A estreia do programa MasterChef
Júnior na última terça-feira (20), que reúne crianças de 9 a 13 anos cozinhando
"que nem gente grande" não ficou marcada pelo talento dos
participantes, mas sim, pelos comentários com teor sexual direcionados a
Valentina, uma das participantes do reality, de apenas 12 anos.
Durante o programa, comentários como
"se tiver consentimento é pedofilia?", "com doze anos ela vai
virar secretaria de filme pornô", "a culpa da pedofilia é dessa
molecada gostosa", "essa Valentina fazendo esses pratos: que
vagabunda!" foram feitos no Twitter, em sua maioria, por homens, direcionados
à participante.
No texto "quando uma menina
de 12 anos no MasterChef Jr desperta o desejo de homens adultos precisamos
falar sobre a cultura do estupro", publicado no Brasil Post, a jornalista
Carol Patrocínio levantou o enorme problema desta questão:
"É importante falar sobre a
cultura do estupro. Ela anda nas entrelinhas de muitos discursos. Ela caminha
ao lado da ideia de que homens não conseguem conter seus instintos. Ela está
totalmente ligada ao falso consenso que poderia dar uma criança. Ela é
reforçada pela infantilização de mulheres adultas. A impunidade é sua melhor
amiga e a culpabilização da vítima sua principal arma."
Assim que o caso ganhou as redes
sociais, o coletivo feminista Think Olga, que luta contra o assédio em espaços
públicos e outros tipos de violência contra a mulher, lançou a hashtag
#primeiroassédio no Twitter, incentivando mulheres a contar quando foi a
primeira vez que foram assediadas -- e expor um problema que é tão enraizado,
que é entendido como "brincadeira" ou "normal".
Obrigada a tantas mulheres que
encontraram força para dividir suas histórias. Vamos reunir num post na OLGA
sobre o #PrimeiroAssedio
— Think Olga (@ThinkOlga) 22
outubro 2015
Desde a infância, somos ensinadas
que o ESPAÇO PÚBLICO NÃO NOS PERTENCE. E se tentarmos retomá-lo, seremos
retaliadas. #PrimeiroAssedio
— Think Olga (@ThinkOlga) 21
outubro 2015
Por favor, compartilhem suas
histórias com a hashtag #PrimeiroAssedio. Vamos reunir as histórias e
publicá-las na OLGA.
— Think Olga (@ThinkOlga) 21
outubro 2015
Para mostrar que o assédio é algo
que deve ser punido - é fundamental não silenciar. As mulheres se sentem
intimidadas e, para se preservar de julgamentos, sofrem em silêncio por uma
violência que deixa marcas para a vida toda. Situações de meninas que, aos 7,
8, 9, 10 anos já foram submetidas a situações de violência, assédio e machismo
foram compartilhadas na #primeiroassédio.
Abaixo estão 16 histórias
compartilhadas por mulheres no Twitter. Até a manhã desta quinta-feira (22),
cerca de 2,5 mil tweets mencionaram a hashtag.
ATENÇÃO:
As histórias abaixo podem ser
gatilho para sensações desagradáveis
13 anos. apê na praia com avós.
sou acordada no meio da noite por amigo da família. ele estava bêbado e pelado.
#primeiroassedio
— K. (@leitoramedia) 22 outubro
2015
Com 11 anos, eu estava indo para
aula de dança e um homem passou a mão na minha bunda. #PrimeiroAssédio
— caról (@eigoldwoman) 22 outubro
2015
13 anos. Andando na rua pra ir no
supermercado. Ouvi de um senhor que eu ja tinha peitos lindos. #primeiroassedio
— massia (@affmarcia) October 22,
2015
Eu tinha 7 anos, um cara no
bairro se masturbou atrás de um poste vendo eu e minhas vizinhas brincando, nós
corremos. #PrimeiroAssedio
— Nathália (@nathaliaraks)
October 21, 2015
Com 11, fui agarrada por dois
colegas mais velhos na escola e ao reclamar a diretora disse que eu dei motivo.
#PrimeiroAssedio
— Mariana (@marifoipromar)
October 21, 2015
Com 11 anos estava com minha tia
na praia e uns caras começaram a olhar muito, mexer comigo e tirar fotos da
minha bunda #primeiroassedio
— Kelli (@kssimoura) October 22,
2015
13 anos. apê na praia com avós.
sou acordada no meio da noite por amigo da família. ele estava bêbado e pelado.
#primeiroassedio
— K. (@leitoramedia) October 22,
2015
Eu tinha 11 quando um guri
apertou minha bunda na sala de aula. Eu tive medo de reclamar e ele me seguir
ate em casa. #primeiroassedio
— Ca ro li ne (@caroldrmb)
October 22, 2015
Meu #primeiroassédio foi com uns
11 anos. Tava saindo do treino da natação de maiô e roupão e o porteiro da
escola disse q eu era "gostosa'
— Denise. (@denisices) October
22, 2015
com 14, o açougueiro ficava
mexendo comigo. minha mãe botou a culpa em mim. #PrimeiroAssedio
— marta (@suco_de_uva) October
22, 2015
meu #primeiroassédio foi aos 10
anos. um velho colou em mim e perguntou se eu já tinha pelinhos "la".
chutei a canela dele e corri.
— clara averbuck (@claraaverbuck)
22 outubro 2015
Um primo. Eu tinha 8 anos. Chegou
a desabotoar minhas calças e passar a mão em mim. Me escondi por um dia no
banheiro. #primeiroassedio
— lola são paulina (@lolaspfc) 21
outubro 2015
Tinha uns 8 anos e esperava minha
mãe nas compras. Dois rapazes passaram por trás, pegaram na minha bunda e
saíram rindo. #PrimeiroAssédio
— Bruxa Onilda (@byankarruda) 21
outubro 2015
Aos 10 anos um tio que morou
conosco me assediou e fez propostas. Nunca comentei com a família por medo de
me culparem. #PrimeiroAssedio
— Soraya Coelho (@soraya_coelho)
21 outubro 2015
No Twitter, as mulheres continuam
compartilhando histórias sobre a primeira vez que foram assediadas: 9, 10, 11,
12 anos e já são marcadas pela violência sexual. Você viveu algo parecido?
Divida a sua história com a hashtag criada pelo Think Olga e NÃO silencie este
tipo de violência: #PrimeiroAssedio.
Fonte: Brasil Post
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