quarta-feira, 18 de julho de 2012

Banalização da sexualidade: Chester Brown retrata em gibi sua decisão de se relacionar apenas com prostitutas



O sexo banalizou-se, sendo tratado pela sociedade como um produto a ser consumido.  Sem espaço para o fascínio, a ternura, a comunicação, o  cuidado, as pessoas se convertem em mercadorias. Vejam a seguinte noticia :
"O amor romântico? Não existe. Pagar por sexo é melhor". O livro “Pagando por sexo” de Chester Brown foi lançado em 2011 e editado no Brasil este ano pela WMF Martins Fontes. Realizado e emocionalmente impassível, Chester Brown, um dos monstros sagrados da HQ moderna, se revela em um relato cheio de detalhes, provocativo e irreverente da sua experiência com prostitutas.

No final dos anos 1990, Chester Brown, 52, é puxado por duas forças concorrentes: o desejo de fazer sexo com frequência e a repulsa à ideia de ter uma namorada. Puxa de um lado, puxa do outro, e o quadrinista canadense percebe que há uma solução para o impasse caso ele pague o preço --em dinheiro. Brown passou, a partir de então, a se relacionar apenas com garotas de programa.
 "Percebi que não gostava de estar envolvido em relacionamentos românticos", conta à Folha o quadrinista. "Parece que você é dono da outra pessoa, e isso me deixava desconfortável."
A história dessa escolha é relatada no gibi "Pagando por Sexo", lançado no ano passado e editado agora no Brasil pela WMF Martins Fontes.
 Está na HQ o relato de seus encontros com as prostitutas. A ejaculação precoce que teve com Carla, o vazio que sentiu depois de transar com Anne e o sexo desconfortável que fez com Susan.
 As experiências são relatadas em detalhes. De Yvette, por exemplo, pensa: "Antipática, meio feinha, sem sexo oral... Nada de gorjeta".
 A honestidade é uma das marcas da produção de Brown, um dos mais premiados quadrinistas do Canadá.
 Ele é expoente de uma vertente canadense voltada à autobiografia, da qual "Pagando por Sexo" é exemplar.
 Os artistas Joe Matt e Seth, que são retratados no gibi, fazem parte desse grupo. Ao lado de Brown, são chamados de os "três mosqueteiros dos quadrinhos alternativos".
 "Se eu tivesse transformado a história em ficção, estaria me distanciando, dizendo que transar com prostitutas é algo que eu não faria", diz.
 "Eu quis mostrar o quanto essa questão é importante para mim", afirma o artista.
 Assumir-se como personagem e desenhar pessoas reais no gibi teve, porém, o preço do constrangimento.
Brown conta, por exemplo, que ficou nervoso na hora de mostrar o gibi para quem aparecia nele. "Mas parece que todos gostaram."
 MILITÂNCIA
Depois de começar a pagar por sexo, Brown tornou-se um militante da descriminalização da prostituição --no Canadá, prostitutas não podem, por lei, receber os clientes em suas próprias casas.
 Para animar a discussão, o gibi traz no apêndice uma sugestão de bibliografia e alguns tópicos para debate.
O quadrinista foi além do gibi, candidatando-se duas vezes ao Parlamento pelo Partido Libertário do Canadá, do qual tornou-se membro.
 "Esse é o único partido que apoia a descriminalização", afirma, notando que "o governo não deveria regular nenhum tipo de relação sexual, envolvendo ou não dinheiro".
 OPCIONAL
"Pagando por Sexo" é resultado de uma série de escolhas do artista canadense.
Mesmo a disposição dos quadrinhos é intencional. A grade fixa de oito cenas por página, incomum, foi um teste de diagramação. "Queria testar o formato", diz Brown.
 Assim como foi uma opção dedicar-se exclusivamente às relações sexuais pagas.
O gibi retrata diversos dos embates de Brown sobre o tema com seus amigos próximos. Em muitos momentos o quadrinista é criticado, ridicularizado e contestado.
 "Eles hoje reconhecem que o que eu faço funciona para mim, mesmo que não concordem com o ponto de vista."
 "Amar não é comprometer-se num relacionamento de longo prazo sem transar com outras pessoas", afirma.
 Brown mantém, há nove anos, uma relação com a mesma garota de programa.
"É uma situação muito feliz", afirma o quadrinista. "Ainda estou pagando --sei que ela não faria sexo comigo se eu não a pagasse."




Pagando por Sexo é um relato pessoal íntimo e honesto do quadrinista canadense Chester Brown, que, depois de ser dispensado pela namorada, deseja sexo, mas não quer se envolver romanticamente com ninguém. A solução foi sair com prostitutas. Ao longo do livro, o autor descreve com seus desenhos objetivos as várias experiências que teve e defende a superioridade desse tipo de relação sobre a tradicional relação homem/mulher, que ele classifica de “monogamia possessiva”.
Nos 33 capítulos do livro, Brown narra suas experiências com cada uma das 23 prostitutas com quem saiu (uma delas, aliás, ele identificou com dois nomes diferentes). Ele dá detalhes das características físicas e do desempenho sexual de cada uma (embora nada que possa comprometer o anonimato delas) e acaba se tornando um expert no assunto, aprendendo como chamar uma prostituta, quanto dar de gorjeta, quais jargões da área etc.

Fonte: Folha de São Paulo

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