O
ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, e o secretário-geral da CNBB, dom
Leonardo Ulrich Steiner, participam do lançamento da Campanha da Fraternidade
2014
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fez ontem
(5) um chamado para que a sociedade se conscientize da importância de combater
o tráfico de pessoas, ao lançar a Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema é
Fraternidade e Tráfico Humano e o lema "É para a liberdade que Cristo nos
libertou".
No início do evento, foi lida uma mensagem do papa
Francisco, na qual ele afirma que "não é possível ficar impassível,
sabendo que seres humanos são tratados como mercadoria". O papa lembrou
que crianças são traficadas para a remoção de órgãos, mulheres submetidas à
exploração sexual e trabalhadores mantidos em condição de escravidão. Estas são
algumas das situações de tráfico de pessoas que a campanha vai abordar.
Durante a solenidade de lançamento, o secretário-geral da
CNBB, dom Leonardo Steiner, disse que o crime viola a dignidade das pessoas
submetidas e que a prática é fruto da sociedade em que vivemos. "Queremos
com a campanha identificar essa realidade e, junto com o Estado, realizar este
trabalho para que as pessoas deixem de ser exploradas", exortou. "O
tráfico de pessoas é fruto da cultura em que vivemos, atualmente quase nos
habituamos ao sofrimento do outro e é preciso se compadecer pelas pessoas
traficadas", disse.
A secretária executiva do Conselho Nacional de Igrejas
Cristãs (Conic), pastora Romi Márcia Bencke, reiterou que esta dificuldade se
deve também à vulnerabilidade econômica das pessoas traficadas. "O tema
toca em raízes profundas na forma como a nossa sociedade se estrutura e [o
tráfico humano] se capilariza em vários setores da economia", disse. Os
religiosos também ressaltaram a necessidade de superar divergências religiosas
para combater esse tipo de crime.
A solenidade contou ainda com a presença do ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, que elogiou a iniciativa e classificou o tráfico
de pessoas como uma prática subterrânea, devido à dificuldade de verificar sua
ocorrência. "É inaceitável que pessoas sejam tratadas como escravas",
disse Cardozo para quem o crime tem que ser combatido de forma conjunta com a
sociedade. "Temos esta oportunidade de junção de forças com a sociedade,
através da Campanha da Fraternidade e da formação de um comitê conjunto para
aprimorar as políticas de Estado, receber sugestões e ao mesmo tempo enraizar
atuações na sociedade", complementou.
Cardozo lembrou que não existem dados precisos sobre a
quantidade de pessoas traficadas já que, muitas vezes, vítimas e familiares têm
vergonha de revelar a situação de exploração. "Infelizmente o número de
inquéritos policiais abertos relativos ao tráfico de pessoas ainda é pequeno em
comparação ao volume da realização desse crime. Isto acontece porque as pessoas
não noticiam o tráfico. Às vezes as pessoas têm vergonha de falar que foram
vítimas desse crime, os familiares também não denunciam e muitas vezes as
pessoas imaginam que estão sendo ajudadas por aqueles que são os verdadeiros
autores e mentores deste tipo de crime", disse.
A pesquisa Diagnóstico sobre Tráfico de Pessoas nas Áreas de
Fronteira no Brasil, divulgada pelo governo federal em outubro do ano passado,
aponta que, entre 2005 e 2011, um terço dos indiciados por tráfico de pessoas
foi preso em região de fronteira. Dos 384 indiciamentos, 128 foram registrados
na fronteira brasileira que tem 15.719 quilômetros de extensão ao longo de 11
estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná,
Rio Grande do Sul, Roraima, Rondônia e Santa Catarina.
O levantamento constatou que as pessoas geralmente são
traficadas para fins de exploração sexual e trabalho escravo. Também detectou
situações como pessoas traficadas para a prática de mendicância e de crianças e
adolescentes para servidão doméstica. A maioria dos casos de tráfico para
exploração sexual foi identificada nos estados de Roraima, Rondônia, Santa
Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, do Pará, Amapá e Acre.
A maioria das vítimas são mulheres, na faixa etária de 18 a
29 anos. Além das mulheres, também são vítimas do tráfico humano crianças e adolescentes,
travestis e transgêneros, geralmente em condição de vulnerabilidade, seja pelas
condições socioeconômicas, seja pela presença de conflitos familiares, seja
pela violência sofrida na família de origem.
A Campanha da Fraternidade é lançada no primeiro dia da
Quaresma (período do ano litúrgico que antecede a Páscoa). Para os cristãos, a
Quarta-Feira de Cinzas simboliza o dever da conversão e da mudança de vida,
para recordar a fragilidade da vida humana, sujeita à morte. De acordo com a
CNBB, os recursos arrecadados com a campanha serão utilizados em projetos de
identificação e combate de situações de tráfico humano.
Fonte: Agência Brasil
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