O sexo banalizou-se, sendo tratado pela sociedade
como um produto a ser consumido. Sem espaço para o fascínio, a ternura, a comunicação, o cuidado, as pessoas se convertem em mercadorias. Vejam a seguinte noticia :
"O amor romântico? Não existe. Pagar por sexo é melhor".
O livro “Pagando por sexo” de Chester Brown foi lançado em
2011 e editado no Brasil este ano pela WMF Martins Fontes. Realizado e emocionalmente impassível, Chester Brown, um dos monstros sagrados
da HQ moderna, se revela em um relato cheio de detalhes, provocativo e
irreverente da sua experiência com prostitutas.
No final dos anos 1990, Chester Brown, 52, é puxado por duas
forças concorrentes: o desejo de fazer sexo com frequência e a repulsa à ideia
de ter uma namorada. Puxa de um lado, puxa do outro, e o quadrinista canadense
percebe que há uma solução para o impasse caso ele pague o preço --em dinheiro.
Brown passou, a partir de então, a se relacionar apenas com garotas de
programa.
"Percebi que não
gostava de estar envolvido em relacionamentos românticos", conta à Folha o
quadrinista. "Parece que você é dono da outra pessoa, e isso me deixava
desconfortável."
A história dessa escolha é relatada no gibi "Pagando
por Sexo", lançado no ano passado e editado agora no Brasil pela WMF
Martins Fontes.
Está na HQ o relato
de seus encontros com as prostitutas. A ejaculação precoce que teve com Carla,
o vazio que sentiu depois de transar com Anne e o sexo desconfortável que fez
com Susan.
As experiências são
relatadas em detalhes. De Yvette, por exemplo, pensa: "Antipática, meio
feinha, sem sexo oral... Nada de gorjeta".
A honestidade é uma
das marcas da produção de Brown, um dos mais premiados quadrinistas do Canadá.
Ele é expoente de uma
vertente canadense voltada à autobiografia, da qual "Pagando por
Sexo" é exemplar.
Os artistas Joe Matt
e Seth, que são retratados no gibi, fazem parte desse grupo. Ao lado de Brown,
são chamados de os "três mosqueteiros dos quadrinhos alternativos".
"Se eu tivesse
transformado a história em ficção, estaria me distanciando, dizendo que transar
com prostitutas é algo que eu não faria", diz.
"Eu quis mostrar
o quanto essa questão é importante para mim", afirma o artista.
Assumir-se como
personagem e desenhar pessoas reais no gibi teve, porém, o preço do
constrangimento.
Brown conta, por exemplo, que ficou nervoso na hora de
mostrar o gibi para quem aparecia nele. "Mas parece que todos
gostaram."
MILITÂNCIA
Depois de começar a pagar por sexo, Brown tornou-se um
militante da descriminalização da prostituição --no Canadá, prostitutas não
podem, por lei, receber os clientes em suas próprias casas.
Para animar a
discussão, o gibi traz no apêndice uma sugestão de bibliografia e alguns
tópicos para debate.
O quadrinista foi além do gibi, candidatando-se duas vezes
ao Parlamento pelo Partido Libertário do Canadá, do qual tornou-se membro.
"Esse é o único
partido que apoia a descriminalização", afirma, notando que "o
governo não deveria regular nenhum tipo de relação sexual, envolvendo ou não
dinheiro".
OPCIONAL
"Pagando por Sexo" é resultado de uma série de
escolhas do artista canadense.
Mesmo a disposição dos quadrinhos é intencional. A grade
fixa de oito cenas por página, incomum, foi um teste de diagramação.
"Queria testar o formato", diz Brown.
Assim como foi uma
opção dedicar-se exclusivamente às relações sexuais pagas.
O gibi retrata diversos dos embates de Brown sobre o tema
com seus amigos próximos. Em muitos momentos o quadrinista é criticado,
ridicularizado e contestado.
"Eles hoje
reconhecem que o que eu faço funciona para mim, mesmo que não concordem com o
ponto de vista."
"Amar não é
comprometer-se num relacionamento de longo prazo sem transar com outras
pessoas", afirma.
Brown mantém, há nove
anos, uma relação com a mesma garota de programa.
"É uma situação muito feliz", afirma o
quadrinista. "Ainda estou pagando --sei que ela não faria sexo comigo se
eu não a pagasse."
Pagando por Sexo é um relato pessoal íntimo e honesto do
quadrinista canadense Chester Brown, que, depois de ser dispensado pela
namorada, deseja sexo, mas não quer se envolver romanticamente com ninguém. A
solução foi sair com prostitutas. Ao longo do livro, o autor descreve com seus
desenhos objetivos as várias experiências que teve e defende a superioridade
desse tipo de relação sobre a tradicional relação homem/mulher, que ele
classifica de “monogamia possessiva”.
Nos 33 capítulos do livro, Brown narra suas experiências com
cada uma das 23 prostitutas com quem saiu (uma delas, aliás, ele identificou
com dois nomes diferentes). Ele dá detalhes das características físicas e do
desempenho sexual de cada uma (embora nada que possa comprometer o anonimato
delas) e acaba se tornando um expert no assunto, aprendendo como chamar uma
prostituta, quanto dar de gorjeta, quais jargões da área etc.
Fonte: Folha de São Paulo
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