O assédio sexual no transporte
coletivo é um problema que requer muito engajamento para ser resolvido. A
solução passa por uma capacitação de todo o poder público e de envolvidos no
transporte coletivo. Outras mudanças importantes seriam investimento em
iluminação das ruas e dos pontos de ônibus, aumento da frota - evitando a
superlotação - e o aumento da quantidade de pontos de ônibus, o que poderia
deixar a distância entre a casa e o transporte público mais curta.
O secretário de Transportes da
cidade de São Paulo, Jilmar Tatto, recebeu na manhã desta segunda-feira um
documento que, se levado em consideração, pode ser capaz de mudar a cara do
transporte público da cidade. As 18 páginas do documento criado por um coletivo
de ONGs chamado Busão dos Sonhos aponta quais são as principais demandas da
população para a melhoria do transporte público.
Veja as 11 medidas para o 'busão'
perfeito:
1 - Com ar-condicionado, wi-fi e
tomadas para recarregar aparelhos como celular e laptop
2 - Intervalo menor entre a
passagem de um ônibus e outro no ponto. Com isso e com mais assentos, será o
fim da superlotação
3 - Só usam combustíveis não
poluentes
4 - Nos pontos e dentro dos
ônibus há informações sobre as linhas e seus terminais
5 - Casos de assédio sexual às
mulheres ficaram num passado sombrio
6 - Passagem é mais barata. Para
para todas ou algumas linhas, o custo é zero
7 - Pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzida não tem nenhum problema para usar o serviço
8 - Os bairros têm mais opções de
linhas que circulam nas redondezas
9 - As reclamações dos
passageiros é usado como índice para abater o lucro das empresas
10 - As calçadas não têm mais
buracos
11 - Os motoristas e cobradores
são capacitados para tratar os usuários e respeitar os ciclistas
Essas questões foram discutidas
nos últimos 15 dias. Esse foi o período de prazo estendido pela Prefeitura para
que se realizasse uma consulta pública ao processo de licitação do transporte
público na cidade, que vai movimentar 70 bilhões de reais.
"Percebemos que o que foi
discutido nas manifestações de 2013, que foi a questão da tarifa, aparece com
muita força ainda, tanto sobre a tarifa zero, quanto sobre tarifas mais
justas", afirma Vitor Leal, do Greenpeace, uma das ONGS que fazem parte do
coletivo.
A questão do assédio sexual no
transporte público, embora não tenha uma ligação direta com o processo de
licitação para a contratação das companhias que irão administrar os ônibus,
também ficou latente. "Outra coisa que apareceu foi a questão do ônibus
muito cheio, o que se conecta diretamente ao assédio", diz Vitor. Ele
ressalta que o veículo cheio é uma dos argumentos usados pelos que praticam o
assedio.
"As mulheres que usam o
transporte público diariamente não se surpreenderiam com esse tipo de demanda",
diz Gabriela Vuolo, do Fórum Regional de Mulheres da zona oeste, sobre o
assédio aparecer no levantamento com tanto engajamento. "Os casos não são
isolados, é um problema grave e estamos cansadas de passar por isso todos os
dias. O que essa demanda mostra é que estamos chegando num limite".
Evitar a superlotação
Vitor e Gabriela concordam que o
assédio sexual no transporte coletivo é um problema que requer muito
engajamento para ser resolvido. "A solução passa por uma capacitação de
todo o poder público e de envolvidos no transporte coletivo", diz
Gabriela. Outras mudanças importantes, segundo ela, seriam investimento em
iluminação das ruas e dos pontos de ônibus, aumento da frota - evitando a
superlotação - e o aumento da quantidade de pontos de ônibus, o que poderia
deixar a distância entre a casa e o transporte público mais curta.
O problema do assédio sexual não
se restringe somente aos usuários do ônibus. Na tarde desta segunda-feira,
alguns coletivos de mulheres se juntaram em uma manifestação para denunciar o
assédio a mulheres no metrô. Na movimentada estação República, por volta das
18h - o horário de pico do metrô - cerca de 50 manifestantes, 99% mulheres,
tocaram na instrumentos de fanfarra e levantaram cartazes com dizeres
"Basta! Não vamos nos calar!" e "o metrô é público mas meu corpo
não". A manifestação foi pacífica.
Para Solange Chaves, da
secretaria de mulheres do Sindicato dos Metroviários, a solução para o problema
do assédio passa por aumentar o número de vagões, o que desafogaria a superlotação,
e contratar mais seguranças mulheres. "Dos 1.200 seguranças do metrô,
apenas 20% são mulheres", diz. A criação de um vagão exclusivo feminino
não tem um consenso entre os coletivos que estavam ali. "O Movimento Passe
Livre (MPL) é radicalmente contra a criação de vagões para mulheres",
disse Carol Oliveira, do MPL. Já para Marcela Azevedo, do Movimento Mulheres em
Luta, essa poderia ser uma medida paliativa. "Não é a solução, mas é uma
medida que neste momento poderia ser tomada". Segundo Solange Chaves, um
plebiscito deve ser feito em novembro nas principais estações do metrô para
discutir essa questão.
Enquanto o poder público não toma
uma iniciativa, a sociedade vai criando seus próprios mecanismos para tentar
driblar o problema do assédio. Existe um movimento no Facebook, chamado Vamos
Juntas?, que incentiva que as mulheres andem juntas em locais que possam
colocá-las em risco. "Na próxima vez que estiver em uma situação de risco,
observe: do seu lado pode estar outra mulher passando pela mesma insegurança.
Que tal irem juntas?", diz a página.
Fonte: El Pais
Nenhum comentário:
Postar um comentário