível para públicos leigos, e até mesmo muito bem-humorado. Holy Misogyny é um recurso inestimável para aqueles que buscam encontrar as raízes históricas da permanente luta pela igualdade das mulheres na tradição cristã.
Se o texto de DeConick traça as raízes da santa misoginia, o livro Feminist Mysticism and Images of God [Mística Feminista e Imagens de Deus], de Jennie S. Knight, apresenta um quadro completo das suas repercussões. Knight apresenta o seu estudo sobre a importância das imagens femininas do divino para a expansão da fé e da espiritualidade, desenvolvendo uma autoimagem holística e aprofundando a intimidade da relação pessoal com Deus.
O cerne do livro de Knight está em seu estudo sobre as mulheres da comunidade Mary and Martha’s Place, com sede em Atlanta, um "centro sem fins lucrativos extraeclesial dedicado à espiritualidade das mulheres e ao estudo teológico feminista". Tecidas por todo o livro estão entrevistas com quatro mulheres pertencentes ao centro. Os leitores poderão se ver representados nesses membros, as quais Knight descreve como mulheres que estão "em uma busca espiritual", que "não se alimentam pelo entorno paroquial tradicional".
Knight inclui essas narrativas pessoais porque, embora haja uma literatura abundante sobre a reimaginação do divino a partir das perspectivas feminista, womanista, mujerista e negra, tem se dado pouca atenção à "experiência vivida dos indivíduos em sua interação com imagens particulares em seus contextos culturais".
Knight acredita que o cristianismo está em um estado de crise em termos de aprofundamento das necessidades das mulheres e, por extensão, dos homens. O objetivo do livro de Knight ressoa profundamente junto àqueles que se sentem feridos pela repressão do Vaticano contra a LCWR. Ela escreve: "Eu espero que as lideranças da Igreja e também os estudiosos prestem atenção às comunidades como a Mary and Martha’s Place como exemplos de uma paixão e de uma necessidade de crescimento espiritual em nossa cultura, e não como organizações extraeclesiais aberrantes".
Embora a abordagem de Knight a esse assunto seja acadêmica e, às vezes, pesado com ideias e referências acadêmicas, suas entrevistas com as quatro mulheres fazem um bom trabalho para exemplificar as muitas intuições do livro. Feminist Mysticism and Images of God é uma leitura essencial para os interessados pelo impacto que as imagens de Deus têm sobre a vitalidade e o futuro das comunidades eclesiais.
Em Mothers, Sisters, Daughters: Standing on Their Shoulders [Mães, Irmãs, Filhas: Sobre os Seus Ombros], Edwina Gateley e Sandra Mattucci celebram as vidas de 22 mulheres que "trouxe algumas luzes para o mundo". Cada mulher é introduzida através de uma breve biografia e de um poema em verso livre estendido.
Embora as autoras não deixem claro quem atua como biógrafa e quem é a poetisa, os seguidores das gravações e dos livros de Gateley irão reconhecer a sua voz na poesia. Os versos ajudam a dar corpo a cada uma dessas grandes figuras e nos colocam em um contato mais profundo com as suas paixões, medos e anseios.
A seleção das mulheres é maravilhosa: intergeracional, racial e etnicamente diversa e profundamente ecumênica. Gateley e Mattucci trazem à tona grandes figuras da Bíblia e da história, assim como ativistas pela justiça, místicas e ambientalistas contemporâneas. Os leitores irão desfrutar a revisita à vida de ícones imponentes como Hildegard de Bingen e Madre Teresa, e serão apresentados a profetisas do século XXI como a irmã de Notre Dame de Namur Dorothy Stang e Wangari Muta Maathai. Também é uma agradável surpresa encontrar Emily Dickinson e Rachel Carson nessa mistura.
Mothers, Sisters, Daughters é de leitura fácil, mas os exemplos dados pelas mulheres perfiladas irão desafiar os leitores no próprio âmago das suas vidas. Gateley e Mattucci deram uma grande contribuição ao ampliar a nossa compreensão da comunhão dos santos. É um excelente recurso para os pregadores de retiros e também é um maravilhoso presente de confirmação ou de formatura.
Embora as autoras explorem os tópicos das mulheres, de Deus e da Igreja a partir de ângulos muito diferentes, cada texto dá uma importante contribuição para a nossa compreensão das formas pelas quais o espírito de Deus se moveu por entre as mulheres na história. DeConick procura reinscrever a memória e os dons das mulheres no cristianismo da antiguidade; Knight demonstra o poder transformador das imagens femininas de Deus; e Gateley e Mattucci elevam heroínas espirituais femininas com profundas conexões com o divino.
Embora cada autora tenha a sua própria abordagem, elas compartilham uma esperança comum de que as mulheres deixem de ser entendidas como uma ameaça à tradição cristã e, ao contrário, sejam honradas pelo seu contínuo papel para animá-la.
Fonte: Ihu
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