O aleitamento materno pode evitar
13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo
O casal brasiliense Irmina
Walczak e Sávio Freire registra mães amamentando seus bebês em espaços públicos
na tentativa de minar preconceito em relação a um ato que é natural.
O casal de fotógrafos de Brasília
Irmina Walczak e Sávio Freire já encontraram uma forma de contribuir para a
construção de um mundo melhor. Por meio da fotografia, os dois ajudam a
naturalizar o ato da amamentação. Eles desenvolvem o projeto Mamaço no Espaço e
fotografam mulheres amamentando seus filhos em espaços de frequentação pública
para disseminar a ideia de que nutrir um bebê não deve ser nenhum
constrangimento para a mãe.
Em agosto, durante a Semana
Mundial de Amamentação e por estarem vivendo a experiência do nascimento do
segundo filho, os fotógrafos tiveram a ideia. Eles fizeram uma chamada, via
Facebook, e receberam mais de 100 e-mails de mulheres querendo participar. O
que era para ser uma atividade de apenas uma semana, acabou virando um projeto
de longo prazo. Irmina e Sávio abriram, então, a conta @mamaço_no_espaco, no
Instagram, para divulgar as fotos e fazer contato com as mães.
Mas o objetivo, segundo eles, é
chegar àqueles que ainda têm algum preconceito ou estranham a situação de
alguém amamentar em público, por isso querem fazer algum tipo de intervenção
permanente como fixar as fotografias nos locais onde foram tiradas para marcar
aqueles espaços. “Fazer um mapa mamaço de Brasília”, simplificou Irmina.
Quinze mães já foram
fotografadas. A antropóloga e professora de Saúde Coletiva da Universidade de
Brasília, Rosa Carneiro, apoiadora do projeto e mãe do Bento, de 2 meses, disse
que algumas mulheres contam que são assediadas, em alguma medida, por outros
homens pelo simples fato de estarem com o seio à mostra. “É uma total confusão
do que é a sexualidade feminina e o processo de nutrição do bebê. Como se o
corpo da mulher continuasse a ter só uma visão, que é essa perspectiva da
sexualidade para o outro, e não uma outra leitura, que é a amamentação e a
nutrição dos bebês”, explicou.
Na percepção de Rosa, há um
movimento, dos anos 2.000 para cá, de mulheres reagindo a isso, de recuperação
do parto normal e do processo de amamentação prolongado. Diferente do que
acontecia entre os anos 1960 e 80, quando “o leite em pó era veiculado como o
melhor alimento para os bebês”. “Esse é um papel social das mulheres, mas as
pessoas tendem a alocar isso [a amamentação] no âmbito do privado e do
doméstico. Precisamos romper com esse pensamento porque estamos formando
crianças que amanhã cuidarão do mundo”, disse.
Para o professor de Ciências
Políticas do Centro Universitário UDF, Anderson Nascimento, pai do Bento, as
políticas públicas estão tentando se adaptar a isso, mas ainda existe muita
resistência corporativa e visões estigmatizadas. “Se uma mulher é assediada em
um espaço público, por exemplo, ainda falta uma capacidade ao ente público, um
policial ou algum funcionário do local, de defender a posição da mulher e
proteger ela daquilo [o assédio]. Até que ponto uma norma, uma lei consegue
alterar essa realidade? É um processo mais lento e histórico que vai depender
da própria concepção das pessoas, mas temos que começar do pequeno”, disse.
O casal de fotógrafos, Irmina
Walczak e Sávio Freire desenvolvem um projeto de incentivo a amamentação (Elza
Fiuza/Agência Brasil) (Elza Fiuza/Agência Brasil)
Para Irmina, além do machismo e
conservadorismo tradicionais, existe também o preconceito. “As mulheres saíram
de casa, elas trabalham e se realizam profissionalmente, então tem as pessoas
que não curtem a ideia dessa mulher abandonar isso [essas conquistas] para
ficar com o filho e dar o peito, voltar a ser só mãe”, disse.
Pelo projeto Mamaço no Espaço, já
foram fotografadas mamães e bebês em lugares como a Torre de TV, o Buraco do
Tatu, a Universidade de Brasília, o Aeroporto Juscelino Kubitschek, a Praça dos
Três Poderes, um supermercado e um café. Durante a entrevista à Agência Brasil,
a doula Nina de Carvalho Schubart foi fotografada amamentando seu filho Martim,
de 1 ano e 3 meses, na Feira dos Importados.
“Uma vez estava na área de
desembarque do TST [Tribunal Superior do Trabalho], onde sempre fiquei
esperando meu marido e sempre tem carros que ficam meia hora, uma hora. Sentei
no banco de trás com a porta aberta e estava amamentando. Então, veio um rapaz,
sem crachá, sem identificação, e disse que eu não poderia ficar ali esperando.
Eu acho que foi uma situação que aconteceu pelo fato de eu estar amamentando.
Fiquei muito nervosa mas continuei lá”, contou Nina.
O leite materno contém todos os
nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento das crianças
(@mamaco_no_espaco / Reprodução Instagram)
Ela diz ainda que existem
momentos em que ninguém pede para ela se retirar ou se cobrir enquanto
amamenta, mas mesmo assim ela se sente desconfortável pelos olhares das pessoas
em volta. Para Nina, o próprio incentivo a amamentação, o apoio dos bancos de
leite e das famílias, além das salas de amamentação implementadas em várias
empresas, podem ajudar a naturalizar o ato. “Talvez colocar mais na mídia
também, em novelas, filmes e tudo que atinja o grande público, e não só quem
está voltado para a maternidade”, disse Nina.
Este é o terceiro projeto
fotográfico que Irmina e Sávio desenvolvem. O primeiro, Retratos para Yayá,
veio com o nascimento da primeira filha, Yasmin, hoje com 4 anos, e incentiva o
contato das crianças com a natureza. “Nós fotografamos ela em um conceito de
infância livre, sem tecnologia, sem televisão. Moramos em uma chácara e ali ela
se desenvolve e interage com o ambiente”, contou Irmina.
A fotógrafa explica que o segundo
projeto, chamado De Dentro, foi como uma arteterapia para ela. Irmina planejava
um parto normal para Yasmin, mas acabou sendo submetida a uma cesárea de
emergência. “Então tive esse ressentimento, essa frustração e essa incerteza.
Como no Brasil estamos nessa ambiguidade recentemente entre parto normal e
cesárea, eu estava na dúvida se realmente tinha que ser cesária. Aí fui
fotografando as grávidas, eram mulheres no fim de gestação e elas contavam as
suas experiências e seus medos”, explicou. “É um projeto que já acabou porque
eu senti que curei. Ele [o filho mais novo, Kajetan, de 3 meses] nasceu de
parto normal. Consegui superar”, finalizou Irmina.
Fonte: Agência Brasil
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