quinta-feira, 4 de abril de 2013

Gangsterismo, globalização e tráfico de seres humanos


Tráfico de drogas e de seres humanos, "lavagem de dinheiro", sonegação de impostos, prostituição, contrabando, ataques cibernéticos e roubo de direitos intelectuais ("pirataria"). Estes negócios fazem parte de uma das mais lucrativas atividades no mundo de hoje e também afetam a segurança pública, políticas de saúde, instituições democráticas e estabilidade econômica.


Chama a atenção mais uma vez o poder dos cartéis e do crime organizado nas Américas. Temendo pela vida de seus profissionais, o jornal mexicano "Zócalo", na fronteira do Texas, decidiu, desde o dia 11 de março, não publicar mais notícias sobre o crime organizado. Já a Agência de Combate às Drogas dos Estados Unidos (DEA, sigla em inglês) classificou, ontem, a infiltração de integrantes dos cartéis de drogas mexicanos em várias cidades como "a mais séria ameaça à segurança americana".

Destinada a praticar sequestros, organizar prostituição, tráfico de drogas e "lavagem de dinheiro", esta infiltração dos cartéis foi descoberta a partir da prisão de criminosos mexicanos em cidades como Chicago, Atlanta, Ohio e Louisville. É como se as fronteiras com o México chegassem aos subúrbios de cidades americanas, disse o repórter Michael Tarm, da Associated Press.

Os tentáculos dos barões da droga do México estão conseguindo intimidar e calar a imprensa, além de ameaçar o mais poderoso país do mundo por causa, provavelmente, da falta de combate cooperativo mais eficiente entre os dois países contra o crime organizado.

Não há como negar o claro fracasso no caso mexicano, apesar de os EUA terem investido US$ 18 bilhões, no ano passado, na construção de cercas nas fronteiras e no controle militar e tecnológico.

A questão paradoxal é que o próprio capitalismo requer sociedades abertas e liberdade de negócios e viagens entre os dois países, cujo comércio bilateral é dinâmico. Seria obviamente impossível controlar todos os carros e passageiros que cruzam as fronteiras.

No mundo globalizado, não somente os negócios lícitos prosperam, como mostram os relatórios anuais da ONU e da Casa Branca sobre crime e drogas, referindo-se a tráfico de drogas e de seres humanos, "lavagem de dinheiro", sonegação de impostos, prostituição, contrabando, ataques cibernéticos e roubo de direitos intelectuais ("pirataria"). Estes negócios fazem parte de uma das mais lucrativas atividades no mundo de hoje e também afetam a segurança pública, políticas de saúde, instituições democráticas e estabilidade econômica.

Quando se fala de "pirataria", por exemplo, as relações entre EUA e China estremecem. Na verdade, os chineses não protegerão os direitos à propriedade intelectual enquanto não desenvolverem as próprias criações. Até lá, eles vão provavelmente copiar e "piratear".

Não é somente o setor da moda que reclama. São também os cineastas e produtores de entretenimento e cultura, que são obrigados a ver suas obras nos camelôs antes mesmo do lançamento. Aliás, como ocorre também nas cidades brasileiras.

Como explicou à revista "Foreign Affairs" o professor de Ciências Políticas Peter Andreas, autor do livro Nação contrabandista: como o comércio ilegal fez a América (Oxford University, 2013, ainda sem tradução no Brasil), "falta consciência americana sobre a perspectiva histórica de como os EUA se aproveitaram do contrabando e do crime internacional, nos séculos XVIII e XIX, para desenvolver a industrialização, principalmente no setor têxtil".

"Em outras palavras, os EUA, desde sua criação, adotaram estreita relação entre comércio ilegal e contrabando capitalista como fator de desenvolvimento econômico", diz o professor da Universidade de Brown.

São argumentações oportunas para quem está perdendo o controle, que aliás nunca teve, sobre o comércio ilegal e que talvez sirvam para recriar outras formas de combate.

Que tal um controle mais rigoroso sobre a produção e exportação de armas? Ou que tal uma discussão mais aberta e séria sobre a proibição de consumo de drogas ditas mais leves? Que tal um controle oficial mais eficaz sobre os cultivos ilícitos? Que tal adotar programas educacionais e socioambientais para populações rurais?

Não há dúvidas de que o crime transnacional ameaça o Estado democrático de direito porque solapa suas bases legais e econômicas.

O caso mexicano serve de alerta.
Fonte: Ranulfo Bocayuva em http://www.interjornal.com.br

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