As divergências nos conceitos entre família é analisada
sobre a luz da própria bíblica.
Por: Cefas Carvalho
Como quase todo mundo tomou conhecimento, a comissão
especial que discute o Estatuto da Família na Câmara dos Deputados aprovou
recentemente por 17 votos favoráveis e 5 contrários ao texto principal do
projeto, que define família como “a união entre homem e mulher.” Na prática não
quer dizer muita coisa. As famílias fora deste clichê “homem e mulher”
continuarão vivas e felizes. Na teoria o texto dispõe sobre os direitos da
família e as diretrizes das políticas públicas voltadas para atender a entidade
familiar em áreas como saúde, segurança e educação.
O que me chamou realmente a atenção foi ver e ler
entrevistas dos ilustres deputados que votaram família como “a união entre
homem e mulher”, quase todos das chamadas “bancada evangélica” e “bancada
católica”, citarem deus e a Bíblia.
Sempre que citam a Bíblia para assuntos de ordem pública
(que afetam a vida privada) meu sinal de alerta acende a luz a vermelha.
Alguns dos nobres falaram muito no “conceito bíblico de
família”. Como já li a Bíblia inteira algumas vezes, estranho este conceito.
relembremos, pois o tão citado livro:
Jacó, filho de Isaque, teve de fugir por ter enganado o
irmão Esaú, como se sabe. Nesta fuga, encontrou parada na casa de Labão e tendo
se apaixonado por Raquel propôs casamento a ela, porém, na noite de nupciais
acabou consumando o casamento com a irmã dela, Lia. Labão ofereceu a mesma
Raquel em casamento a Jacó (em troca de mais 7 anos de trabalho, como sabemos)
e assim foi feito, Jacó e suas duas esposas.
Um detalhe: quando ambas não podiam mais engravidar,
ofereceram suas escravas – Bila e Zilpa- para gerar mais filhos de Jacó, que
chegou, portanto à velhice com duas esposas e 12 filhos de 4 mulheres
diferentes que conviviam todas juntas com ele (tudo isso pode ser lido e
conferido em Gênesis capítulos 29 e 30).
Mais adiante, na era dos reis de Israel, houve Davi que teve
oficialmente três esposas, Mical, Abigail e Betesabá (ou Bate-seba), sem falar
as muitas escravas e concubinas que tiveram filhos de Davi. Tudo lá nos livros
I e II de Samuel. Também teve Salomão, filho de Davi, com suas centenas de
concubinas. Tudo bem família.
Daí, passando por cima de muitas outras histórias escabrosas
do Velho Testamento, parti para o Novo Testamento, garimpando trechos onde
Jesus fala especificamente de “família enquanto união homem e mulher”. Não
encontrei, mas como admito que a pesquisa foi apressada, posso ter pulado tais
trechos, aguardo então, possível correção dos bons e atentos leitores.
Ah, mas entre os trechos que encontrei de Jesus sobre
“família”, me chamou a atenção esse aqui: “Falava ainda Jesus ao povo e eis que
sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora procurando falar-lhe. E alguém
lhe disso: tua mãe e teus irmãos estão lá fora e lhe querem falar. Porém, Jesus
respondeu ao que lhe trouxe o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E
estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos”
(Mateus, 12, 46-49.)
Pelo visto meu conceito de família é mais parecido com o de
Jesus do que com o de Malafaia, Feliciano, Cunha e os deputados religiosos…
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