No contexto de megaeventos a defesa pela regulamentação da
prostituição surge como fórmula mágica ao enfrentamento dessa questão, o debate
foi colocado no caso da Alemanha e na África do Sul quando estes países foram
sedes da realização da Copa do Mundo. Não por acaso, tramita em nosso congresso
o projeto de lei de autoria do Deputado Federal Jean Wyllys batizada de
“Gabriela Leite” que pretende regulamentar a prostituição tornando-a uma
profissão no Brasil.
A Revista IHU On-Line reproduz uma pequena reflexão da
psicóloga e ativista social Mariana Cristina Moraes da Cunha, psicóloga e
integrante do Comitê Popular da Copa. O segundo texto foi extraído da cartilha
Copa para quem? do Comitê Popular Para a Copa de São Paulo, lançado no final de
2012.
Escravidão Moderna
Por: Mariana Cristina Moraes da Cunha
O tráfico de mulheres é uma forma moderna de tráfico de
escravos, pois sequestra mulheres, em especial jovens, de seus países e as
obriga a trabalhar como profissionais do sexo muitas vezes em troca de um prato
de comida, em regime fechado, aprisionadas. Anualmente quatro milhões de
pessoas, em sua maioria mulheres jovens, são traficadas. De acordo com o
Parlamento Europeu, a indústria sexual ilegal acumula, por ano, de 5 a 7
bilhões de dólares.
Com o ufanismo dos megaeventos, a esperança de melhorar de
vida, aproveitando os grandes negócios, a indústria sexual ludibria as mulheres
jovens e pobres com a possibilidade de trabalharem nos eventos da copa do
mundo. Prometem que elas serão garçonetes, cozinheiras, as transportando de seu
país de origem (países subdesenvolvidos, da América Latina, África e Ásia) sem
nenhum dinheiro ou garantia de retorno e as levam para serem escravas sexuais
disponíveis para os frequentadores dos megaeventos.
Na Copa do mundo em 2006 na Alemanha, o fato da prostituição
ser legalizada foi um diferencial para a realização dos jogos lá. Este fato
permitiu que a indústria do sexo não tivesse grandes problemas para traficar
para a Alemanha nada menos que 40 mil mulheres, importadas da Europa central e
do leste, para abastecer um gigantesco complexo ligado à prostituição.
Foi construída uma megacasa de prostituição, ao lado do
principal estádio do país, com capacidade para 650 homens usufruírem de seus
serviços simultaneamente. Vemos que o capitalismo se utiliza da legalização da
prostituição, uma lei feita para proteger as profissionais do sexo, para
potencializar seus lucros, explorando o corpo da mulher.
Já na Copa do Mundo na África do Sul, a prostituição não era
legalizada, mas este país já fazia parte da rota de tráfico de mulheres, o que
o tornava atrativo para ser sede de tais jogos.
A FIFA, grande agenciadora dos interesses das
transnacionais, pressionou a África do Sul para que legalizasse a prostituição,
o que não ocorreu. No entanto, os governantes deste país fizeram vistas grossas
e o tráfico de mulheres (sequestro de meninas) aumentou ainda mais neste
período de jogos mundiais. Segundo o porta-voz da polícia de Maputo, capital de
Moçambique, essas meninas estavam sendo vendidas por US$ 670.
Megaeventos e
regulamentação da Indústria Sexual
No contexto de megaeventos a defesa pela regulamentação da
prostituição surge como fórmula mágica ao enfrentamento dessa questão, o debate
foi colocado no caso da Alemanha e na África do Sul quando estes países foram
sedes da realização da Copa do Mundo. Não por acaso, tramita em nosso congresso
o projeto de lei de autoria do Deputado Federal Jean Wyllys batizada de
“Gabriela Leite” que pretende regulamentar a prostituição tornando-a uma
profissão no Brasil.
Regulamentar a prostituição significa atestar que a mulher é
uma mercadoria. O neoliberalismo tornou-se o principal motor do desenvolvimento
da indústria do sexo, do tráfico de mulheres e de crianças para fins de
exploração sexual, fortalecendo as relações comerciais do capitalismo e
sustentando o mecanismo de opressão das mulheres.
Regulamentada ou não, a prostituição continuará sendo a
reafirmação do controle que os homens exercem sobre os corpos das mulheres e a
manutenção de um padrão sexual imposto às mulheres e seus corpos. Nesse
sentido, a regulamentação da prostituição somente tornaria mais fácil a atuação
das máfias na rede de tráfico de mulheres e legitimaria essa escravidão.
Fonte: Ihu
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