Pelo menos 15 crianças e
adolescentes são abusados sexualmente todos os dias em Minas Gerais, de acordo
com dados divulgados pela Seds (Secretaria de Estado de Defesa Social).
Conforme o órgão, 3.239 menores, com idades de zero a 17 anos, foram vítimas de
crimes contra a dignidade sexual no Estado nos primeiros sete meses deste ano.
Os números englobam estupros, favorecimento de prostituição, assédio, entre
outras infrações. Mesmo assim, as estatísticas apresentaram queda: em 2014,
foram 3.527 denúncias no mesmo período, cerca de 9% a menos.
Já a Polícia Civil registrou
1.278 casos de estupro de vulneráveis entre janeiro e julho deste ano, num
total de aproximadamente seis ocorrências diariamente, contra 1.532 no mesmo
período do ano passado. No entanto, a delegada Isabela França Oliveira, da
Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente reflete que a
redução nos dados não significa, necessariamente, que crimes deste tipo estejam
ocorrendo com menor frequência.
— É complicado falar o que
aconteceu, se essa queda é real ou se caíram o número de notificações, porque,
na maioria dos casos, os abusos acontecem no ambiente intrafamiliar e, por
isso, talvez não estejam chegando ao conhecimento da polícia.
Isabela explica que os perfis dos
agressores costumam ser parecidos: alguém de grande confiança da família e da
própria vítima, que manipula o menor. Isso faz com que a criança ou adolescente
tenha medo do poder de influência do suspeito sobre sua vida e inibe as
denúncias. A vergonha, a culpa e a possibilidade de que as pessoas não
acreditem no ocorrido também contribuem para o silêncio. É no ambiente escolar
que muitas vítimas encontram espaço para desabafar. Conforme a policial, boa
parte das denúncias chegam através das instituições de ensino que, por terem
contato intenso e diário com os menores, percebem as marcas emocionais deixadas
pelos abusos.
— Como não têm coragem de contar
em casa, no ambiente escolar a criança sente confiança e liberdade para relatar
isso durante uma aula específica, muitas acabam denunciando após uma palestra
sobre educação sexual, por exemplo. Orientamos os pais a conversarem com os
filhos. A gente nota que a alteração de comportamento das vítimas é muito
nítida, uma das principais caracteristicas da criança violentada. Às vezes, não
há nenhum vestígio físico, mas o psicológico está totalmente afetado.
Diagnóstico
Para a presidente do Comitê de
Ginecologia da Infância e Adolescência da Sogimig (Associação de Ginecologistas
e Obstetras de Minas Gerais), Cláudia Mourão, os números divergem do cenário
atual. Ela alerta que a violência sexual é a segunda agressão mais recorrente
contra crianças de zero a 10 anos e deve ser considerada “um problema de saúde
pública importantíssimo”.
— Não é confiável esta queda nos
dados porque, em 64% dos casos, o agressor está dentro do âmbito de
conhecimento da vítima, é um pai, padrasto ou tio, por exemplo. Isso causa uma
subnotificação absurda. Às vezes, a própria mãe é ameaçada.
A especialista avalia que os
médicos têm papel fundamental no combate aos crimes de abuso contra menores.
Ela ressalta que o profissional tem “a obrigação” de notificar o sistema de
segurança caso suspeite de um caso potencial de violência sexual entre seus
pacientes. Por isso, a Sogimig tem feito uma campanha intensa de
conscientização e orientação sobre a forma correta de atendimento destas
vítimas.
— Se o médico percebeu que existe
um grande risco, que a criança está muito vulnerável perante uma violência
ainda mais grave, é compromisso do serviço médico acionar a escolta policial. O
atendimento destas vítimas tem pormenores médicos que a pessoa tem que se
familiarizar, mas nem todos estão. Por isso, nossa campanha não é para criar
uma obrigatoriedade de que o profissional entenda toda a parte técnica, mas que
ele compreenda a importância do acolhimento e orientação do paciente. Ele é
importantísstimo para que a família se sinta acolhida.
Fonte: (Márcia Costanti) R7
Nenhum comentário:
Postar um comentário