terça-feira, 29 de setembro de 2015

Evangélicos querem “conceito bíblico de família”. Que tal uma pesquisa bíblica?

As divergências nos conceitos entre família é analisada sobre a luz da própria bíblica.

Por: Cefas Carvalho

Como quase todo mundo tomou conhecimento, a comissão especial que discute o Estatuto da Família na Câmara dos Deputados aprovou recentemente por 17 votos favoráveis e 5 contrários ao texto principal do projeto, que define família como “a união entre homem e mulher.” Na prática não quer dizer muita coisa. As famílias fora deste clichê “homem e mulher” continuarão vivas e felizes. Na teoria o texto dispõe sobre os direitos da família e as diretrizes das políticas públicas voltadas para atender a entidade familiar em áreas como saúde, segurança e educação.
O que me chamou realmente a atenção foi ver e ler entrevistas dos ilustres deputados que votaram família como “a união entre homem e mulher”, quase todos das chamadas “bancada evangélica” e “bancada católica”, citarem deus e a Bíblia.
Sempre que citam a Bíblia para assuntos de ordem pública (que afetam a vida privada) meu sinal de alerta acende a luz a vermelha.
Alguns dos nobres falaram muito no “conceito bíblico de família”. Como já li a Bíblia inteira algumas vezes, estranho este conceito. relembremos, pois o tão citado livro:
Jacó, filho de Isaque, teve de fugir por ter enganado o irmão Esaú, como se sabe. Nesta fuga, encontrou parada na casa de Labão e tendo se apaixonado por Raquel propôs casamento a ela, porém, na noite de nupciais acabou consumando o casamento com a irmã dela, Lia. Labão ofereceu a mesma Raquel em casamento a Jacó (em troca de mais 7 anos de trabalho, como sabemos) e assim foi feito, Jacó e suas duas esposas.
Um detalhe: quando ambas não podiam mais engravidar, ofereceram suas escravas – Bila e Zilpa- para gerar mais filhos de Jacó, que chegou, portanto à velhice com duas esposas e 12 filhos de 4 mulheres diferentes que conviviam todas juntas com ele (tudo isso pode ser lido e conferido em Gênesis capítulos 29 e 30).
Mais adiante, na era dos reis de Israel, houve Davi que teve oficialmente três esposas, Mical, Abigail e Betesabá (ou Bate-seba), sem falar as muitas escravas e concubinas que tiveram filhos de Davi. Tudo lá nos livros I e II de Samuel. Também teve Salomão, filho de Davi, com suas centenas de concubinas. Tudo bem família.
Daí, passando por cima de muitas outras histórias escabrosas do Velho Testamento, parti para o Novo Testamento, garimpando trechos onde Jesus fala especificamente de “família enquanto união homem e mulher”. Não encontrei, mas como admito que a pesquisa foi apressada, posso ter pulado tais trechos, aguardo então, possível correção dos bons e atentos leitores.
Ah, mas entre os trechos que encontrei de Jesus sobre “família”, me chamou a atenção esse aqui: “Falava ainda Jesus ao povo e eis que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora procurando falar-lhe. E alguém lhe disso: tua mãe e teus irmãos estão lá fora e lhe querem falar. Porém, Jesus respondeu ao que lhe trouxe o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos” (Mateus, 12, 46-49.)
Pelo visto meu conceito de família é mais parecido com o de Jesus do que com o de Malafaia, Feliciano, Cunha e os deputados religiosos…


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