Thayô Amaral cresceu em família evangélica e hoje é militante
do chamado feminismo cristão
Evangélicas se unem para combater
o preconceito que sofrem tanto das defensoras dos direitos das mulheres quanto
de grupos religiosos.
Itegrante de uma família evangélica, a
estudante de publicidade Thayô Amaral, 21 anos, freqüentou os cultos com seus
pais desde criança, tendo chegado a líder do grupo cristão infantil de sua
igreja. Mas, à medida que crescia, a jovem começou a se incomodar com o peso do
patriarcalismo nos discursos, julgamentos e hierarquia das denominações
cristãs. Eram comentários e posturas que não se ajustavam à sua visão de mundo.
“Notava muito machismo e intolerância e passei a questionar”, diz. Atenta e
preocupada com questões feministas, Thayô decidiu abraçar a causa das mulheres.
Mas notava que, nesse ambiente, muitas militantes se mostravam agressivas em
relação aos cristãos. O caminho para unir esses dois mundos se fez pelas redes
sociais. Com uma amiga, criou um grupo no Facebook chamado “Feministas
Cristãs”, hoje com pouco mais de mil membros. Ainda que o movimento tenha começado
pela internet, a realidade mostra que o universo virtual é o palco para dar voz
a grupos, como o criado por Thayô, que estão cada vez mais presentes dentro de
segmentos evangélicos, na tentativa de encontrar um espaço de luta pelos
direitos das mulheres sem a necessidade de abdicar da fé cristã. Mas, conforme
ganham mais visibilidade, essas comunidades passam também a sofrer com as
críticas vindas dos dois lados.
Sede da ONG Católicas pelo
Direito de Decidir:
direito das mulheres dentro da
Igreja
Mayara Oliveira, 19 anos,
evangélica e também militante pelo feminismo, acredita que no meio virtual é
ainda mais difícil lidar com radicais e conservadores que procuram as
feministas cristãs para ofendê-las. “O feminismo estranha, mas acolhe. O
ambiente cristão conservador é cheio de ódio, com versículos avulsos e o famoso
‘você vai para o inferno”, afirma. “Já na igreja as pessoas engolem. Às vezes
se zangavam com alguns posicionamentos meus e discutiam, principalmente os mais
velhos e tradicionais, mas nunca me abalei com isso e segui repassando tudo o
que acreditava.” As discussões entre as feministas evangélicas vão desde
questões pessoais relacionadas a algum tipo de assédio à representação da
mulher nos textos sagrados. “Cristãs feministas são submissas? Como vocês
analisam esta palavrinha dentro da Bíblia e na vivência hoje? A Bíblia deve ser
um protocolo a seguir? Contextualizamos ou não as escrituras?”, questiona uma
integrante de uma comunidade on-line, seguida por uma centena de comentários em
resposta. Alguns, inclusive, citando livros bíblicos. A analista contábil
Isadora Veloso, 25 anos, é novata no feminismo, mas também já nota que há vozes
contrárias à presença de religiosas no movimento. “Eu entendo em grande parte a
rejeição que sofremos, mas não fico magoada. Como sou evangélica, já estou um
pouco acostumada com as pessoas discordando de mim”, diz. A jovem afirma que
sua fé não mudou depois que entrou para a militância. “A única diferença é que
me engajei em uma causa que importa. Comecei a perceber que não posso aceitar
que homens mexam comigo na rua nem me julguem por causa da roupa que uso.”
Precursora do feminismo cristão
no Brasil, Maria José Rosado Nunes, da ONG Católicas pelo Direito de Decidir,
acredita que não há contradição em lutar pelos direitos das mulheres e ter uma
religião. A organização, que existe desde 1993 no Brasil, defende a autonomia
feminina e a opção pelo aborto. “No caso do catolicismo, são apenas homens que
dirigem a doutrina, então todas as definições e interpretações são feitas por
eles. Mas quando as mulheres dizem que também têm direito de interpretar a
própria fé, elas encontram elementos que permitem defender suas posições”,
afirma. Ao que parece, as reações virulentas que as feministas cristãs
encontram parecem vir de pessoas que não compreendem a dimensão histórica e
social do cristianismo e do feminismo. “Entendo como fundamental a existência
de grupos de feministas nas igrejas para agir como um campo de resistência à
leitura conservadora cristã”, afirma Jacira Melo, diretora executiva do
Instituto Patrícia Galvão, organização pelos direitos das mulheres. Para a
teóloga e biblista Zenilda Luzia Petry, há movimentos reacionários e moralistas
que acentuam a interpretação da Bíblia, mas a leitura precisa ser feita com
olhos atentos à realidade e conectados ao modelo de sociedade que vivemos. “Além
disso, a verdadeira religião pratica a honestidade intelectual e vê claramente
que Jesus traz uma proposta de um mundo de irmãos.” Ou seja, a de que homens e
mulheres estão em pé de igualdade.
Fonte: Istoé
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