A história da mulher é constante
luta contra a opressão. As mulheres sempre sofreram todo tipo de
constrangimento familiar e social. Foram humilhadas, menosprezadas e
constantemente utilizadas como forma de prazer para os homens.
Por Regina Navarro
A maioria das pessoas que
respondeu à enquete da semana não acredita que o feminismo deva continuar sua
luta. Talvez isso se deva ao fato de muitos imaginarem que feminismo é o
machismo na mulher.
De qualquer forma, é impossível
não lembrar de vários relatos que ouvi de mulheres a respeito da violência
sofrida. Um deles foi o de Márcia.
Ela chegou ansiosa ao meu
consultório. Rapidamente fez uma síntese do que está vivendo: “Casei com um
sujeito caladão, mas legal. Um dia pedi uma explicação sobre as contas de casa
e ele me derrubou com um tapa. Comecei a chorar no chão e ele me estendeu a
mão. Quando levantei, me deu outro tapa e falou: deixe as coisas comigo! Daí em
diante vivo com medo de que ele me mate. Já levei outros empurrões e puxões de
cabelo dele. Eu o odeio, mas não sei o que fazer…”
Esse não é um exemplo pouco
habitual. A história da mulher é constante luta contra a opressão. As mulheres
sempre sofreram todo tipo de constrangimento familiar e social. Foram
humilhadas, menosprezadas e constantemente utilizadas como forma de prazer para
os homens.
Após a instalação do patriarcado
– sistema de dominação do homem – há cinco mil anos – a mulher adquiriu o
status de mercadoria, podendo ser comprada, vendida ou trocada.
Nesse sistema as mulheres são consideradas
inferiores aos homens e, por conseguinte, subordinadas à sua dominação.
Superior/inferior, dominador/dominado. A ideologia patriarcal dividiu a
humanidade em duas metades, acarretando desastrosas consequências.
É evidente que a maneira como as
relações entre homens e mulheres se estruturam — dominação ou parceria — tem
implicações decisivas para nossas vidas pessoais e para nossos papéis
cotidianos.
Durante muito tempo afirmaram que
as mulheres têm cérebro úmido, responsável por suas deficiências. O cérebro
seco do homem explicaria seu juízo superior. A mulher era obrigada a obedecer
ao marido em tudo, contanto que ele não ordenasse algo que pudesse violar as
Leis Divinas.
Na Idade Média, o marido tinha o
direito e o dever de punir a esposa e de espancá-la para impedir “mau
comportamento” ou para mostrar-lhe que era superior a ela. Até o tamanho do
bastão usado para surrá-la tinha uma medida estabelecida. Se não fossem
quebrados ossos ou a fisionomia da esposa não ficasse seriamente prejudicada,
estava tudo certo.
O espancamento legal das esposas
não desapareceu com a Idade Média. Foi praticado em muitos lugares no século 19
e, mesmo depois, quando passou a ser proibido por lei, continuou a existir
entre todas as classes sociais.
No final da Idade Média, o
estupro coletivo de mulheres era aceito. Havia muitos jovens solteiros nas
cidades, que se reuniam numa associação da juventude, com um chefe à sua
frente. Era um bando, institucionalizado. Existia apenas uma dessas em cada
cidade, e ela tinha alguns privilégios. Assim, esses jovens podiam liberar sua
libido na cidade mesmo. Eles eram autorizados a isso. As mulheres em situação
marginal, mal integradas à família, eram as principais vítimas.
Os progressivos direitos
adquiridos pelas mulheres são resultado de muitos anos de luta. O século 20 é
marco do início da participação efetiva das mulheres na sociedade.
Simone De Beauvoir publica, em
1949, O Segundo Sexo, obra seminal do movimento feminista, que começa
efetivamente, em 1966, nos EUA, com a Organização Nacional das Mulheres. Em
1963, Betty Friedan lança The feminine mystique (A mística feminina), estudo em
que analisa o vazio na mulher “dona-de-casa”.
O movimento feminista foi
fundamental para a liberação da mulher e suas conquistas na sociedade. Os
acontecimentos de 1968 lhe deram um inegável impulso e essa luta deve
continuar.
“Num nível mais profundo, o êxito
do feminismo está relacionado com a reivindicação de igualdade total entre as
mulheres e os homens. Trata-se de uma luta contra as discriminações sexistas,
que encontra grande repercussão, entre as quais se impõe como uma evidência:
não é pelo fato de ser mulher que se deve fazer isso e evitar aquilo; o sexo,
por si só, não impõe nenhum comportamento específico. Os papéis sexuais devem
deixar de existir: eles impedem que a pessoa se afirme e se expresse.”, diz o
historiador francês Antoine Prost.
Contudo, hoje, as mulheres ainda
são vítimas de agressões físicas. Estima-se que nos Estados Unidos a violência
ocorra em mais de três milhões de lares! A mulher americana é mais vítima de
agressões físicas em casa do que de acidentes de carro, assaltos e câncer
somados.
No Brasil os índices de violência
contra a mulher também são assustadores.
— A cada quatro horas uma mulher
é assassinada antes de completar 30 anos.
— Dos 4.762 homicídios de
mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo a
maioria desses crimes (33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Isso
significa que a cada sete feminicídios, quatro foram praticados por pessoas que
tiveram ou tinham relações íntimas de afeto com a mulher.
— Segundo a última pesquisa
DataSenado sobre violência doméstica e familiar (2015), uma em cada cinco
mulheres já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex.
— Um estupro acontece a cada 10
minutos, aponta Anuário Brasileiro de Segurança Pública
— Estudo com mais de 2.300
mulheres de 14 a 24 anos, das classes C, D e E, mostra como a violência contra
as mulheres e o machismo atingem as jovens de periferia. Os números levantados
pelo estudo mostram que 74% das entrevistadas afirmam ter recebido um
tratamento diferente em sua criação, por serem mulheres; 90% dizem que deixaram
de fazer alguma coisa por medo da violência, como usar determinadas roupas e
frequentar espaços públicos; e 77% acham que o machismo afetou seu
desenvolvimento.
— Dados do Ligue 180 revelam que
a violência contra mulheres acontece com frequência e na frente dos filhos
A questão é que quase todos os
homens que agridem suas mulheres acreditam ter esse direito. E o incrível é que
parece existir mesmo uma permissão da sociedade para isso, o que fica claro com
o resultado da enquete.
Mas nem tudo está perdido. Apesar
de os conservadores tentarem limitar os avanços do Movimento Feminista, ele se
consolida cada vez mais nos países ocidentais. O caminho para uma igualdade
entre homens e mulheres ainda é longo, mas as mudanças são irreversíveis.
Em várias partes do mundo os
homens já demonstram insatisfação em ter que corresponder ao que deles se
espera – força, sucesso, poder – e discutem cada vez mais a desconstrução do
masculino, fazendo a mesma pergunta feita por John Lennon: “Não está na hora de
destruirmos a ética do macho?… A que nos levaram todos esses milhares de anos?”
Fonte: http://reginanavarro.blogosfera.uol.com.br/
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