Quando eu era criança, minha cor
preferida era rosa e eu ouvia as pessoas dizendo que eu deveria gostar de azul
porque rosa era "coisa de menina". Eu ficava um tanto confuso e
indignado: "Por que eu não podia gostar de rosa e quem inventou essa
história?
Resolvi conversar com outros
meninos da minha idade e vi que não era só comigo que tinha essa cobrança. E
que não era só eu que não entendia essa divisão do mundo direito.
Renan França, 19, costumava ouvir
o pai falar que ele devia beber porque era "coisa de macho". Ele,
mesmo sem ter idade nem vontade, acabava bebendo mesmo achando o gosto
horrível.
Já o pai do Guilherme Ferreira,
18, queria que ele jogasse futebol: a tal "coisa de menino". Só que
ele queria ficar dentro de casa assistindo TV. Na cabeça dele, futebol era
besteira, só que ele acabava jogando pra agradar o pai.
"Quando meus pais se
divorciaram, eu comecei a poder fazer o que eu queria e aí assistia até os
desenhos da Barbie."
Nós, meninos, aprendemos desde
cedo onde estamos na divisão machista do mundo e fazemos essa ideia continuar
quando aceitamos regras que parecem ingênuas como não chorar porque "é coisa
de menina", brincar só com super-heróis, carrinhos e futebol e não com
brinquedos ou esporte vistos como "femininos".
A idealização do que é ser menino
ou menina enquadra as pessoas em uma forma de agir de acordo com o sexo (macho
ou fêmea) e cria desigualdade.
E, muitas vezes, essa visão está
tão incrustada na gente e na sociedade que é repetida e transmitida por nós
mesmos, até eu, o Renan e o Guilherme.
Ainda bem que não sou só eu que
ando incomodado com isso. A ONU entrou na discussão contra a desigualdade entre
meninos e meninas com a campanha He for She (Elesporelas, aqui no Brasil), que
insere os homens na busca pela igualdade entre os gêneros.
Em um dos discursos da campanha
(que pode ser assistido em inglês aqui), Emma Watson, a Hermione Granger do
Harry Potter, chama todo mundo -- inclusive os meninos -- a se engarajarem
contra o machismo e a luta pela igualdade entre homens e mulheres.
Watson conta que desde muito nova
começou a questionar divisões.
"Quando tinha 8 anos me
sentia confusa por ser chamada de mandona por querer dirigir as peças que
fazíamos, mas os meninos não eram."
No vídeo, ela conta que desde
cedo foi sexualizada pela mídia, que teve amigas que largaram esportes que não
eram vistos como adequados e amigos que não podiam expressar sentimentos.
Mais perto da gente, a Tamires
Silva, me contou que não podia sair com os amigos porque seus pais achavam que
ela ficaria "mal falada" pelo bairro e ainda tinha de ouvir que
"se fosse menino, eu até deixava." Só foi "liberada" quando
fez 18 anos e começou a namorar com um menino que seu pai aprovou.
Também contribuem para a mudança
decisões como a da Amazon de retirar o filtro de brinquedos "para
meninas" e "para meninos", ajudando a desconstruir as limitações
em relação aos esteriótipos de gênero.
Para terminar com a desigualdade
entre meninos e meninas, todo mundo tem de estar envolvido em pensar e discutir
o assunto, olhar o que oprime cada um, desconstruir os preconceitos e criar uma
sociedade igualitária entre homens e mulheres.
Como disse Emma Watson no
discurso: "Se não eu, quem? Se não agora, quando?"
Fonte: Brasil Post
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