O WhatsApp alcançou, neste ano,
700 milhões de pessoas ao redor do mundo. "Boa parte dessas pessoas mantêm
um uso abusivo com a tecnologia", afirma especialista (Foto: Thinkstock)
Pesquisadores da UFRJ estudam a
dependência digital e já fornecem tratamento em casos mais graves.
O WhatsApp já chegou a 700
milhões de pessoas, que enviam e recebem um total de 30 bilhões de mensagens
por dia. Esses números, divulgados por seu criador, Jan Koum, talvez nem fossem
necessários para lhe convencer de que o aplicativo se alastrou — e já tem
deixado muitos de seus usuários depedentes.
Esse vício tem nome: nomofobia, e
não se restringe apenas ao vício em comunicadores de mensagens, como o
WhatsApp, mas também em internet, celular e redes sociais, como o Facebook. Se
você passa o dia conectado, não se preocupe tanto. O que define essa
dependência digital não é só o tempo que o usuário permanece online, mas se o
mundo virtual tomou ou não controle de sua vida real.
“Todo dependente digital usa
muito a tecnologia, mas nem todo mundo que usa muito é dependente. O importante
é usar de forma consciente”, afirma o pesquisador Eduardo Guedes, membro do
Instituto Delete, núcleo de pesquisa em “detox digital” vinculado ao Instituto
de Psiquiatria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
De acordo com o especialista, a
relação dos usuários com a tecnologia pode ser dividida em três categorias: o
uso consciente, em que o virtual não atrapalha o real; o uso abusivo (por lazer
ou trabalho), em que a vida real começa a ser prejudicada; e o uso dependente,
quando já há um alto nível de perda de controle. “Tem gente que deixa de viajar
porque não vai ter acesso à internet, por exemplo”, diz Guedes.
Mas o que atrai essas pessoas?
Segundo o pesquisador, há uma explicação científica para tanto apego. Mais do
que saber sobre a vida dos outros, um dos grandes atrativos do WhatsApp é falar
de si mesmo — ato que gera tanta satisfação quanto comer, dormir ou fazer sexo.
“Todas essas atividades estimulam áreas do córtex cerebral ligadas ao prazer”,
afirma o pesquisador.
Em uma conversa normal, as
pessoas falam de si mesmas, em média, durante 30% do tempo. Mas nas redes
sociais esse índice sobe para 90%. “Ou seja, em sua maioria, as pessoas
compartilham e publicam coisas sobre elas mesmas, principalmente porque na
internet o feedback é instantâneo. Alguém comenta, curte, elogia… E com isso o
usuário é recompensado”, diz Guedes.
Taquicardia?
Assim como em outros vícios, a
nomofobia também apresenta sintomas físicos. Perda de apetite e de sono,
irritabilidade, depressão e ansiedade, por exemplo, já são notados em usuários
que, por algum motivo, perdem acesso ao dispositivo ou aplicativo querido.
“Nove em cada dez pessoas, quando esquecem o celular em casa, voltam para
buscar. E isso é absolutamente normal”, afirma o pesquisador. “Mas uma parte
desses nove vai sentir taquicardia, ansiedade, sudorese, etc., até recuperar o
telefone. São os sintomas da perda de controle.”
Tratamento
Ficou preocupado? O Instituto
Delete oferece tratamento gratuito contra a nomofobia no campus da UFRJ. O
atendimento, aberto ao público, acontece todas as sextas-feiras, das 8h ao meio
dia, por ordem de chegada. “Fazemos uma triagem com cada um e medimos seu nível
de relação com a tecnologia”, diz Guedes. “Uma vez constatada a dependência
digital, o usuário recebe um tratamento de, em média, 8 sessões, à base de
terapia comportamental e cognitiva. Nos casos mais graves, sugerimos até
medicamentos.”
Faça o teste abaixo e descubra em
que nível está sua relação com o WhatsApp. Lembre que o questionário não mede o
tempo que você utiliza o aplicativo, mas sim evidências de um possível prejuízo
da vida virtual no mundo real e o seu nível de controle. O teste completo,
publicado no livro Nomofobia, lançado em 2014 pelo Instituto Delete, pode ser
respondido no site oficial do grupo.
Você é dependente de WhatsApp?
Faça o teste e descubra como você se relaciona com
o aplicativo nos dias de hoje.
Para cada
pergunta, responda: (A), (B) ou (C).
A.
Sempre ou
frequentemente
B.
Ocasionalmente
C.
Nunca ou raramente
A B
C
A. Nunca ou raramente
1
Você se sente rejeitado quando
percebe que alguém leu sua mensagem, mas não respondeu?
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2
Você usa o WhatsApp para evitar a
sensação de estar só?
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3
Você já deixou ou deixaria de
viajar para não ficar desconectado dos seus dispositivos?
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4
Você ignora o mundo real ou pessoas
que estão do seu lado para se comunicar com pessoas através do WhatsApp?
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5
Você envia ou consulta mensagens no
celular enquanto dirige?
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6
Leva os seus dispositivos e
consulta mensagens em todas as situações do cotidiano, como academia,
banheiro, mesas de refeição ou mesmo ao deitar na sua cama?
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7
Você se sente ansioso ou com algum
destes sintomas: deprimido, ansioso, instável, angustiado, agitado, com medo,
desorientado ou nervoso quando não está conectado, e isso desaparece quando
volta a se conectar?
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8
Já teve dores na coluna ou
tendinite nas mãos em função do tempo que ficou conectado ao seu celular?
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9
O uso excessivo do WhatsApp já teve
efeitos negativos nos seus estudos ou trabalho?
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10
Você tem conflitos de
relacionamento por ficar muito tempo conectado no mundo virtual?
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O
teste não tem a proposta de mensurar o tempo em que se fica conectado, mas sim
avaliar as evidências de perda de controle. O questionário é uma versão
simplificada produzida com exclusividade pelo Instituto Delete a ÉPOCA. A
versão completa pode ser encontrada em www.institutodelete.com
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