Tráfico de drogas e de seres humanos, "lavagem de dinheiro", sonegação de impostos, prostituição, contrabando, ataques cibernéticos e roubo de direitos intelectuais ("pirataria"). Estes negócios fazem parte de uma das mais lucrativas atividades no mundo de hoje e também afetam a segurança pública, políticas de saúde, instituições democráticas e estabilidade econômica.
Chama a atenção mais uma vez o poder dos cartéis e do crime
organizado nas Américas. Temendo pela vida de seus profissionais, o jornal
mexicano "Zócalo", na fronteira do Texas, decidiu, desde o dia 11 de
março, não publicar mais notícias sobre o crime organizado. Já a Agência de
Combate às Drogas dos Estados Unidos (DEA, sigla em inglês) classificou, ontem,
a infiltração de integrantes dos cartéis de drogas mexicanos em várias cidades
como "a mais séria ameaça à segurança americana".
Destinada a praticar sequestros, organizar prostituição,
tráfico de drogas e "lavagem de dinheiro", esta infiltração dos
cartéis foi descoberta a partir da prisão de criminosos mexicanos em cidades
como Chicago, Atlanta, Ohio e Louisville. É como se as fronteiras com o México
chegassem aos subúrbios de cidades americanas, disse o repórter Michael Tarm,
da Associated Press.
Os tentáculos dos barões da droga do México estão
conseguindo intimidar e calar a imprensa, além de ameaçar o mais poderoso país
do mundo por causa, provavelmente, da falta de combate cooperativo mais
eficiente entre os dois países contra o crime organizado.
Não há como negar o claro fracasso no caso mexicano, apesar
de os EUA terem investido US$ 18 bilhões, no ano passado, na construção de
cercas nas fronteiras e no controle militar e tecnológico.
A questão paradoxal é que o próprio capitalismo requer
sociedades abertas e liberdade de negócios e viagens entre os dois países, cujo
comércio bilateral é dinâmico. Seria obviamente impossível controlar todos os
carros e passageiros que cruzam as fronteiras.
No mundo globalizado, não somente os negócios lícitos
prosperam, como mostram os relatórios anuais da ONU e da Casa Branca sobre
crime e drogas, referindo-se a tráfico de drogas e de seres humanos,
"lavagem de dinheiro", sonegação de impostos, prostituição,
contrabando, ataques cibernéticos e roubo de direitos intelectuais
("pirataria"). Estes negócios fazem parte de uma das mais lucrativas
atividades no mundo de hoje e também afetam a segurança pública, políticas de
saúde, instituições democráticas e estabilidade econômica.
Quando se fala de "pirataria", por exemplo, as
relações entre EUA e China estremecem. Na verdade, os chineses não protegerão
os direitos à propriedade intelectual enquanto não desenvolverem as próprias
criações. Até lá, eles vão provavelmente copiar e "piratear".
Não é somente o setor da moda que reclama. São também os
cineastas e produtores de entretenimento e cultura, que são obrigados a ver
suas obras nos camelôs antes mesmo do lançamento. Aliás, como ocorre também nas
cidades brasileiras.
Como explicou à revista "Foreign Affairs" o
professor de Ciências Políticas Peter Andreas, autor do livro Nação
contrabandista: como o comércio ilegal fez a América (Oxford University, 2013,
ainda sem tradução no Brasil), "falta consciência americana sobre a perspectiva
histórica de como os EUA se aproveitaram do contrabando e do crime
internacional, nos séculos XVIII e XIX, para desenvolver a industrialização,
principalmente no setor têxtil".
"Em outras palavras, os EUA, desde sua criação,
adotaram estreita relação entre comércio ilegal e contrabando capitalista como
fator de desenvolvimento econômico", diz o professor da Universidade de
Brown.
São argumentações oportunas para quem está perdendo o
controle, que aliás nunca teve, sobre o comércio ilegal e que talvez sirvam para
recriar outras formas de combate.
Que tal um controle mais rigoroso sobre a produção e
exportação de armas? Ou que tal uma discussão mais aberta e séria sobre a
proibição de consumo de drogas ditas mais leves? Que tal um controle oficial
mais eficaz sobre os cultivos ilícitos? Que tal adotar programas educacionais e
socioambientais para populações rurais?
Não há dúvidas de que o crime transnacional ameaça o Estado
democrático de direito porque solapa suas bases legais e econômicas.
O caso mexicano serve de alerta.
Fonte: Ranulfo Bocayuva em http://www.interjornal.com.br
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