A reação dos homens quando uma
mina aponta machismo em alguma coisa que fizeram/disseram é quase sempre a
mesma. EUUU? EU NÃO SOU MACHISTA!
Por Clara Do Lugar de Mulher
Pois bem, tenho uma novidade: não
é porque você deixou de ser machista em algum momento que está imune pra
sempre. O machismo é a norma, é o filtro com que a sociedade (ai, a sociedade)
percebe nossos comportamentos. Por isso é “normal” um cara pegar todas, mas uma
mulher que é dona de sua vida sexual vira vagabunda, ou, nas palavras daqueles
que “não são machistas, mas”, estão emulando o pior do homem, como se nossas
vontades estivessem atreladas ao que eles são. Isso é machismo também, viu? E
ter atitudes e pensamentos machistas não significa que você é uma pessoa
horrível que merece apanhar na rua, mas que você está reproduzindo o que nossa
sociedade tem como norma e que está na hora de prestar atenção nisso pra não
repetir. É um longo processo de desconstrução. Vai ser chato. Mas tem que
acontecer.
Eu sou branca. Vivo prestando
muita atenção pra não ter nenhum comportamento racista contra pessoa alguma.
Mas tenho a consciência de que já tive. Porque racismo também é a norma e,
diferente de quando se trata de machismo, o sistema me beneficia e estou em uma
posição privilegiada. Ou seja: eu não sofro racismo. Não, gente, não existe
racismo contra brancos, não existe racismo reverso, parem de se constranger com
essa ideia.
Morro de vergonha? Morro de
vergonha. Quero desaparecer quando penso que, há tempos, tirei onda do cabelo
de uma mulher porque estava com raiva dela. Eu podia ter falado QUALQUER outra
coisa, mas fui falar do cabelo crespo. Fui o que? Isso mesmo, racista. E é
pensando nisso que eu consigo me policiar pra NUNCA MAIS reproduzir esse
horror.
Seria fantástico se os homens que
querem apoiar o feminismo, em vez de ficarem negando o machismo, nos
escutassem, revissem e morressem de vergonha de seus comportamentos para, quem
sabe, conseguirem começar a mudar alguma coisa. A primeira coisa a fazer pra
resolver um problema é admitir que ele existe. Sei que é difícil, pois isso
envolve abrir mão do bom e velho privilégio, mas boto fé que não seja
impossível. Já vi muito homem ecoando discurso feminista dizendo “mas isso não
é feminismo, isso é bom senso” ou coisa parecida. É feminismo sim, lindo, e se
você não só concorda como defende já é um passinho a mais na caminhada da sua
desconstrução.
E antes que alguém chegue falando
“afff estão falando de macho de novo”: eu acho sim importante falar com os
homens. Acho que mulher alguma é obrigada nem a conviver, nem a conversar, nem
a aceitar, nem a explicar nada, mas eu, particularmente, não vejo como uma
sociedade pode mudar sem incluir os homens no processo de mudança. Se o cara
aprende, muda e para de infernizar a vida da irmã, da namorada, da vizinha, são
as mulheres que vão se beneficiar disso. Nós.
Digamos que fosse possível
empoderar todas as mulheres. Todas. Faríamos o que com os homens, caso eles não
fizessem parte do processo de mudança? Isolamento? Prisão? Morte?
Tem muitos homens que eu admiro e
não por seus posicionamentos em relação ao feminismo, e fico bem feliz quando
vejo que estão abertos a escutar. Não quero ter que isolar os caras. Não quero
ter que parar de falar com eles, parar de ler seus livros, escutar suas
músicas, ignorar sua arte. Não quero. Quero que eles escutem e percebam que
dizer “EU?! EU NÃO SOU MACHISTA” não ajuda em processo de mudança e não engana
ninguém.
É claro que um cara que, ao ser
confrontado, em vez de pensar “existem mulheres que discordam de mim, vou
escutar” sai correndo em círculos de cuecas dizendo “feminazis histéricas não
entenderam nada!!!” não está querendo conversar, e com esses eu não quero
diálogo mesmo. Não existe diálogo mediante ofensa, né? Pra haver diálogo tem
que todo mundo estar aberto a ouvir e, neste caso, admitir cagadas.
Estou sonhando alto? Talvez. Mas
quero pensar que o que fazemos realmente surte algum efeito e que as próximas
gerações não sofram tanto com isso quanto nós.
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