A pesar de já estarmos em 2013, a escravidão ainda existe e está cada vez mais forte e “invisível” aos olhos daqueles que não querem enxergar o problema. Nas entrelinhas, todos nós temos uma parcela desta culpa. Como se pode atingir um público que apesar de já saber do problema, o ignora? “Simples”. Vá de encontro até onde a confortável visão desta audiência se encontra e, sem delongas, escancare o problema de uma só vez.
Com uma proposta, no mínimo, inusitada, a agência
SapientNitro desenvolveu esta brilhante e criativa ação para a “ONG End It“,
que, apesar da delicadeza do tema, nos convoca para uma reflexão que fica
impactada tanto pela proposta quanto pelo meio que a ação se utiliza para
apresentá-la. De longe, uma ideia que, na certa, vai servir de referência para
criativos e seres humanos empenhados em ajudar a solucionar os problemas do
mundo.
A proposta do movimento que a ONG End It sustenta é eliminar
um problema que a gente, infelizmente, já se acostumou a ver mas finge que não.
Ignorando estatísticas e mantendo nossa rotina, seguimos a vida sem atentar
que, apesar de já estarmos em 2013, a escravidão – termo aparentemente
esquecido nos antigos livros de história do colégio – ainda existe e está cada
vez mais forte e “invisível” aos olhos daqueles que não querem enxergar o
problema. Nas entrelinhas, todos nós temos uma parcela desta culpa. Afinal,
ignoramos e achamos que isso nem sequer acontece mais.
Para provar o contrário e mostrar que a escravidão não é
algo do passado é importante registrar que, hoje em dia, temos mais escravos
pelo mundo do que antigamente. Desta forma, os criativos apelaram por uma
“mídia” um tanto quanto surpreendente: um caminhão com laterias transparentes.
A ideia é simples. Afinal, como se pode atingir um público que apesar de já
saber do problema, o ignora? “Simples”. Vá de encontro até onde a confortável
visão desta audiência se encontra e, sem delongas, escancare o problema de uma
só vez.
Caminhando na rua, conversando com amigos, indo ao cinema
com a namorada ou estressado por estar preso no trânsito, o público não teve
escolha: o caminhão impressionou todos aqueles que cruzaram com a verdadeira
jaula humana – em Atlanta, nos EUA; dê o play:
Esta ação representa, infelizmente, apenas um dos tipos de
escravização que a ONG tenta denunciar mundo a fora. No caso, a escravização
sexual. A forma de destacar isso, de forma barata e totalmente coerente foi, na
minha opinião, fantástica. Os criativos usaram o caminhão como mídia e se
locomoveram pela cidade numa espécie de outdoor ambulante.
A prova da eficácia está na resposta à seguinte pergunta:
quem não iria se afetar se, durante uma caminhada de fim de tarde, se deparasse
com um caminhão cheio de mulheres sendo destratadas, agredidas e transportadas
para praticarem algo para o que estão sendo obrigadas? É de se esperar que isso
cause, no mínimo, um momento de reflexão. Também é bem possível que, em um
outro automóvel qualquer, próximo do local da ação que apenas ilustra uma
situação, esteja acontecendo a coisa real. Parece impossível, mas esta
realidade se repete muito frequentemente.
A ação, de uma forma escancarada, trás à tona uma verdade
que insistimos em ignorar. No fim do filme, o provocativo questionamento que
fecha a imagem me fez pensar em uma questão interessante: porque é que, apesar
de já sabermos que isso ocorre, deixamos
isso se repetir? Partindo do princípio que sabemos, mas não queremos enxergar,
se tudo isso fosse visível, será que a gente realmente faria alguma coisa?
“Hoje em dia existem mais escravos do que em qualquer período da nossa
história.”
Admito que me assusta muito a ideia de que a gente dependa
de iniciativas como esta para trazer um assunto tão urgente para o centro das
discussões. Na ação em questão, que trata especificamente da escravização
sexual de mulheres, é válido lembrar que este é um dos temas mais difíceis a
ser enfrentado uma vez que ele, de alguma forma, está blindado por uma cultura
altamente machista, que não se resume apenas no aspecto da prostituição em si,
mas alcança a discrepante diferença de salários entre homens e mulheres no
mercado de trabalho, passando, também, por preconceitos cegos que alimentamos –
fingindo não ver nada – diariamente, ao menosprezar a mulher por ser loira, ao
automaticamente culpar o sexo feminino em uma colisão de automóveis e, até
mesmo, ao julgar a intenção de uma mulher pelo comprimento da sua roupa.
A ação me fez pensar em um fato que contextualiza o nosso
país na mensagem que ela propaga. Apesar de o Brasil já ser mundialmente
conhecido como um quintal da prostituição, muito em breve estaremos sediando um
dos maiores eventos esportivos do mundo – e para o mundo. Partindo do princípio
da mensagem da campanha, de que grandes eventos esportivos potencializam o
tráfego de mulheres para a prostituição, não seria uma boa hora para a gente
enxergar e enfrentar este problema? Afinal, junto de tantas seleções, culturas
e idiomas, os jogos também poderão servir de desculpa
para o aumento do turismo sexual em nosso país.
Fonte:comunicadores.info
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