O parto normal é menos arriscado para a mãe e o bebê do que
uma cesárea, recomendada só quando há complicações. Essa é a avaliação do
Ministério da Saúde. No entanto, o Brasil é o país campeão em realização de
cesáreas no mundo.
Dados da Organização Mundial da Saúde recomendam que apenas
15% dos partos sejam realizados por cesáreas. Mas, no país, esse percentual
chega a quase 50%, e em cidades como São Paulo, o percentual supera os 80%,
entre as classes mais altas.
A desumanização da saúde pública e a desinformação são os
responsáveis por esse quadro. A mulher deixou de ser a protagonista do parto,
sendo pouco encorajada a enfrentar tudo como um processo natural, para o qual
ela está fisicamente preparada. O parto de uma gestação de baixo risco pode ser
encarado como algo natural como a própria concepção. Cultura do medo No
entanto, a cultura do medo da dor e os mitos fizeram da cesárea um bem de
consumo disponível a quem pode pagar.
Como explica Érica de Paula, parteira e co-produtora do
documentário Renascimento do Parto, “a assistência obstétrica brasileira,
extremamente tecnocrata e intervencionista, tira das mulheres a oportunidade de
vivenciar o parto e o nascimento como um evento único, mágico e transformador”.
Para se contrapor a essa concepção, criou-se então termo
parto humanizado, que Ana Cristina Duarte, parteira e integrante do Grupo de
Apoio à Maternidade Ativa (Gama), define como “aquele que é feito com foco
basicamente nas necessidades da mãe e do bebê, com o uso de evidências
científicas e sem procedimentos de rotina, só os necessários, quando
necessários”.
A falta de opção ao parto humanizado, sem intervenções
desnecessárias que coloquem a mulher no papel de protagonista, respeitando seu
tempo e o do bebe é cada vez menor. Os relatórios sobre a violência obstetra no
Brasil são responsáveis por denunciar um sistema violento que desumaniza o
parto e transforma a saúde das mulheres em mercadoria.
Mais lucrativo
É mais rentável aos médicos e hospitais que o trabalho de
parto dure o mínimo possível, para que sejam realizados o maior número de
partos, sem qualidade no atendimento durante e depois do nascimento.
Segundo Érica de Paula, a cesariana permite mais controle da
agenda e exige menos do profissional. “O hospital também lucra muito mais com
um processo cirúrgico complexo e com as possíveis intercorrências relacionadas
à cesariana do que com um parto natural”, afirma.
Alternativa
Como alternativa a esse sistema foram cridas, no fi nal dos
anos de 1990, as Casas de Parto. Lugares exclusivos à realização de partos
naturais e humanizados sem intervenções médicas desnecessárias, que colocam as
mulheres como protagonistas do processo. Dessa forma não há a necessidade da
presença de médicos, já que o parto é encarado como algo natural e fisiológico.
Em São Paulo a Casa do Parto de Sapopemba é a única mantida
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As Casas trabalham em parcerias com os
hospitais e só recorrem à intervenção em casos de intercorrências graves.
Segundo a professora do curso de obstetrícia da Universidade de São Paulo e
fundadora da Casa de Parto de Sapopemba, Ruth Hitomi Osava, essas instituições
foram fundadas em consequência a uma resistência nos hospitais públicos, em
especial os hospitais universitários a ceder ao intervencionismo colocado pelo
modelo atual de parto. Ruth Hitomi Osava, ainda lembra que os procedimentos
cirúrgicos são necessários, mas que a opção deve ser dada à mãe a todo o
momento e que seja ela sempre a decidir como será seu parto.
Experiência
Layla Lima, estudante, teve seu parto na Casa. Ela conta que
durante todo o pré natal foi incentivada a fazer a cesárea, quase sem opção de
escolha. Depois de uma pesquisa feita por conta própria, conheceu a Casa do
Parto de Sapopemba e o parto humanizado. Optou por esse tipo de procedimento.
“Pesquisando sobre qual era o procedimento que um hospital
particular teria com um parto normal, observei que um parto normal, não é
necessariamente um parto natural, pois eles (médicos e enfermeiras) intervinham
de todas as maneiras imagináveis. O parto se torna só mais um procedimento
cirúrgico sob o domínio do médico”.
Sobre o atendimento na casa de parto, ela conta: “Foi dos
mais acolhedores possíveis. Uma palavra que definiria toda aquela equipe, sem
exceção, é amor. É um espaço muitíssimo especial”.
Proibição
A proibição por parte do Conselho Regional de Medicina de
São Paulo para que os médicos não trabalhem nesse tipo de instituição criou uma
descrença ao modelo das casas de parto. Isso dificulta a divulgação da Casa da
Sapopemba, que trabalha hoje abaixo da sua capacidade.
Obs: Há nesse momento a necessidade de se colocar em pauta o
projeto apresentado pela Vereadora do PT em São Paulo Juliane Cardoso para a
liberação de fundos para a construção e manutenção de novas Casas de Parto na
cidade.
Fonte: Mayra Castro, em Brasil de Fato
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