Abrir os olhos da população para
um crime muitas vezes dissimulado: o tráfico de pessoas. Esse foi o objetivo da
reunião pública realizada na manhã desta segunda-feira (10), na Câmara
Legislativa. Por iniciativa do deputado Raimundo Ribeiro (PSDB), autoridades,
assistentes sociais e estudiosos do tema debateram o problema, que também
assola o Distrito Federal.
Para Davi Ulisses, da Secretaria
Nacional de Justiça, o tráfico de pessoas é uma “modalidade criminosa
subterrânea”, já que muitas vezes não é percebida nem mesmo por aqueles que
sofrem a exploração. “As vítimas nem sempre se reconhecem como tal, mas sim
como pessoas desafortunadas, que buscam uma melhoria de vida”, afirmou. Em
muitos casos, são mulheres de origem pobre e de família desestruturada, que
acabam seduzidas por promessas de emprego fácil dentro e fora do país. Segundo
a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 83% dos trabalhadores em
condição análoga à escravidão são mulheres.
Mas o tráfico de pessoas não se
resume à prostituição forçada. “Os relatos de casos de trabalho análogo à
escravidão vêm crescendo muito nas cidades, já superando as ocorrências no
campo. Muitos estrangeiros são explorados desta maneira”, aponta Davi Ulisses.
O professor da Universidade Católica de Brasília, Hedel Torres, ressalta que
tais ocorrências são comuns no DF. “É registrado um número considerável de
casos entre chineses que são forçados a trabalhar em condições precárias e sem
direito algum. Seus passaportes são retidos, seus salários ficam em poder dos
traficantes e chegam a trabalhar de 14 a 16 horas por dia. Muitas vezes, dormem
junto às mercadorias”, observou.
George Lima, da Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, classificou o crime contra um
atentado aos direitos humanos. “É um crime que coisifica as pessoas. Mas temos
que lembrar que ele é motivado pela falta de condições socioeconômicas de boa
parte da população. Esse crime só pode ser combatido por uma frente ampla, envolvendo
governo e sociedade, promovendo empregos dignos, educação, saúde”, afirmou.
A deputada federal Erika Kokay
(PT/DF) destacou que “o tráfico de pessoas é uma agressão inaceitável à
dignidade das pessoas”, comentando que em seu trabalho em CPI do Congresso
Nacional pôde constatar a gravidade do processo de “mercantilização” dos seres
humanos que são absorvidos tanto pela exploração sexual, como pelo tráfico de
drogas. “Existe uma transversalidade nessas questões”, denunciou.
Ao concluir a reunião, Ribeiro
lamentou a ausência de representantes da Secretaria de Educação e também da
Secretaria da Segurança. “É preciso ter compreensão sobre a gravidade desse
problema, que exige nossa ação conjunta”, advertiu, defendendo que o debate ao
“inimaginável” tráfico de pessoas “invada, de forma positiva” as escolas e
universidades do País. “Precisamos ampliar esse debate para outros fóruns”,
propôs.
Fonte: http://diariodocongresso.com.br/
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