Uma em cada cinco mulheres no
Brasil já foi espancada pelo marido, companheiro, namorado ou ex. E apesar de
100% das brasileiras conhecerem a Lei Maria da Penha, promulgada há nove anos,
elas ainda se sentem desrespeitadas. Ciúmes e bebida aparecem como as
principais causas da violência, que já vitimou 18% das mulheres brasileiras.
Aumentaram os registros de violência psicológica e diminuiu a sensação de
proteção.
Os dados foram revelados na
pesquisa do DataSenado, realizada de 24 de junho a 7 de julho, quando 1.102
brasileiras foram ouvidas na sexta rodada da série histórica sobre violência
doméstica e familiar contra a mulher. O trabalho é feito desde 2005, a cada
dois anos, com mulheres de todos os Estados do país.
“A pesquisa serviu como marco
zero, antes mesmo da promulgação da Lei Maria da Penha, para levar ao
Parlamento os dados sobre a realidade brasileira e servir de instrumento para a
elaboração de legislação de combate às agressões”, observou Thiago Cortez
Costa, assessor especial da Secretaria de Transparência do Senado, cientista político
e mestre em pesquisas sociais.
Uma novidade este ano é o
crescimento da percepção do desrespeito: 43% das pesquisadas não se consideram
respeitadas hoje, contra 35% de 2013. Apenas 5% consideram que as mulheres são
respeitadas no Brasil. Em 2013, eram 10%. As mulheres dizem que são menos
respeitadas principalmente na sociedade (57%), mas outras também afirmam sofrer
o mesmo tratamento na família (23%) e no trabalho (18%).
Violência
Repetindo índices da pesquisa
anterior e reforçando o pessimismo, que tem sido marcante nas pesquisas deste
ano, para 63% das entrevistadas a violência contra as mulheres aumentou; para
23%, continua igual; e 13%, diminuiu. As agressões físicas ainda são
majoritárias entre as violências praticadas contra as mulheres, 66%. E a
pesquisa também registrou crescimento de 10 pontos percentuais no índice de
violências psicológicas, 48% este ano, contra 38% em 2013. Houve, no entanto,
redução na violência moral, de 39%, em 2013, para 31%.
As mais agredidas ainda são as
que têm menor nível de instrução: 27% entre as que cursaram até o ensino
fundamental, 18% até o ensino médio e 12% com curso superior. Entre os
agressores, 73% não têm laços sanguíneos com a vítima, mas têm relação de afeto
e vivem com elas. Assim, 49% das agressões continuam sendo praticadas por
maridos ou companheiros, 21% por ex, e 3% por namorados.
Quase a totalidade (97%) das
pesquisadas entende que os agressores devem ser processados ou punidos, ainda
que sem a concordância da vítima. No universo das maltratadas, 26% continuam
convivendo com o agressor; 23% sofrem hostilidades semanais e 67% são vítimas
de violências ocasionais. Os ciúmes e o consumo de bebidas alcoólicas são os
principais desencadeadores das agressões, 21% e 19% respectivamente. Também 21%
das agredidas ainda não denunciam ou procuram ajuda, 20% buscam socorro na
família, 17% vão às delegacias comuns e 11% às delegacias da mulher.
Repercussão
A pesquisa foi apresentada nesta
terça-feira (11) na Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a
Mulher, com a presença do presidente do Senado, Renan Calheiros, do ministro da
Saúde, Arthur Chioro, e da ministra da Secretaria de Política para as Mulheres,
Eleonora Menicucci.
“Quanto mais pesquisas, mais
visível se torna a violência e mais portas e janelas se abrem para que a
sociedade se conscientize que não podemos mais conviver com essa lamentável
crueldade contra a mulher”, afirmou a ministra.
Renan Calheiros ressaltou que
levantamentos como esse são uma preocupação do Senado. “Emanam das pesquisas de
opinião subsídios importantes para que possamos tomar decisões e encaminhar
respostas mais afinadas com a população”, afirmou Renan ao destacar a urgência
na aprovação de leis como a que tornou hediondo o crime de feminicídio.
A presidente da comissão mista,
senadora Simone Tebet (PMDB-MS), reforçou a importância da consagração da Lei
Maria da Penha. “A lei não tem número, tem nome e sobrenome como todas as
mulheres deste país. Ela teve a capacidade de unir todas as ações, na
prevenção, assistência e na repressão em todos os Poderes e em todas as
esferas. E permitiu colocar na agenda institucional essa grave violência”,
disse a senadora.
As procuradoras da Mulher no
Senado, Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), e na Câmara dos Deputados, Elcione
Barbalho (PMDB-PA), destacaram o valor da pesquisa como fonte de informação
para subsidiar as políticas públicas. O julgamento dos casos e a punição do
agressor também foram apontados por elas como resultado das ações de combate à
violência contra a mulher.
Veja a pesquisa:
http://www12.senado.gov.br/noticias/arquivos/2015/08/10/violencia-domestica-e-familiar-contra-a-mulher
Fonte: Geledes
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