O texto de hoje deixa transparecer outro aspecto do Novo que
Jesus trouxe. Na sociedade e na religião do tempo de Jesus, as mulheres eram
excluídas e discriminadas. Ao redor de Jesus, porém, homens e mulheres se
reuniam em igualdade de condições. Durante a leitura do texto somos convidados
a prestar atenção na seguinte questão: Qual atitude de Jesus para com as
mulheres que aparecem no texto?
Por Carlos Mesters e Mercedes Lopes
SITUANDO
No capítulo 7 do Evangelho de Lucas, Jesus continua abrindo
o caminho, revelando o Novo. A transformação vai acontecendo. Jesus acolhe o
pedido de um estrangeiro não judeu (Lucas 7,1-10) e ressuscita o filho de uma
viúva (Lucas 7,11-17). A maneira de Jesus conceber o Reino surpreende cada vez
mais aos irmãos judeus que não estavam acostumados com a abertura de Jesus. Até
João Batista fica meio perdido e manda perguntar: "É o senhor ou devemos
esperar por outro?" (Lucas 7,18-30). Jesus chega a denunciar a incoerência
dos seus patrícios: "Vocês parecem crianças que não sabem o que
querem!" (Lucas 7,31-35). E agora, aqui no nosso texto, outro aspecto do
Novo começa a aparecer. É a atitude de Jesus para com as mulheres.
Na época do Novo Testamento, a mulher vivia marginalizada.
Na sinagoga ela não participava, na vida pública não podia ser testemunha.
Muitas mulheres, porém, resistiam contra a exclusão. Desde os tempos de Esdras,
a resistência da mulher vinha crescendo, como transparece nas histórias de
Judite, Ester, Rute, Noemi, Suzana, da Sulamita e de tantas outras. Esta
resistência encontrou eco e acolhida em Jesus. No episódio da moça do perfume
transparecem o inconformismo e a resistência das mulheres no dia-a-dia e o
acolhimento que Jesus lhes dava.
COMENTANDO
1. Lucas 7,36-38: A situação que provocou o debate
Três pessoas totalmente diferentes se encontram: Jesus, o
fariseu e a moça! Um fariseu era um judeu observante. Da moça se diz que era
pecadora. Jesus está na casa de Simão, o fariseu que o convidou para o jantar.
A moça entra, coloca-se aos pés de Jesus, começa a chorar, molha os pés de
Jesus com as lágrimas, solta os cabelos para enxugá-los, beija e unge os pés
com perfume. Soltar os cabelos em público era um gesto de independência. Jesus
não se retrai nem afasta a moça, mas acolhe o gesto dela.
2. Lucas 7,39-40: A reação do fariseu e a resposta de Jesus
Jesus estava acolhendo uma pessoa que, conforme os judeus
observantes, não podia ser acolhida. O fariseu, observando tudo, critica Jesus e condena a mulher: "Se
este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher é esta que o toca, pois
é uma pecadora". Jesus usa uma parábola para responder à provocação do
fariseu. A parábola ajuda a perceber o invisível de Deus a partir da
experiência que a pessoa tem da vida.
3. Lucas 7,41-43: A parábola dos dois devedores
Um devia 500 reais, o outro, 50. Nenhum dos dois tinha como
pagar. Ambos foram perdoados. Qual dos dois terá mais amor? Resposta do
fariseu: "Amará mais aquele a quem mais se perdoa!" A parábola supõe
que os dois, tanto o fariseu como a moça, tinham recebido algum favor de Jesus.
Na atitude que os dois tomam diante de Jesus, mostram como apreciam o favor
recebido. O fariseu mostra o seu amor, a sua gratidão, convidando Jesus para o
jantar. A moça mostra o seu amor, a sua gratidão, através das lágrimas, dos
beijos e do perfume.
4. Lucas 7,44-47: O recado de Jesus para o fariseu
Depois de receber a resposta do fariseu, Jesus aplica a
parábola. Mesmo estando na casa do fariseu, a convite do mesmo, ele não perde a
liberdade de falar e de agir. Defende a moça contra a crítica do judeu
praticante. O recado de Jesus para os fariseu de todos os tempos é este:
"Aquele a quem pouco foi perdoado, mostra pouco amor!" O fariseu
achava que não tinha pecado, porque observava em tudo a lei. A segurança
pessoal que eu, fariseu, crio para mim pela observância das leis de Deus e da
Igreja, muitas vezes me impede de experimentar a gratuidade do amor de Deus. O
que importa não é a observância da lei em si, mas sim o amor com que observou a
lei. E usando os símbolos do amor da moça, Jesus dá o troco ao fariseu que se
considerava em paz com Deus: "Você não me deu água para lavar os pés, não
me deu o beijo de acolhida, não me deu água de cheiro! Simão, apesar de todo o
banquete que me ofereceu, você tem pouco amor!"
5. Lucas 7,48-50: Palavra de Jesus para a moça
Jesus declara a moça perdoada e acrescenta: "Tua fé te
salvou! Vai em paz!" Aqui
transparece a novidade da atitude de Jesus. Ele não condena, mas acolhe. E foi
a fé que ajudou a moça a se recompor e a se reencontrar consigo mesma e com
Deus. No relacionamento com Jesus, uma força nova despertou dentro dela e a fez
renascer.
6. Lucas 8,1: Os doze que seguem Jesus
Numa única frase Jesus descreve a situação: Jesus anda por
toda parte, pelos povoados e cidades da Galileia, anunciando a Boa Nova do
Reino de Deus e os doze estão com ele. A expressão "seguir Jesus"
(Marcos 15,41) indica a condição do discípulo que segue o Mestre, 24 horas por
dia, procurando imitar o seu exemplo e participando do seu destino.
7. Lucas 8,2-3: As mulheres seguem Jesus
O surpreendente na atitude de Jesus é que, ao lado dos
homens, há também mulheres "junto com Jesus". Lucas coloca os
discípulos e as discípulas em pé de igualdade, pois ambos seguem Jesus. Ele
também conservou os nomes de algumas destas discípulas:
- MARIA MADALENA, nascida na cidade de Magdala. Ela tinha
sido curada de sete demônios;
- JOANA, mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas, que
era governador da Galileia;
- SUZANA e várias outras. Delas se afirma que "seguem
Jesus" (cf. Marcos 15,41) e que o "servem com seus bens".
ALARGANDO
O Evangelho de Lucas sempre foi considerado o Evangelho das
mulheres. De fato, Lucas é o que traz o maior número de episódios em que se
destaca o relacionamento de Jesus com as mulheres. Mas a novidade, a Boa Nova
de Deus para as mulheres, não está só na abundante citação da presença delas ao
redor de Jesus, mas sobretudo na atitude de Jesus em relação a elas. Jesus as
toca e deixa-se tocar por elas sem medo de se contaminar. À diferença dos
mestres da época, ele aceita mulheres como seguidoras e discípulas. A força
libertadora de Deus, atuante em Jesus, faz a mulher se levantar e assumir sua
dignidade. Jesus é sensível ao sofrimento da viúva e se solidariza com a sua
dor. O trabalho da mulher preparando o alimento é visto por Jesus como sinal do
Reino. A viúva persistente que luta por seus direitos é colocada como modelo de
entrega e doação. Numa época em que o testemunho das mulheres não era aceito
como válido, Jesus escolhe as mulheres como testemunhas da sua morte,
sepultamento e ressurreição.
Nos evangelhos, conservam-se várias listas com os nomes dos
12 discípulos que seguiam Jesus. Havia também mulheres que seguiam Jesus, desde
a Galileia até Jerusalém. O Evangelho de Marcos define a atitude delas com três
palavras: seguir, servir, subir até Jerusalém. Os primeiros cristãos não
chegaram a elaborar uma lista destas discípulas que seguiam Jesus como o
fizeram com os homens. Mas os nomes de sete destas mulheres estão espalhados
pelas páginas dos evangelhos:
1. Maria Madalena (Lucas 8,3)
2. Joana, mulher de Cuza (Lucas 8,3)
3. Suzana (Lucas 8,3)
4. Salomé (Marcos 15,40)
5. Maria, mãe de Tiago (Marcos 15,40)
6. Maria, mulher de Clopas (João 19,25)
7. Maria, a mãe de Jesus (João 19,25).
Fonte: Cebi
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