domingo, 13 de setembro de 2015

Monoteísmo masculino reforça a submissão histórica da mulher, aponta Ivone Gebara

Os conflitos de gênero e a submissão feminina que persistem no mundo atual devem muito de sua origem ao princípio masculino absoluto representado pelo Deus das religiões monoteístas. 


“É um Deus homem ao qual as próprias mulheres prestam culto e cuja autoridade vertical faz persistir essa herança ancestral de que homens e mulheres são diferentes, cabendo aos primeiros o domínio”, protesta a professora de Filosofia e Teologia Ivone Gebara, segundo quem é preciso fazer uma revisão de erros históricos que reduziram a mulher à tarefa de reprodutora humana. Somos todos frágeis e limitados, acrescentou a professora, chamando homens e mulheres simplesmente de “seres viventes”.
“Precisamos combater a ideia de que homens são a única fonte de sabedoria e fadados aos pensamentos superiores, enquanto mulheres são mera matéria, sem rosto e talhadas apenas a tarefas cotidianas”, provocou Ivone Gebara, doutora em Filosofia pela PUC-São Paulo e em Ciências Religiosas pela Universidade Católica de Louvain (Bélgica), palestrante na noite de 12 de agosto da 18ª Semana de Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo.


Objeto de riso

Professora Ivone falou sobre “Filosofia e Feminismo” e lamentou que em geral os eixos da Filosofia foram mantidos por figuras masculinas. Não existiu ao longo da história e nem atualmente nas grandes universidades nenhuma cátedra para pensar a filosofia feminista, definida por ela como movimento sociocultural de mulheres e também de homens que buscam a afirmação de direitos igualitários.
Ao contrário, quando a partir do século 20 as mulheres quiseram fazer parte da história, esse atrevimento não foi bem-vindo. “Mulheres pensadoras sempre foram objeto de riso. Desconfia-se de que as mulheres realmente façam Filosofia ou Teologia”, afirmou a palestrante, autora de diversos livros e artigos em Teologia e Filosofia na perspectiva feminista. O primeiro eixo da filosofia feminista é justamente o direito de expor o pensamento das mulheres sob o direito de perceber o mundo fora da racionalidade masculina, “não necessariamente negando a racionalidade masculina”, sublinhou.
O domínio masculino sobre a Filosofia pode ser exemplificado nas escolas de Platão e Agostinho, onde só eram admitidos homens por acreditarem-se donos da verdade e de todas as coisas – premissa herdada, segundo Ivone Gebara, da religião que concede autoridade à figura do homem, cabendo às mulheres obedecer. “Por não se submeter a isso, Eva foi expulsa do paraíso, bruxas foram queimadas na Idade Média e mulheres pensadoras e críticas foram perseguidas e discriminadas ao longo da história. Até à Maria negou-se o sexo para procriar”, polemizou.
Para ela, é preciso fazer uma revisão de erros históricos que reduziram a mulher à tarefa de reprodutora humana. "Somos todos frágeis e limitados", acrescentou a professora, chamando homens e mulheres simplesmente de “seres viventes”.

Não existiu ao longo da história e nem atualmente nas grandes universidades nenhuma cátedra para pensar a filosofia feminista, definida por ela como movimento sociocultural de mulheres e também de homens que buscam a afirmação de direitos igualitários.

Ao contrário, quando a partir do século 20 as mulheres quiseram fazer parte da história, esse atrevimento não foi bem-vindo. “Mulheres pensadoras sempre foram objeto de riso. Desconfia-se de que as mulheres realmente façam Filosofia ou Teologia”, afirmou a palestrante, autora de livros e artigos em Teologia e Filosofia na perspectiva feminista.

A 18ª Semana de Filosofia foi promovida pelo curso de Filosofia da Universidade Metodista de 10 a 14 de agosto com o tema “Pensando fora do eixo: outras perspectivas filosóficas”. Todas as palestras buscaram enfatizar a disposição filosófica para o diálogo, para aceitar as provocações do “thaumatos” (lidar com o espanto causado pelo enigma, mistério).

Fonte: www.portal.metodista.br



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