Liliane Oliveira integra, em
Salvador, a Marcha das Mulheres, movimento mundial pelos direitos femininos
(Foto: Márcio Lima/ÉPOCA)
A baiana Liliane Oliveira foi
violentada na faculdade. Hoje, ela faz parte de um grupo para lutar pelos
direitos femininos.
Integrante da Marcha das
Mulheres, movimento internacional que combate a mercantilização dos corpos
femininos, a designer baiana Liliane Oliveira, de 32 anos, sofreu na infância
todo tipo de assédio em suas longas caminhadas entre a casa e o colégio, em
Salvador. Algo mais grave aconteceria depois. Ela ainda era caloura no curso de
serviço social da Universidade Católica de Salvador, em 2007, quando decidiu,
com um grupo de colegas, disputar a eleição para o diretório central de
estudantes.
Sacramentada a vitória, os
membros da chapa foram comemorar em um bar perto do campus. Como Liliane morava
longe do local, aceitou o convite para dormir na casa de um amigo de faculdade,
dividindo o mesmo quarto. Suas lembranças do episódio são chocantes. “Eu estava consciente. Meu amigo fechou a
porta, cada um deitou no seu canto do quarto e dormimos. Acordei com o
movimento de alguém me pressionando. Meu vestido estava no meu pescoço, a minha
calcinha no joelho e havia um cara em cima de mim prestes a me penetrar”, diz
Liliane, então com 23 anos. Quando se deu conta da situação, ela gritou
desesperada, até que o amigo que dormia no mesmo quarto acordou e veio
acudi-la, juntando-se a ele outras pessoas que estavam na casa. “Eles
expulsaram o agressor, enquanto eu esta aos prantos”, diz ela. “Mas a história
não tinha acabado. Ainda tive que ouvir do meu amigo que eu estava querendo.
Naquele momento, ninguém me apoiou a denunciar meu estuprador”.
Somente algumas semanas depois
Liliane conseguiu romper o silêncio autoimposto e contou o nefasto episódio a
uma amiga. “Choramos juntas. Ela me encorajou a denunciar, mas eu não tinha
confiança para ir a uma delegacia. Ia sofrer ao contar aquilo tudo para eles”,
afirma. “Ter passado por essa experiência sem denunciá-la é parte desse processo
de naturalização da violência contra a mulher.”
Naquele mesmo ano, tornou-se uma
ferrenha ativista da causa. “Comecei a me entender melhor e a ver o que era o
combate à violência contra a mulher. Desde então, procuro acolher as vítimas
que passaram pelo que eu passei. Eu fiquei mais dura, mas agora sei o que
fazer”, afirma Liliane. A segunda vez que conseguiu falar do assunto foi dois
anos depois, em 2009, para ajudar outras meninas. Monique participava do Fórum
Social Mundial de 2009, em Belém, quando uma outra jovem foi abusada durante o
encontro. “Em uma roda de discussão da Marcha da Mulheres o assunto veio a tona
e eu dei meu depoimento”, afirma.
Por que Liliane persiste, apesar
da dor? “O que não me fez desistir foi o sentimento de indignação. Achei que
estaria segura na Universidade, com companheiros do meu lado. Mas não estava”,
diz.
Fonte: Revista Época
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