domingo, 8 de novembro de 2015

Quase Natal

Já é quase Natal, mas ainda dá tempo de revermos pensamentos e atitudes.


Por Max Velati*

Já é quase Natal, mas ainda dá tempo. Todo ano, no embalo das tradicionais cítaras paraguaias, sob nevascas de algodão de farmácia e conduzidos por suarentos homens de barbas falsas, damos início a uma grande produção teatral.

Nós somos o elenco. Desempenhamos nossos papéis com mais ou menos talento, dependendo do dinheiro, da hipocrisia e das circunstâncias. Esvaziamos a carteira comprando presentes, alguns espontaneamente, outros pelo método seguro e insípido do “amigo-oculto”. O resto do pessoal recebe qualquer bobagem porque o importante é cumprir o ritual.

A razão de abordar este tema tão antecipadamente é simples. Nosso desempenho neste teatro precisa melhorar. E muito. Não adianta fazermos programas de solidariedade, musicais com renda destinada às criancinhas e até entoarmos emocionados os tradicionais cânticos de boa vontade se no resto do ano está exposta a verdadeira face da sociedade que estamos construindo.

Já é quase Natal, mas ainda dá tempo de superarmos questões simples. Que tal o fim da ridícula novela sobre amamentação em público? Tão simples! Basta permitir de maneira irrestrita e celebrar o ritual que nos une na inocência da infância e na beleza mágica da maternidade.

Já é quase Natal, mas ainda dá tempo de corrigir nosso script de fim de ano e considerar Halloween, Carnaval e o próprio Natal como festas do Planeta Terra, sem a bobagem de terrorismo cultural. Tão simples! Mais festas, mais alegria, menos patrulhas ideológicas!

Já é quase Natal, mas ainda dá tempo para riscar dos temas ainda em discussão o beijo gay na TV, por exemplo. Temos tantos assuntos importantes e o Natal seria mais leve com ao menos uma questão - mesmo que tão pequena - já resolvida. Sobraria tempo para uma boa revisão nos padrões de educação ou para ensinar crianças e adultos que lugar de lixo é na lixeira. Que bom seria um Natal mais limpo!

Já é quase Natal, mas ainda dá tempo de revermos pensamentos e atitudes para darmos de presente ao planeta um mundo menos racista, mais tolerante, mais fiel à ideia de fraternidade, tão típica das mensagens natalinas. Que tal, (proponho ousadamente), um Natal onde cada um ganha de presente o direito de ter a religião que quiser? Se é assim tão difícil, que tal ao menos respeito quanto aos times de futebol?

Falo agora em novembro para dar tempo. Já é quase Natal, mas ainda podemos parar o desmatamento, os incêndios criminosos e os abusos e desrespeitos às leis. Que tal o fim do uso do celular ao volante? Tão simples, mas seria um presentão!

Para não pegar ninguém desprevenido, pensando que foi assim um tema de última hora, uma sugestão de improviso, escrevo já neste comecinho de novembro avisando que já é quase Natal, mas ainda dá tempo de celebrarmos o Natal por tudo o que ele realmente significa.

Vamos ensaiando desde já?

*Max Velati trabalhou muitos anos em Publicidade, Jornalismo e publicou sob pseudônimos uma dezena de livros sobre Filosofia e História para o público juvenil. Atualmente, além da literatura, é professor de esgrima e chargista de Economia da Folha de S. Paulo. Publica no Dom Total toda sexta feira.
Fonte: Dom Total

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