Tatau Godinho
O machismo é muito forte na
sociedade brasileira. É chocante perceber o aumento, por exemplo, das denúncias
de violências contra as mulheres nas universidades, um local de pessoas jovens,
mais instruídas e com melhores condições econômicas que maior parte da
população e que, portanto, você esperaria que já tivessem assimilado a
necessidade da igualdade entre os gêneros.
A luta contra a violência é um
tema central do movimento feminista no Brasil desde o início da década de 1980.
“Foi um longo processo até a criação de um aparato de polícia, justiça e saúde
com atendimento específico para as que sofrem violência”, explica a secretária
para Autonomia Feminina da Secretaria de Políticas para as Mulheres do
Ministério da Cidadania, Tatau Godinho. A primeira delegacia de Defesa da
Mulher, por exemplo, foi criada há 30 anos em São Paulo.
De acordo com o Mapa da Violência
2015, entre 1980 e 2013, foram registradas 106.093 mortes de mulheres, vítimas
de homicídio. O número de vítimas passou de 1.353 mulheres em 1980, para 4.762
em 2013, um aumento de 252%.
A secretária Tatau Godinho avalia
que o aumento das agressões e assassinatos de mulheres é explicado, em parte,
pelo aumento do número de denúncias e pela reação machista à popularização do
feminismo. “A reação conservadora é negativa e violenta”, o que para ela
demonstra tensão entre o avanço das reivindicações femininas e as forças mais
tradicionais do machismo.
“O machismo é muito forte na
sociedade brasileira. É chocante perceber o aumento, por exemplo, das denúncias
de violências contra as mulheres nas universidades, um local de pessoas jovens,
mais instruídas e com melhores condições econômicas que maior parte da
população e que, portanto, você esperaria que já tivessem assimilado a
necessidade da igualdade entre os gêneros.”
A socióloga e educadora Carmen
Silva, da organização SOS Corpo e da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB),
diz que o conservadorismo está crescendo em alguns setores. “A gente há muito
tempo não via tantos projetos contra os nossos direitos no Congresso e tanto
descaramento na defesa de pautas homofóbicas, misóginas. Isso também é visto na
mídia e nas igrejas”, avalia, lembrando de projetos como o que restringe o
conceito de família ao núcleo formado a partir da união entre o homem e uma
mulher.
Denúncias
Desde a criação da Central de
Atendimento à Mulher – Ligue 180, em 2005, foram registrados mais de 4,5
milhões de atendimentos. No primeiro semestre de 2015, a Central realizou
364.627 atendimentos, uma média de 2.025 atendimentos por dia. Destes, 32.248
foram relatos de violências físicas e psicológicas sofridas por mulheres.
Tatau acredita que já há o
entendimento, entre grande parte das mulheres, de que não é possível lutar
contra a violência no âmbito privado, em casa. “Elas já sabem que precisam
denunciar.”
Segundo a secretária, políticas
públicas como a Lei Maria da Penha – que aumentou o rigor das penas sobre
crimes de violência doméstica e familiar –, os juizados especiais de
atendimento à mulher, os centros de atendimento e a Casa da Mulher Brasileira
incentivam muitas brasileiras a terem coragem de denunciar. “São elementos que
fazem muitas ficarem mais seguras para denunciar, pois vão encontrar apoio”.
A ativista Carmen Silva avalia
que na última década o país avançou muito no aparato legal. “Temos uma das
melhores legislações do mundo sobre a violência contra a mulher. O que precisa
avançar é na estrutura para garantir os direitos.” Carmen diz que o número de
delegacias, abrigos e juizados para lidar com a violência contra as mulheres
ainda é muito inexpressivo, aquém da necessidade do país.
Segundo ela, a divulgação da Lei
Maria da Penha foi muito eficiente nos últimos anos, mas precisa se transformar
em mais serviços, em especial para as mulheres de baixa renda. “Todo mundo
conhece a lei. Mas isso tem favorecido especialmente as mulheres mais
esclarecidas, dos setores médios e que têm mais recursos financeiros, a maioria
branca, têm mais possibilidade de sair do ciclo de violência. A violência
contra as mulheres brancas diminuiu, mas contra as negras, que estão na base da
pirâmide e têm menos acesso a informação, a trabalho e aos serviços públicos,
não.”
De acordo com os dados
registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do
Sistema Único de Saúde (SUS), duas em cada três vítimas de violência em 2014
foram mulheres que precisaram de atenção médica por violências domésticas,
sexuais e/ou outras. A cada dia de 2014, 405 mulheres procuraram atendimento em
unidades de saúde, por alguma violência sofrida.
Fonte: Agência Brasil
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