Relatório da dinamarquesa
DanWatch revela condições irregulares em lavouras brasileiras que suprem
demanda de grandes empresas multinacionais do setor.
A Nestlé e a Jacobs Douwe
Egberts, duas das maiores empresas do ramo cafeeiro no mundo, admitiram à
organização não-governamental DanWatch, sediada na Dinamarca, que possivelmente
importam grãos de café produzidos em lavouras brasileiras flagradas por
utilizar mão-de-obra escrava.
As constatações aparecem no
relatório intitulado Café Amargo, publicado na última quinta-feira (3). Nele,
as empresas, que juntas representam uma fatia de 40% do mercado global, afirmam
que não compram diretamente de fazendas que estão na lista suja do trabalho
escravo, mas revelam que não conhecem seus fornecedores intermediários ou se as
fazendas foram notificadas por usar trabalho escravo.
A Nestlé, inclusive, admitiu ter
negociado com duas fazendas onde o Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE)
resgatou trabalhadores em condições análogas à escravidão em julho do ano
passado, sendo dois deles adolescentes de 14 e 15 anos.
As condutas contrariam os códigos
de ética de ambas as empresas.
Ao jornal inglês The Guardian, a
Nestlé afirmou que "não tolera violações aos direitos trabalhistas",
mas que o trabalho escravo é um problema "endêmico" do Brasil.
Segundo a multinacional suíça, "nenhuma empresa que importa café ou outro
produto do país poderia garantir que não existem práticas de trabalho escravo
ou violações de direitos humanos em sua cadeia produtiva". A Jacobs Douwe
Egberts disse, por sua vez, que havia notificado seus intermediários a não
negociar com fornecedores que abertamente violem leis trabalhistas.
O documento da DanWatch, dividido
em 17 capítulos a partir de uma investigação de sete meses em Minas Gerais,
constata que as violações aos direitos humanos ainda ocorrem
indiscriminadamente na indústria cafeeira, com centenas de trabalhadores
resgatados de condições análogas à escravidão a cada ano, além de uso de
trabalho infantil.
"Isso significa que, quando
você compra um café no supermercado, há o risco de levar para casa grãos que
foram colhidos por pessoas cujas acomodações não têm acesso à água potável para
beber; ou trabalhadores que estão em uma espiral de débito que os impossibilita
de deixarem as lavouras", diz trecho do relatório.
A organização acompanhou as ações
do MTE e relata, nas fazendas, a falta de equipamentos de proteção, a exposição
à pesticidas venenosos e outras condições insalubres, como domitórios
precários, sem portas ou bebedouros. Segundo o relatório, eles são obrigados a
beber água juntamente com animais. As práticas violam leis brasileiras e
acordos internacionais.
A entidade calcula que apenas 2%
do preço final que chega a um consumidor dinamarquês é utilizado para pagar o
salário dos que trabalham na colheita manual do grão. Eles recebem entre R$ 8 e
15 por saco (33kg). Já o proprietário de uma fazenda recebe até R$ 500 por saca
de café torrado (60kg).
O relatório, disponível no site
da organização, com fotos, vídeos e depoimentos, está dividido em 17 capítulos
e pode ser lido na íntegra, em inglês, aqui..
Fonte: Brasil de Fato
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