Prostituta sendo abordada por cliente na 'região dos
motéis', em Goiânia (Foto: Sílvio Túlio/G1)
Uma pesquisa feita pela
Universidade Federal de Goiás (UFG) traçou um panorama de como é a atuação das
mulheres que se prostituem em Goiânia. O estudo aponta que a maioria tem até 30
anos, exige relações com preservativo, é solteira e promove o sustento
financeiro da casa e da família. Algumas delas chegam a receber até R$ 30 mil
mensais.
O G1 foi até a "região dos
motéis", na capital, conhecida assim pela grande concentração destes
estabelecimentos e de profissionais do sexo, e repercutiu os dados com algumas
delas. Muitas reafirmaram os resultados do estudo (veja perfis, com nomes
fictícios, abaixo).
O trabalho foi coordenado pelo
professor Marcos André de Matos e se desdobrou em sua tese de doutorado na área
de enfermagem. Ao todo, foram entrevistadas 402 mulheres. Para chegar a todas
elas, ele usou um método diferente, chamado Respondent-Driven Sampling (RDS),
que em em português significa "amostragem dirigida pelos participantes".
"Para obtermos o número mais
abrangente possível, distribuímos questionários para sete 'sementes',
prostitutas que tem uma grande rede de contatos com outras profissionais. Elas
passavam as perguntas para outras três mulheres, estas para mais três e assim
sucessivamente", explicou ao G1.
Desta forma, Matos conseguiu
coletar dados das mais diversas profissionais que atuam nas ruas, bares, boates
e cinemas eróticos. Os resultados eram entregues pessoalmente e todas as
participantes tinham o sangue coletado para realização de exames, além de
receber preservativos.
O experimento concluiu que 70%
das mulheres têm até 30 anos. Metade do total ficou apenas nove anos na escola.
A maioria, 80%, afirma possuir alguma religião.
É grande também a quantidade de
entrevistadas que sustentam a casa e outras pessoas - 69%. Apenas 13% disse que
não utiliza preservativo em todas as relações. O número de parceiros estáveis
em uma semana chega a sete.
Manoela (nome fictício) diz que optou pelo ramo por 'um nível de vida melhor' (Foto: Sílvio
Túlio/G1)
'Nível de vida melhor'
O estudo também mapeou onde
existe a maior incidência de prostituição na cidade: as regiões central e sul.
O G1 foi até a Vila Nossa Senhora de Lourdes, às margens da BR-153, na área
conhecida como "região dos motéis", para ouvir essas mulheres.
Na porta de uma boate, a
reportagem encontrou Manoela, de 24 anos. Com um vestido vermelho, ela chamava
a atenção pelo corpo escultural e diz que não tem problemas para conseguir
clientes.
"Já cheguei a fazer 14
programas em um dia. Trabalho de segunda a sábado e ganho por dia uma média de
R$ 700. Em um mês bom, já cheguei a tirar R$ 30 mil", disse a jovem,
confirmando os dados da pesquisa.
Ela está na atividade há um ano e
meio. Saiu de Minaçu, no norte de Goiás, onde deixou o trabalho de garçonete e
o salário mínimo que recebia. Veio em busca de um "nível de vida
melhor" para ela e para o filho, de 5 anos.
"Quando trabalhei em uma
academia, ouvia muito falar [de prostituição] e do quanto ganhava. Vim para
Goiânia para ficar, sem volta. Estava focada. Hoje, tenho casa, carro e pago
uma escola em tempo integral para meu filho ficar enquanto trabalho",
explica.
O turno dela é das 10h às 19h.
Alguns dias pela manhã, ela malha e vai ao salão de beleza. As visitas à
ginecologista também são frequentes, de dois em dois meses. O cuidado evitou
que ela tivesse algum tipo de doença até então.
A família, segundo ela, finge que
não sabe. Menos o pai, que busca o neto na escola todos os dias. Em dois anos,
ela pretende largar a profissão e ingressar em curso superior de design.
Questionada se tem namorado, ela foi enfática: "Não. Fico com tantos homens
diferentes que hoje não sei se viveria sufocada por apenas um", explica.
Vanessa reclama de concorrência,
mas se diz 'experiente' (Foto: Sílvio Túlio/G1)
'Entrei pelos meus filhos'
Na mesma região estava Vanessa,
de 39 anos, que diz que escolheu a profissão para cuidar dos três filhos.
Apesar de atuar na área há quatro anos, ela diz que "sofre com a
concorrência" e se esforça para ganhar R$ 1,2 mil por mês.
"Entrei para meus filhos não
virarem bandidos. Eu apanhava do meu marido e, um dia, o meu mais velho disse
que iria matá-lo quando crescesse. Então eu o abandonei e fui criar meus filhos
sozinha", lembra.
Hoje, além dos três filhos, de
22, 20 e 17 anos, ela tem ainda dois netos. Em um futuro não tão distante, ela
já se enxerga vendendo salgados na porta de uma faculdade, onde os familiares
já trabalham.
Vanessa, que fica só de bermuda e
sutiã na porta de um motel, onde faz os programas. Semestralmente, ela vai ao
médico e garante que só transa com camisinha.
Questionada se está velha para a
profissão, ela nega. "Tenho clientes fixos que vem aqui e dizem que
preferem ficar comigo pela minha experiência", contou.
Gêmeas, lésbicas e prostitutas
E o ramo da prostituição também
reúne pessoas da mesma família. É o caso das gêmeas Tatyane e Gabriela, de 18
anos, que trabalham juntas na "região dos motéis". Lésbicas, elas
moram com outras duas mulheres. Apesar das semelhanças, elas dizem que suas
companheiras têm opiniões diferentes sobre a profissão.
"Minha mulher sabe, mas pede
para deixar o meu trabalho na rua. Já a dela nem sabe. Acha que ela faz faxina
na rua. O importante é ter dinheiro em casa", diz Tatyane, que tem um
filho de 2 anos de quando ainda se relacionava com homens. Ela foi a primeira a
entrar para o ramo e, quando tinha nove meses de atuação, levou a irmã.
Gabriela diz que até fez faxina,
mas "cansou" de receber pouco e não ser valorizada. Hoje, chega a
receber R$ 5 mil por mês. São apenas dois meses sendo abordada por clientes em
busca de sexo. Ainda sem um prazo definido, ela sonha em seguir a carreira de médica veterinária.
Gêmeas, Gabriela e Tatyane são casadas com outras mulheres
(Foto: Sílvio Túlio/G1)
Fonte: G1
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