64% das mulheres já sofreram
algum tipo de constrangimento no transporte coletivo. As ações de protesto em
defesa das mulheres e contra o abuso sexual ocorrem cada vez com mais
frequência.
“Estava voltando do trabalho e
peguei um ônibus por volta de uma da tarde, com poucas pessoas dentro.
Sentei-me próxima da janela e cochilei. Pouco tempo depois percebi que alguém
sentou ao meu lado, olhei e era um homem, alto e bem vestido, segurando uma
pasta de documentos. Voltei a cochilar, então ouvi uma espécie de gemido.
Quando abri os olhos o homem estava se masturbando. Ele viu que acordei e se
assustou. Pensei em agredi-lo, mas tive receio de ser agredida por ele. A única
coisa que consegui fazer foi gritar, gritar muito! Ele se levantou me chamando
de louca. As pessoas ao redor olhavam sem entender nada. Continuei gritando,
falando o que tinha acontecido e ninguém fez nada. O sujeito desceu do ônibus e
ainda me chamou de vagabunda, disse coisas obscenas e o motorista seguiu
viagem”.
O relato de Camila Poquini foi
publicado pela página Catraca Livre, no Facebook, que tem como objetivo e
slogan “Comunicar para empoderar”. A mesma página e diversas outras divulgam
todos os dias, com o mesmo intuito, inúmeros casos semelhantes ao de Camila. De
acordo com a Secretaria Estadual da Segurança Pública, em 2014, só no estado de
São Paulo, foram registrados 285 casos de importunação ofensiva ao pudor -
quando a vítima é assediada sexualmente em local público. Dentre esses casos,
17 ocorreram em coletivos e 13 nos pontos de ônibus.
Também com o objetivo de
empoderar mulheres por meio da informação e retratar suas ações, a jornalista
Juliana de Faria criou, em abril de 2013, o projeto feminista Olga e lançou, em
julho do mesmo ano, a campanha “Chega de Fiu Fiu”, que combate o abuso sexual
em espaços públicos por meio de ilustrações com mensagens de repúdio a esse
tipo de violência.
A campanha desenvolveu uma
pesquisa para entender como acontecem este tipo de crime, e revelou que 85% das
mulheres brasileiras entrevistadas já tiveram o corpo tocado sem permissão em
espaços públicos. E 64% delas já sofreram algum tipo de constrangimento no
transporte coletivo.
Violência
O que não faltam são relatos que
comprovam os dados acima. Em abril deste ano a mídia noticiou o caso de uma
jovem, funcionária da empresa de recarga do Bilhete Único, em São Paulo, que
foi estuprada dentro da própria cabine de trabalho na Estação República. Ela
foi surpreendida por assaltantes ao encerrar o expediente, por volta das 23h30.
No dia 20 de agosto, em um vagão
do Metrô de São Paulo, uma garota, aparentando entre 16 e 17 anos, tornou-se
vítima de abuso. De acordo com relatos divulgados nas redes sociais por
usuários do metrô, ao repreender o suposto homem que a importunava no vagão
lotado, a jovem acabou sofrendo com o abuso de outros passageiros, o que gerou
uma espécie de abuso coletivo. O crime só foi interrompido com o auxílio de
outras passageiras que ajudaram a garota a sair do vagão com a integridade
física preservada.
Protestos
Para tentar mudar este triste
quadro, muitas pessoas têm se organizado também para protestar in loco, ou
seja, nos locais onde acontecem os abusos. No fim do mês passado, coletivos
feministas foram à estação República do Metrô de São Paulo para protestar.
A Secretaria de Mulheres do
Sindicato dos Metroviários de São Paulo, o Grupo de Mulheres Pão e Rosas, o
Movimento Mulheres em Luta, entre outros, estiveram presentes no ato. As
manifestantes reivindicavam que as estações tenham mais seguranças mulheres,
além de delegacias especializadas.
As ações de protesto em defesa
das mulheres ocorrem cada vez com mais frequência. Segundo o manifesto
divulgado nas redes sociais pelas organizadoras do ato na estação República, a
ideia é que se faça sempre uma ação de protesto quando for registrado algum
caso de abuso sexual no transporte público.
Em maio, professores, estudantes,
militantes da causa feminista, entre outras personalidades participaram de ato
na estação da Sé, motivado pelo caso ocorrido com a repórter Caroline Apple. O
episódio, envolvendo um homem que se masturbou e ejaculou na calça da
jornalista, ganhou grande repercussão nas redes sociais.
Desde abril, o movimento Mulheres
em Luta vem distribuindo, em cada uma de suas ações, cerca de 400 alfinetes nas
estações do metrô de São Paulo, durante o horário de pico, para promover a
campanha “Não me encoxa, que eu não te furo”. O movimento pretende levar
esclarecimento às passageiras e entregando kits com o alfinete, para que as
vítimas possam espetar os molestadores.
Fonte: DomTotal
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