Vivemos “na ditadura de uma economia sem rosto e sem um
objetivo verdadeiramente humano”. Como consequência, “enquanto os ganhos de uns
poucos crescem exponencialmente, os da maioria ficam cada vez mais afastados do
bem-estar dessa minoria feliz”.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo Mateus 6, 24-34 que corresponde ao Oitavo Domingo do Tempo
Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O Dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é para Jesus o
maior inimigo deste mundo mais digno, justo e solidário que Deus quer. Faz já
vinte séculos que o Profeta da Galileia denunciou de forma categórica que o
culto ao dinheiro será sempre o maior obstáculo que encontrará a humanidade
para progredir para uma convivência mais humana.
A lógica de Jesus é esmagadora: “Vocês não podem servir a
Deus e ao Dinheiro”. Deus não pode reinar no mundo e ser Pai de todos, sem
reclamar justiça para os que são excluídos de uma vida digna. Por isso, não
podem trabalhar por esse mundo mais humano querido por Deus os que, dominados
pela ânsia de acumular riqueza, promovem uma economia que exclui os mais fracos
e os abandona na fome e na miséria.
É surpreendente o que está acontecendo com o Papa Francisco.
Enquanto os meios de comunicação e as redes sociais que circulam pela internet
nos informam, com todo tipo de detalhes, desde os menores gestos da sua
personalidade admirável, oculta-se de forma vergonhosa o seu grito mais urgente
para toda a humanidade: “Não a uma economia da exclusão e da iniquidade. Essa
economia mata”.
No entanto, Francisco não necessita de longas argumentações
nem profundas análises para expor o seu pensamento. Sabe resumir a sua
indignação em palavras claras e expressivas que poderiam abrir as notícias de
qualquer telejornal, ou ser título da imprensa em qualquer país. Só alguns
exemplos.
“Não pode ser que não seja notícia um ancião que morre de
frio na rua e que o seja a queda de dois pontos na bolsa. Isso é exclusão. Não
se pode tolerar que se atire fora comida quando há gente que passa fome. Isso é
iniquidade.”
Vivemos “na ditadura de uma economia sem rosto e sem um
objetivo verdadeiramente humano”. Como consequência, “enquanto os ganhos de uns
poucos crescem exponencialmente, os da maioria ficam cada vez mais afastados do
bem-estar dessa minoria feliz”.
“A cultura do bem-estar nos anestesia, e perdemos a calma se
o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas essas vidas
mutiladas pela falta de possibilidades nos parecem um espetáculo que de nenhuma
forma nos altera.”
Como ele mesmo disse: “esta mensagem não é marxismo, mas
Evangelho puro”. Uma mensagem que tem de ter eco permanente nas nossas
comunidades cristãs. O contrário poderia ser sinal do que diz o Papa: “Estamos
nos tornando incapazes de nos compadecer dos clamores dos outros, já não
choramos ante o drama dos demais”.
Fonte: Ihu
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