sexta-feira, 21 de junho de 2013

Convite de Jesus: vem pra rua! Persista na luta!

As manifestações populares que estamos presenciando no Brasil durante esta semana me fizeram lembrar a parábola narrada por Jesus em Lucas 18:1-8: A parábola da viúva Persistente. Uma parábola muitas vezes superficialmente interpretada que limita a força da parábola apenas a persistência na oração. Ignora-se que para além da persistência na oração a parábola traz uma mensagem forte de luta incessante, persistente e impaciente pela justiça. Luta que uma pobre viúva enfrenta diante de um insensível juiz. Ela o enfrenta com uma atitude obstinada e até agressiva em busca de justiça.


Vem pra rua! : A parábola da persistência (Odja Barros)
Odja Barros é pastora batista, Diretora Adjunta do CEBI e coautora do livro Como um só povo - reflexões em torno da unidade da Igreja

O que nos conta a Parábola?

A história que Jesus conta é a de uma viúva sem recursos que busca justiça de certo juiz contra um "adversário". Sobre esse juiz é dito que ele não teme a Deus e nem se importa com as pessoas. Não se sabe qual era a causa que aflige o direito dessa mulher, mas além de sofrer a ação do seu adversário ainda trava uma luta obstinada contra a corrupção do magistrado que, desprovido de temor a Deus e interesse pelas pessoas é levado apenas pelo seu próprio interesse, pelos subornos ou intimidação. A pobre viúva sem dinheiro ou poder tem a seu favor apenas o recurso da intimidação, da persistência. A ação da viúva é expressa como uma ação contínua e ameaçadora que atinge o juiz onde ele poderia ser atingido: na preocupação egoísta do seu próprio conforto. Nesta mulher obstinada o insensível magistrado encontrou adversário à sua altura. Ele podia ter sido assaltado por persistência obstinada antes, mas nenhuma que igualasse aos apelos infindáveis e insistentes desta mulher. Ele lhe fez justiça, não porque fosse justo ou mesmo compassivo, mas porque percebeu que não conheceria um momento de paz até que o fizesse.

Persistência na luta

As viúvas e os órfãos eram no mundo antigo, do ponto de vista estrutural sempre as primeiras vítimas das injustiças e alvos de descaso e de tentativas de fraude e exploração. Desde o Antigo Testamento Deus aparece intervindo em defesa dos grupos que sofrem essa injustiça estrutural. A viúva da parábola de Lucas 18:1-8 chama a nossa atenção pela sua persistência na luta pelos seus direitos. Ela se fundamenta no direito divino. Ela faz isso assumindo uma atitude ruidosa e agressiva, talvez até recorrendo aos gritos. A atitude dessa mulher é do começo ao fim destacada como referência de quem se deve aprender. Diante da violência do sistema injusto é preciso resistir com firmeza e intrepidez. Essa mulher está aparentemente numa situação desesperadora. Ela é uma mulher num mundo de homens, uma viúva sem dinheiro e sem proteção social. Não se pode apelar ao juiz mediante ao senso de dever para com Deus, e parece que o juiz não se sentiria envergonhado ou constrangido de qualquer ato mau ou injusto que comete contra pessoas inocentes. O juiz injusto retrata as estruturas de opressão as quais as pessoas estão submetidas. Mas, a parábola concentra sua atenção na atitude obstinada da viúva que persistentemente dobra o juiz a ouvir e julgar a sua causa. Ela não consegue converter o coração do juiz, mas o incomoda a ponto de ter que atendê-la.

O contexto da parábola e contexto da luta

O contexto no qual Jesus propõe essa parábola inicia-se capitulo 17:20 de Lucas com uma conversa sobre a vinda do reino de Deus. Jesus é interrogado pelos fariseus a respeito de quando viria o reino de Deus. Jesus responde enigmaticamente aos fariseus: "O reino de Deus já está entre vós". Depois se dirige aos discípulos fazendo uma memória de dois momentos: Os dias de Noé e dias de Ló. Nesses dias o povo vivia comendo, bebendo , casando-se , vendendo , comprando, plantando e construindo até que veio o juízo. É nesse contexto que Jesus introduz a parábola que versa sobre justiça e juízo e adverte aos discípulos para não desanimarem na luta ativa de fazer presente o reino de Deus que é justiça, paz e alegria ( Romanos 14,17) . Acredito que é nesse contexto que Jesus introduz o exemplo da viúva persistente como modelo a ser seguido pelos discípulos. A advertência de Jesus é para que a espera pelo reino deve ser uma espera ativa e persistente. O contexto atual não é diferente do contexto da parábola: uma maioria do povo gasta sua vida numa espera passiva do reino: comendo , bebendo, comprando, vendendo... adquirndo somente para si. Talvez existam entre estes, alguns que já tiveram fé e lutaram ativamente pelo reino de justiça, paz e alegria, mas, com o passar do tempo perderam a fé e a esperança e abandonaram a fé e a esperança ativa na vinda do reino. Afinal , Jesus conclui a parábola dizendo: quando o filho do homem vier achará fé na terra? O perigo é que ao perder a fé e esperança ativa no reino de Deus deixamos de ser "viúvas persistentes" na luta pela justiça para tornarmos- nos "juízes insensíveis" que já "não teme a Deus e não de importa com as pessoas". Não estaria aí muitas pessoas da classe média brasileira que hoje se importam apenas com a preservação da seu próprio conforto e que sente incomodada pelo barulho das viúvas persistentes?

Vem pra rua! : A parábola da persistência

 A parábola apresenta a fragilidade de uma viúva que assume uma atitude persistente que incomoda o juiz. Essa parábola retrata bem o movimento que surpreendeu a nação brasileira. A força de um movimento que cresce e fortalece incomodando "os juízes" do nosso País que não se importam com as pessoas. Pessoas que pagam caro por um transporte público de péssima qualidade, pessoas que estão sofrendo a falta de uma boa educação e saúde, pessoas que são vítimas das injustiças e corrupções que são as verdadeiras atitudes violentas e agressivas que devia envergonhar o povo brasileiro, pessoas indígenas que tem sido assassinada e violentada nos seus direitos, comunidades quilombolas, pobres excluídos e todas as pessoas que representam as "viúvas injustiçadas" dos nossos dias. É por essas pessoas que devemos ir às ruas. É por essas pessoas que devemos enfrentar todos os juízes e sistemas injustos desse país. Concluo com uma pergunta: De que lado nós estaremos como Igreja? Ao lado do juiz incomodado atingido no seu conforto egoísta ou ao lado da viúva persistente que faz barulho para incomodar o juiz injusto?



Fonte: Cebi

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