Gabriela Leite: Não aceitaremos financiamento do Ministério
da Saúde enquanto for só para aids e nos vir apenas da cintura pra baixo.
Gabriela Silva Leite tem 62 anos, nasceu em São Paulo, é
prostituta aposentada. Tem duas filhas,
uma neta e ajudou a criar o filho do marido, o jornalista Flávio Lens.
Em seu livro Filha,
mãe, avó e puta: a história da mulher que decidiu ser prostituta, fala sobre
sua vida.
Filha de uma dona de casa conservadora e de um crupiê,
Gabriela, no final da década de 1960, estudava Sociologia na USP, trabalhava
num escritório e frequentava círculos da boemia intelectual paulistana.
Decidiu largar tudo, menos a noite, e começou a trabalhar
como prostituta. Primeiro, em São Paulo, depois, em Belo Horizonte, até se radicar no Rio de
Janeiro.
Em 1987, ajudou a organizar o Primeiro Encontro Nacional de
Prostitutas. Hoje se dedica à defesa da categoria e à regulamentação da profissão.
É criadora da grife Daspu e diretora da ONG Davida, que
fundou em 1991. A Davida não tem a
intenção de tirar as prostitutas da rua. O objetivo é promover a cidadania das
mulheres com ações nas áreas de educação, saúde, comunicação e cultura.
No seu blog, em Papos da Gabi, ela publica a seguinte nota
sobre a campanha censurada:
As peças que você vê aqui são da campanha ‘Sem vergonha de
usar camisinha’, lançada e logo após censurada e tirada do ar pelo Ministério
da Saúde do Brasil. A maior parte delas foi elaborada em oficina de comunicação
e saúde promovida pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais com
prostitutas de diversos estados, em março. A peça com o texto “Eu sou feliz
sendo prostituta” e a imagem da prostituta Nilce, de Porto Alegre, foi o mote
do governo Dilma para iniciar um escândalo político de consequências
imprevisíveis.
Primeiro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, mandou
tirar essa peça do ar – ou seja, do site do Departamento de AIDS – e ameaçou
demitir a equipe de comunicação do órgão. Depois, demitiu o próprio diretor,
Dirceu Greco, e censurou todas as outras peças da campanha.
Aqui, porém, você vê tudo o que o governo Dilma tem medo de
mostrar, por causa de alianças com fundamentalistas. E pode celebrar conosco
esse histórico Dia Internacional das Prostitutas, lembrando que liberdade e
felicidade são, sim, parceiras da prevenção em saúde. E que censura, estigma e
discriminação são os piores adversários.
Fonte: ( Conceição Lemes) www.pontodepauta.wordpress.com
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