A cura de um surdo-mudo na região
pagã de Sídon é narrada por Marcos com uma intenção claramente pedagógica. É um
doente muito especial. Não ouve nem fala. Vive encerrado em si mesmo, sem se
comunicar com ninguém. Não percebe que Jesus está passando próximo dele. São
outros os que o levam até ao Profeta.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 7, 31-37 que
corresponde ao 23º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Os profetas de Israel usavam com
frequência a «surdez» como uma metáfora provocativa para falar do encerramento
e da resistência do povo ao seu Deus. Israel «tem ouvidos mas não ouve» é o que
Deus diz. Por isso, um profeta chama a todos para a conversão com estas
palavras: «Surdos, escutai e ouvi».
Neste enquadramento, as curas de
surdos, narradas pelos evangelistas, podem ser lidas como «relatos de
conversão» que nos convidam a deixar-nos curar por Jesus da surdez e das
resistências que nos impedem de escutar a Sua chamada para o seguir. Em
concreto, Marcos oferece no seu relato matizes muito sugestivos para trabalhar
esta conversão nas comunidades cristãs.
O surdo vive afastado de todos.
Não parece estar a ser consciente do seu estado. Não faz nada para aproximar-se
de quem o pode curar. Por sorte para ele, uns amigos interessam-se por ele e
levam-no até Jesus. Assim tem de ser a comunidade cristã: um grupo de irmãos e
irmãs que se ajudam mutuamente para viver em torno de Jesus deixando-se curar
por Ele.
A cura da surdez não é fácil.
Jesus toma consigo o doente, retira-se para um lado e concentra-se nele. É
necessário o recolhimento e a relação pessoal. Necessitamos nos nossos grupos
cristãos um clima que permita um contato mais íntimo e vital dos crentes com
Jesus. A fé em Jesus Cristo nasce e cresce nessa relação com Ele.
Jesus trabalha intensamente os
ouvidos e a língua do doente, mas não basta. É necessário que o surdo colabore.
Por isso, Jesus, depois de levantar os olhos ao céu, procurando que o Pai se
associe ao Seu trabalho curador, grita ao enfermo a primeira palavra que tem de
escutar quem vive surdo a Jesus e ao Seu Evangelho: «Abre-te».
É urgente que os cristãos escutem
também hoje esta chamada de Jesus. Não são momentos fáceis para a Sua Igreja.
Pede-se que atuemos com lucidez e responsabilidade. Seria funesto viver hoje
surdos à Sua chamada, não ouvir as Suas palavras de vida, não escutar a Sua Boa
Nova, não captar os sinais dos tempos, viver encerrados na nossa surdez. A
força salvadora de Jesus pode-nos curar.
José Antonio Pagola
Tradutor: Antonio Manuel Álvarez
Perez
Fonte: http://www.gruposdejesus.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário