segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Tráfico de pessoas é tema de debate na Câmara Legislativa

Abrir os olhos da população para um crime muitas vezes dissimulado: o tráfico de pessoas. Esse foi o objetivo da reunião pública realizada na manhã desta segunda-feira (10), na Câmara Legislativa. Por iniciativa do deputado Raimundo Ribeiro (PSDB), autoridades, assistentes sociais e estudiosos do tema debateram o problema, que também assola o Distrito Federal.


Para Davi Ulisses, da Secretaria Nacional de Justiça, o tráfico de pessoas é uma “modalidade criminosa subterrânea”, já que muitas vezes não é percebida nem mesmo por aqueles que sofrem a exploração. “As vítimas nem sempre se reconhecem como tal, mas sim como pessoas desafortunadas, que buscam uma melhoria de vida”, afirmou. Em muitos casos, são mulheres de origem pobre e de família desestruturada, que acabam seduzidas por promessas de emprego fácil dentro e fora do país. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 83% dos trabalhadores em condição análoga à escravidão são mulheres.

Mas o tráfico de pessoas não se resume à prostituição forçada. “Os relatos de casos de trabalho análogo à escravidão vêm crescendo muito nas cidades, já superando as ocorrências no campo. Muitos estrangeiros são explorados desta maneira”, aponta Davi Ulisses. O professor da Universidade Católica de Brasília, Hedel Torres, ressalta que tais ocorrências são comuns no DF. “É registrado um número considerável de casos entre chineses que são forçados a trabalhar em condições precárias e sem direito algum. Seus passaportes são retidos, seus salários ficam em poder dos traficantes e chegam a trabalhar de 14 a 16 horas por dia. Muitas vezes, dormem junto às mercadorias”, observou.

George Lima, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, classificou o crime contra um atentado aos direitos humanos. “É um crime que coisifica as pessoas. Mas temos que lembrar que ele é motivado pela falta de condições socioeconômicas de boa parte da população. Esse crime só pode ser combatido por uma frente ampla, envolvendo governo e sociedade, promovendo empregos dignos, educação, saúde”, afirmou.

A deputada federal Erika Kokay (PT/DF) destacou que “o tráfico de pessoas é uma agressão inaceitável à dignidade das pessoas”, comentando que em seu trabalho em CPI do Congresso Nacional pôde constatar a gravidade do processo de “mercantilização” dos seres humanos que são absorvidos tanto pela exploração sexual, como pelo tráfico de drogas. “Existe uma transversalidade nessas questões”, denunciou.

Ao concluir a reunião, Ribeiro lamentou a ausência de representantes da Secretaria de Educação e também da Secretaria da Segurança. “É preciso ter compreensão sobre a gravidade desse problema, que exige nossa ação conjunta”, advertiu, defendendo que o debate ao “inimaginável” tráfico de pessoas “invada, de forma positiva” as escolas e universidades do País. “Precisamos ampliar esse debate para outros fóruns”, propôs.


Fonte: http://diariodocongresso.com.br/

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