A questão da semana é o caso da internauta que não quis transar com o
marido, porque não se sentia bem, mas ele a forçou ir para a cama, rasgou sua
roupa e a penetrou contra a vontade dela. É dessa forma de violência que as
mulheres têm mais dificuldade de falar e, no entanto, ela está presente em
muitos relacionamentos.
A violência sexual abrange um espectro bastante amplo,
que vai do assédio sexual à exploração sexual, passando pelo estupro conjugal.
A internauta que nos relatou seu
caso não está sozinha. Tânia, uma designer de 36 anos, chegou aos prantos à
primeira sessão de terapia. “Meu casamento não ia nada bem, tanto que eu
tentava conversar com meu marido sobre uma possível separação. Já não fazíamos
sexo há vários meses, apesar das insistências dele. Na sexta-feira de manhã ele
parece ter perdido a paciência: com raiva, me jogou na cama, me amarrou e me
estuprou.”
Em um estudo, na França, com uma
amostragem de 148 mulheres vítimas de violência no casal, que foram objeto de
decisão judicial, 68% das que foram interrogadas relataram ter sofrido, além de
pancadas e ferimentos, violência sexual.
E as mulheres sexualmente
agredidas apresentavam, significativamente, mais sintomas psicológicos
pós-traumáticos do que as que haviam sofrido apenas violência física sem
componente sexual. A violência sexual tem duas formas de se manifestar: pela
humilhação ou pela dominação.
De qualquer forma, toda violência
sexual é bastante traumatizante. É, sobretudo, um meio de sujeitar o outro. O
que não tem nada a ver com o desejo; é simplesmente, para o homem, um modo de
dizer: “Você me pertence”.
É importante que todos saibam que
sexo sem consentimento, mesmo com o marido, é estupro. E pela legislação
brasileira estupro é crime hediondo, com pena de 6 a 10 anos de prisão. O ideal
seria que toda mulher estuprada pelo marido desse parte dele à polícia e se
separasse, como sugeriram vários internautas. Mas a questão não é simples.
Marie-France Hirigoyen,
psicanalista francesa que escreveu um livro sobre a violência no casal, faz uma
severa crítica aos psicanalistas que consideram que as mulheres que permanecem
na relação experimentam uma satisfação de ordem masoquista em ser objeto de
sevícias. “É preciso que esse discurso alienante cesse, pois, sem uma
preparação psicológica destinada a submetê-la, mulher alguma aceitaria os
abusos psicológicos e muito menos a violência física.”
Hirigoyen, acredita que antes da
primeira violência física as mulheres devem cortar o mal pela raiz, reagindo à
violência verbal e psicológica. Para isso é essencial que elas aprendam a
perceber os primeiros sinais de violência para encontrar em si mesmas a força
para sair de uma situação abusiva. Compreender por que se tolera um
comportamento intolerável é também compreender como se pode sair dele.
Regina Navarro Linsé psicanalista
e escritora, autora de 11 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre
eles o best seller “A Cama na Varanda” e “O Livro do Amor”. Atende em
consultório particular há 39 anos, realiza palestras por todo o Brasil e é
consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo. Nasceu e
vive no Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário