terça-feira, 23 de abril de 2013

ONG choca com “traficante de mulheres” que usa caminhão transparente




A pesar de já estarmos em 2013, a escravidão ainda existe e está cada vez mais forte e “invisível” aos olhos daqueles que não querem enxergar o problema. Nas entrelinhas, todos nós temos uma parcela desta culpa. Como se pode atingir um público que apesar de já saber do problema, o ignora? “Simples”. Vá de encontro até onde a confortável visão desta audiência se encontra e, sem delongas, escancare o problema de uma só vez.

Com uma proposta, no mínimo, inusitada, a agência SapientNitro desenvolveu esta brilhante e criativa ação para a “ONG End It“, que, apesar da delicadeza do tema, nos convoca para uma reflexão que fica impactada tanto pela proposta quanto pelo meio que a ação se utiliza para apresentá-la. De longe, uma ideia que, na certa, vai servir de referência para criativos e seres humanos empenhados em ajudar a solucionar os problemas do mundo.

A proposta do movimento que a ONG End It sustenta é eliminar um problema que a gente, infelizmente, já se acostumou a ver mas finge que não. Ignorando estatísticas e mantendo nossa rotina, seguimos a vida sem atentar que, apesar de já estarmos em 2013, a escravidão – termo aparentemente esquecido nos antigos livros de história do colégio – ainda existe e está cada vez mais forte e “invisível” aos olhos daqueles que não querem enxergar o problema. Nas entrelinhas, todos nós temos uma parcela desta culpa. Afinal, ignoramos e achamos que isso nem sequer acontece mais.

Para provar o contrário e mostrar que a escravidão não é algo do passado é importante registrar que, hoje em dia, temos mais escravos pelo mundo do que antigamente. Desta forma, os criativos apelaram por uma “mídia” um tanto quanto surpreendente: um caminhão com laterias transparentes. A ideia é simples. Afinal, como se pode atingir um público que apesar de já saber do problema, o ignora? “Simples”. Vá de encontro até onde a confortável visão desta audiência se encontra e, sem delongas, escancare o problema de uma só vez.

Caminhando na rua, conversando com amigos, indo ao cinema com a namorada ou estressado por estar preso no trânsito, o público não teve escolha: o caminhão impressionou todos aqueles que cruzaram com a verdadeira jaula humana – em Atlanta, nos EUA; dê o play:
Esta ação representa, infelizmente, apenas um dos tipos de escravização que a ONG tenta denunciar mundo a fora. No caso, a escravização sexual. A forma de destacar isso, de forma barata e totalmente coerente foi, na minha opinião, fantástica. Os criativos usaram o caminhão como mídia e se locomoveram pela cidade numa espécie de outdoor ambulante.

A prova da eficácia está na resposta à seguinte pergunta: quem não iria se afetar se, durante uma caminhada de fim de tarde, se deparasse com um caminhão cheio de mulheres sendo destratadas, agredidas e transportadas para praticarem algo para o que estão sendo obrigadas? É de se esperar que isso cause, no mínimo, um momento de reflexão. Também é bem possível que, em um outro automóvel qualquer, próximo do local da ação que apenas ilustra uma situação, esteja acontecendo a coisa real. Parece impossível, mas esta realidade se repete muito frequentemente.

A ação, de uma forma escancarada, trás à tona uma verdade que insistimos em ignorar. No fim do filme, o provocativo questionamento que fecha a imagem me fez pensar em uma questão interessante: porque é que, apesar de já sabermos que isso ocorre,  deixamos isso se repetir? Partindo do princípio que sabemos, mas não queremos enxergar, se tudo isso fosse visível, será que a gente realmente faria alguma coisa?


“Hoje em dia existem mais escravos do que em qualquer período da nossa história.”

Admito que me assusta muito a ideia de que a gente dependa de iniciativas como esta para trazer um assunto tão urgente para o centro das discussões. Na ação em questão, que trata especificamente da escravização sexual de mulheres, é válido lembrar que este é um dos temas mais difíceis a ser enfrentado uma vez que ele, de alguma forma, está blindado por uma cultura altamente machista, que não se resume apenas no aspecto da prostituição em si, mas alcança a discrepante diferença de salários entre homens e mulheres no mercado de trabalho, passando, também, por preconceitos cegos que alimentamos – fingindo não ver nada – diariamente, ao menosprezar a mulher por ser loira, ao automaticamente culpar o sexo feminino em uma colisão de automóveis e, até mesmo, ao julgar a intenção de uma mulher pelo comprimento da sua roupa.

A ação me fez pensar em um fato que contextualiza o nosso país na mensagem que ela propaga. Apesar de o Brasil já ser mundialmente conhecido como um quintal da prostituição, muito em breve estaremos sediando um dos maiores eventos esportivos do mundo – e para o mundo. Partindo do princípio da mensagem da campanha, de que grandes eventos esportivos potencializam o tráfego de mulheres para a prostituição, não seria uma boa hora para a gente enxergar e enfrentar este problema? Afinal, junto de tantas seleções, culturas e idiomas, os jogos também poderão servir de desculpa para o aumento do turismo sexual em nosso país.

Fonte:comunicadores.info

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