Já é quase Natal, mas ainda dá
tempo de revermos pensamentos e atitudes.
Por Max Velati*
Já é quase Natal, mas ainda dá
tempo. Todo ano, no embalo das tradicionais cítaras paraguaias, sob nevascas de
algodão de farmácia e conduzidos por suarentos homens de barbas falsas, damos
início a uma grande produção teatral.
Nós somos o elenco. Desempenhamos
nossos papéis com mais ou menos talento, dependendo do dinheiro, da hipocrisia
e das circunstâncias. Esvaziamos a carteira comprando presentes, alguns
espontaneamente, outros pelo método seguro e insípido do “amigo-oculto”. O
resto do pessoal recebe qualquer bobagem porque o importante é cumprir o
ritual.
A razão de abordar este tema tão
antecipadamente é simples. Nosso desempenho neste teatro precisa melhorar. E
muito. Não adianta fazermos programas de solidariedade, musicais com renda
destinada às criancinhas e até entoarmos emocionados os tradicionais cânticos
de boa vontade se no resto do ano está exposta a verdadeira face da sociedade
que estamos construindo.
Já é quase Natal, mas ainda dá
tempo de superarmos questões simples. Que tal o fim da ridícula novela sobre
amamentação em público? Tão simples! Basta permitir de maneira irrestrita e
celebrar o ritual que nos une na inocência da infância e na beleza mágica da
maternidade.
Já é quase Natal, mas ainda dá
tempo de corrigir nosso script de fim de ano e considerar Halloween, Carnaval e
o próprio Natal como festas do Planeta Terra, sem a bobagem de terrorismo
cultural. Tão simples! Mais festas, mais alegria, menos patrulhas ideológicas!
Já é quase Natal, mas ainda dá
tempo para riscar dos temas ainda em discussão o beijo gay na TV, por exemplo.
Temos tantos assuntos importantes e o Natal seria mais leve com ao menos uma
questão - mesmo que tão pequena - já resolvida. Sobraria tempo para uma boa
revisão nos padrões de educação ou para ensinar crianças e adultos que lugar de
lixo é na lixeira. Que bom seria um Natal mais limpo!
Já é quase Natal, mas ainda dá
tempo de revermos pensamentos e atitudes para darmos de presente ao planeta um
mundo menos racista, mais tolerante, mais fiel à ideia de fraternidade, tão
típica das mensagens natalinas. Que tal, (proponho ousadamente), um Natal onde
cada um ganha de presente o direito de ter a religião que quiser? Se é assim
tão difícil, que tal ao menos respeito quanto aos times de futebol?
Falo agora em novembro para dar
tempo. Já é quase Natal, mas ainda podemos parar o desmatamento, os incêndios
criminosos e os abusos e desrespeitos às leis. Que tal o fim do uso do celular
ao volante? Tão simples, mas seria um presentão!
Para não pegar ninguém
desprevenido, pensando que foi assim um tema de última hora, uma sugestão de
improviso, escrevo já neste comecinho de novembro avisando que já é quase
Natal, mas ainda dá tempo de celebrarmos o Natal por tudo o que ele realmente
significa.
Vamos ensaiando desde já?
*Max Velati trabalhou muitos anos
em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros
sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da
literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de S.
Paulo. Publica no Dom Total toda sexta feira.
Fonte: Dom Total
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