Sim. Com dia e tudo. Mas vejam bem, vale lembrar... Falta
muito ainda para que sejamos realmente notadas.
Por Marli Gonçalves
Somos de todos os tipos, cores e tamanhos. É. Também temos
tamanhos, aqui e ali, sabe? E formas. Também somos até o arco-íris inteiro,
quando mulheres amam mulheres. Com filhos, sem filhos; amas, quando produzimos
e damos o alimento da vida do nosso próprio corpo, leite branco tanto quanto a
criação inicial. Coloridas na forma, sempre de alguma forma: na maquiagem, no
batonzinho, no sapato bonito, no brinco que adorna, nas unhas que podem
arranhar profundamente. Na bolsa que guarda coisas que nem Deus acredita.
Mulheres amadas, mesmo que por minutos, e mesmo que estes
minutos tenham sido pagos, que não tem quem finja melhor que mulher. Somos
mulheres amantes, que esperam seus amores o tempo que for, tecendo ou
desfazendo tudo a cada dia, principalmente as lembranças das mentiras ao pé do
ouvido que naquela hora foram palavras mágicas de abrir flor. De abrir portas para
aceitar desculpas, que logo se repetirão, como sempre, junto com as mentiras.
Amorosas quase sempre. Diferentes, mesmo quando indiferentes
à nossa condição mais do que especial, que nem todas percebem ainda; teimam.
Somos mulheres quando olhamos, pensamos, escrevemos, pintamos. Ou andamos, na
ginga que quebra pescoços, provoca assobios.
Somos calmas e também muito nervosas - eles acham isso.
Acham que somos implicantes, chatas, ciumentas, vaidosas. E também acham que
queremos o lugar deles, quando apenas queremos o nosso.
Somos passionais, guerreiras. Mas também frias, calculistas,
como todos os humanos podem ser; ou apáticas, aguentando em silêncio o que
homem algum suportaria. Podemos ser bem loucas, atazanando de tal forma que
enlouquecemos outros. E outras. Que briga de mulher com mulher, ódio de mulher
para mulher, vamos e venhamos, chega a ser mortal.
Porque ainda nos enfrentamos, tanto, umas às outras? Tantas
vezes desnecessariamente porque uma é mais magra, ou loira, ou feia, ou mais
bonita, por ciúmes, por homens que não valem a pena.
Para chegar aqui, em algumas vitórias, sim, tivemos de nos
unir. Até para morrer, como juntas, queimadas, morreram as tecelãs que
simbolizam nossa luta. Para marchar, como agora marcham mulheres de branco, na
Venezuela, ou apenas se juntam, chorando, em praças deste mundão todo, clamando
por Justiça e dignidade. Com a cara lavada, com a cabeça coberta, com os seios
à mostra.
Sim, mulher com dia e tudo. Inclusive de menstruar, dias de
dar, em tabelinhas, inclusive aquelas do que comer ou não comer. Mas veja bem o
quanto falta. Por exemplo, ainda sermos só nós a nos cuidar, não descuidar.
Estamos em casa, lavando, passando, secando, torcendo. Nas
ruas, tentando, trabalhando, algumas em lugares que nem nos nossos melhores
sonhos passados esperávamos. Lugares que até nem queríamos, mas em que
precisamos estar - e todo mundo aplaude como também somos capazes, fortes,
iguais, etc. e etc. Somos milhões, metades, um pouco mais, um pouco menos.
Problema é que - coisa que não entendo - muitas, quando chegam lá viram homens,
com seus cacoetes todos, como se endurecer fosse poder, sem trocadilhos.
Ah que nestes dias vamos ouvir muito falar de nós mesmas,
até o limite de nossa estreita paciência. Vão nos tentar vender de todas as
formas, vender para a gente, vender a gente. Vão querer até que nós sejamos
presenteadas, coisa que não é bem apropriada para um dia que deveria ser igual
a todos os dias, sendo respeitadas.
Principalmente, digo, gostaria de realmente estar sendo mais
bem representada aqui neste meu país tão varonil.
Fonte: Dom Total
Marli Gonçalves é atual Diretora da Brickmann&Associados Comunicação,
B&A, tem 30 anos de atuação na profissão. Na área de consultoria e
comunicação empresarial foi, de 1994 a 1996, gerente de imprensa da
multinacional AAB, Hill and Knowlton do Brasil (Grupo Standart. Ogilvy & Mather).
Foi do Jornal da Tarde, da Rádio Eldorado, com passagem pela Veja SP.
Participou ainda, nos 80, de várias publicações, entre elas, Singular &
Plural, Revista Especial, Gallery Around ( com Antonio Bivar), Novidades
Fotóptica, A-Z, Vogue. Na área política, entre outros, foi assessora de Almino
Affonso, quando vice-governador de São Paulo, e trabalhou em campanhas para
Fernando Gabeira e Roberto Tripoli. Na B&A, tem cuidado de Gerenciamento de
Crises, ao lado de Carlos Brickmann.
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