É preciso cuidar "para que a Igreja e a CF tenham coragem de denunciar o problema que vivemos, não adianta falar de combate ao tráfico humano sem falar de combate à pobreza, combate à desigualdade econômica, desigualdade cultural que existe em nossos locais”.
A Religiosa não escondeu sua empolgação com a Campanha da
Fraternidade deste ano, "Fraternidade e Tráfico Humano”, "Estou muito
confiante no objetivo dela [da Campanha], que é dar visibilidade para esse
crime e diminuir o número de possíveis vítimas.”
A Irmã, porém, alerta que é preciso cuidar "para que a
Igreja e a CF tenham coragem de denunciar o problema que vivemos, não adianta
falar de combate ao tráfico humano sem falar de combate à pobreza, combate à
desigualdade econômica, desigualdade cultural que existe em nossos locais”.
"Não podemos apenas pensar em enfrentar esse crime, mas
se trata de dar respaldo para quem consegue se livrar dele. É preciso prevenir
esse ato criminoso, precisamos de uma estrutura maior para que o serviço seja
qualificado”, afirmou.
A denúncia feita por irmã Henriqueta é sobre a falta de
fiscalização nas fronteiras do País. Ela aponta a entrada de bolivianos,
venezuelanos, paraguaios e haitianos, muitas vezes vítimas de tráfico para
servirem ao trabalho escravo, à prostituição e, até mesmo, à mendicância. Os
estados para os quais esses traficados se direcionam são os mais distintos, a
Irmã enumera alguns: São Paulo, Acre, Amazonas e Pará.
"Nenhum tipo de criminalização nos deve fazer recuar.
Temos que levantar a cabeça e saber que a vida é muito preciosa para ser
violada.”
A entrevista foi feita por telefone, antes de ligar para o celular da
irmã Henriqueta Cavalcante, que mora no Pará, foi preciso enviar uma mensagem,
explicar a importância da matéria para, após a concordância da religiosa, ligar
e fazer a entrevista.
Devido ao seu trabalho junto à Comissão de Justiça e Paz da
CNBB, a Irmã é vítima de ameaças, por isso a cautela no atendimento de ligações
de números desconhecidos. Henriqueta atua no enfrentamento da exploração sexual
de crianças e adolescentes e, consequentemente, no combate ao tráfico humano.
Henriqueta comenta sobre a existência de documentos e leis
que pautam o combate ao tráfico humano, como, por exemplo, Plano Nacional de
Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, porém a execução de tais leis acaba se
tornando um desafio. Para ela, nenhuma das esferas do Poder Público – Federal,
Estadual e Municipal – conseguiu "dar atenção e atendimento adequado para
as pessoas que sofrem com o problema do tráfico”.
"Há um caso emblemático de uma moça que foi traficada
para a Espanha e retornou de uma forma completamente destruída. O olhar dessa
moça, a fala dela, atualmente sofre de uma esquizofrenia muito avançada... Ela
perdeu o sentido da existência. Isso me chama a atenção porque ela está tão
arrebentada. O que mais me preocupada é o fato de ela não se identificar. Ela
sofreu tanto e não nega o sofrimento, mas nega que foi traficada. A pessoa que
a traficou está em liberdade, e ela está numa situação de miséria e de abandono
por parte do Estado, que não garante a recuperação mínima de sua saúde mental e
qualidade de vida”, conta a Religiosa referindo-se a um dos casos que mais a
marcou.
Fonte: (Edcarlos Bispo de Santana) adital
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