As meninas do autointitulado movimento sextremista Femen,
fundado na Ucrânia em 2008, conseguiram atrair a atenção midiática global nos
seus cinco anos de atuação, mas também arrebanharam detratores por todo o
mundo. Queridinhas dos marmanjos e dos editores – o topless das beldades vende
como água –, as ativistas estão mais uma vez no centro de uma polêmica.
Na semana passada, o movimento sofreu uma reviravolta com o
fechamento de sua filial brasileira, das mais ativas do grupo. Em nota oficial,
a sede ucraniana retirou o direito da líder brasileira Sara Winter de usar o
nome Femen, a palavra sextremismo e símbolos do movimento, como o logotipo e a
coroa de flores. O Femen Internacional alega que Sara teria usado indevidamente
o dinheiro que elas enviaram para a ativista.
A reportagem de Opera Mundi teve acesso às transferências
feitas para o Brasil em nome de Anna Hutsol (fundadora do grupo) e contabilizou
exatos 3,05 mil dólares (aproximadamente R$ 6,1 mil) entre junho de 2012 e
fevereiro deste ano. Foram feitas quatro transferências que, segundo Sara,
foram usadas para passagens aéreas e organização de protestos.
Hutsol ameaçou ainda “revelar o real motivo que fez Sara
entrar no Femen”. A brasileira, por sua vez, diz que desde fevereiro ouve a
mesma ameaça das ucranianas, mas não sabe a que elas se referem.
Com o desligamento da matriz, Sara partiu para o ataque e
não poupou críticas às líderes ucranianas. “O Femen Ucrânia funciona como uma
empresa ou uma agência de marketing. Não é um movimento social. Elas já podem
ter tido boas e reais intenções, mas hoje em dia é tudo completamente
corrupto”.
Sara confirmou ainda a acusação feita em setembro do ano
passado pela ex-ativista do Femen Brazil Bruna Themis. Em entrevista exclusiva,
Bruna explicou que uma das razões para a sua saída teria sido a exigência da
sede na Ucrânia de que as ativistas não estivessem acima do peso. Na época,
Sara negou a acusação. Agora, no entanto, voltou atrás e explica que o Femen
“quer sempre ativistas ‘lindas’ na linha de frente por questões de marketing”.
Segundo Sara, “a atitude é extremamente machista e reforça a
sociedade patriarcal”. O Femen Ucrânia diz que esta é uma forma de atrair as
pessoas para o feminismo.
Uma conversa pela Internet entre Sara e Inna Shevchenko
(líder ucraniana), divulgada recentemente, revela a preocupação de Inna com a
forma das ativistas. “(O protesto) da embaixada eussa não ficou sexy porque as
calcinhas eram pequenas e as meninas aparentavam estar mais gordas do que são
na vida real. Preste atenção nisso”, escreveu a ucraniana à brasileira.
Em outro chat na rede social Vkontatke, a mais popular da
Ucrânia, Inna explica a Sara que “o feminismo clássico já morreu”. Segundo ela,
as feministas fazem conferências, mas não conseguem compartilhar a ideologia
com a sociedade. Sara disse que “ela (Inna) não entende que o feminismo não
nasceu há 40 anos” e considera desrespeitoso dizer que o movimento clássico já
morreu. “O Femen não deve se achar melhor que o feminismo clássico. Isso é
também oprimir e praticar o preconceito. Ele ainda existe em vários lugares,
embora eu concorde que a maioria deles seja dentro da universidade”.
Em entrevista a Opera Mundi em setembro do ano passado, Sara
havia dito que o “feminismo no Brasil é elitista e hermético”, gerando muitas
críticas entre as feministas tradicionais.
A origem do dinheiro do Femen Internacional também é questionada
por Sara. “Quando eu estava na Ucrânia (junho/2012), percebi que as
organizadoras gostavam muito de ostentar alguns bens. Não sabemos quem financia
o movimento ucraniano”, declarou. Sara afirmou ainda que o grupo ganhava no ano
passado aproximadamente 20 mil dólares (R$ 41 mil) por mês. “Foi o que eu ouvi
quando estava lá. É difícil acreditar que esse dinheiro seja da venda de
camisetas e boobsprints (carimbos de seios)”.
As desavenças entre Sara e as líderes da Ucrânia não são
recentes. Desde o princípio, discordâncias a respeito de pontos centrais, como
a legalização da prostituição, revelavam a falta de coesão do movimento. A
Ucrânia afirma que a prostituição é sempre uma opressão à mulher e que a
atividade deve ser combatida, enquanto a sucursal brasileira defendia a
legalização ou fazia declarações vagas.
Outra crítica da brasileira é em relação a um suposto
autoritarismo da matriz. “O movimento é controlado com braço de ferro pela
Ucrânia e é todo baseado em hierarquia. Os outros escritórios não têm autonomia
nenhuma”, explicou Sara. “Não vou dizer que todo o movimento é uma farsa porque
isso seria descreditar o esforço de outras ativistas honestas, mas aconselho a
que ninguém confie nas organizadoras que se autointitulam líderes do movimento”,
conclui.
Fim do Femen Brazil
Para as ativistas do Femen Brazil, o fechamento da filial
nacional foi uma surpresa. “Não sabíamos o que acontecia na matriz. A gente não
tinha ideia do que existia por trás delas. Se a Sara estava de acordo com as
ideias de autopromoção da Ucrânia, deveria ter feito tudo o que elas mandavam.
E se não gostasse de algo, saísse”, declarou Amanda Regina, uma das ex-membros
do Femen Brazil. “Se era esta merd* desde o início, por que a Sara trouxe isso
(o movimento) para cá?”, questionou. Depois da declaração, Amanda resolveu
perdoar Sara e assinou uma nota conjunta apoiando a ex-líder.
Sara se defende das acusações de ter agido de má-fé e de
esconder os problemas do movimento aos membros da sucursal brasileira. “Eu
tinha esperança de tornar o Femen Brazil independente da Ucrânia e que, com o
tempo, as pessoas percebessem que nós eramos diferentes, bem intencionadas e
com mais conteúdo que as ucranianas”, declarou.
Juliana Freitas, mais conhecida como Pink, outra ex-Femen
Brazil, acredita que Sara enganou muitas meninas. “Ela foi suja e mentirosa.
Deveria ter sido honesta e avisado a todas no que estávamos nos metendo. Por
isso eu não duvido que ela possa ter ‘roubado’ a grana das meninas”, contou.
Entre as feministas brasileiras que atuam fora do Femen, o
fim da filial nacional foi comemorado. “O Femen usa o suposto ativismo em
benefício próprio. Elas não ajudam a construir nada e só querem mídia. Além
disso, a maioria de suas ativistas são o protótipo da padronização da beleza
que encontramos na sociedade”, declarou Anna Rocha, uma das vozes mais críticas
ao Femen na blogosfera do Brasil.
As ex-Femen querem agora aproveitar a popularidade
conquistada no Brasil para o desenvolvimento de novos projetos. Sara pretende
fundar outros dois grupos com algumas das ex-participantes. Um deles é o
“Filhxs de Julieta”, que contará com uma equipe para responder a e-mails de
mulheres que tenham problemas amorosos, de violência ou com qualquer mágoa.
“Vamos responder com muito amor e empatia”, explica. O outro movimento se
chamará “Bastardxs” e pretende ser um “Femen adaptado ao contexto brasileiro”.
O Femen Internacional pretende abrir uma nova filial no Brasil nos próximos
seis meses.
Fonte : (Sandro Fernandes) Opera Mundi
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