Enquanto andar sozinha pela rua
significar o medo de ser assediada, ameaçada ou violentada, a resposta é não!
As mulheres não têm direito à cidade porque não têm uma vivência plena e segura
do espaço público. Não apenas nas ruas e demais espaços, mas também no
transporte público, especialmente em horários de pico, quando a superlotação
favorece a ação de abusadores.
Recentemente, o site Fiquem
Sabendo – uma agência de jornalismo com foco em estatísticas e dados públicos –
divulgou informações sobre assédio sexual no metrô de São Paulo, com base em
dados da Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), que é responsável por
registrar e apurar crimes cometidos dentro do Metrô e da rede da CPTM. De
acordo com o levantamento realizado pelo site, o número de casos de abuso
sexual no sistema metroviário dobrou entre os anos 2011 e 2015, passando de 90
para 181.
Em nota, a Secretaria Estadual de
Transportes Metropolitanos atribuiu esse aumento a dois fatores: de um lado, o
crescimento do número de usuários da rede, de outro, as campanhas de conscientização
que vêm sendo desenvolvidas para incentivar as denúncias e, assim, diminuir a
subnotificação.
Faz sentido, claro. Mas sabemos
que esse número não corresponde à realidade, pois muitas mulheres ainda não se
sentem seguras e apoiadas o suficiente para denunciar abusos e crimes sexuais.
Até mesmo porque, infelizmente, ainda estamos imersos em uma cultura na qual
“passar a mão” em uma mulher sem sua autorização não é visto como invasão
violenta do corpo de outra pessoa, mas como expressão sadia do comportamento do
“macho que é macho”.
Esse estereótipo, aliás, está
presente até mesmo em algumas peças da campanha do Metrô contra o abuso sexual
(foto acima). Com o mote “você não está sozinha”, a campanha mostra seguranças
do metrô e outros homens fortões, em pé, de braços cruzados, prontos para
proteger e defender as mulheres. Essa é exatamente a imagem infeliz que
identifica o “macho que é macho”, uma redução do ser masculino à força física e
à predisposição para a luta e a agressão.
Como se a solução para a
violência contra as mulheres fosse a presença de homens que, com a capacidade
de usar a força física, inclusive com o uso da violência, pudessem proteger as
princesinhas indefesas contra a ação de outros homens exatamente iguais
àqueles. A campanha de fato estimula a denúncia, mas, ao mesmo tempo, reforça
justamente os estereótipos culturais que autorizam e promovem um comportamento
abusivo de homens em relação ao corpo das mulheres.
Fonte: Yahoo Noticias
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