Somente 10% dos casos de
violência sexual e estupros são denunciados no país, informou a Plan
Internacional Brasil, uma organização humanitária pelos direitos da criança e
do adolescente, durante o lançamento da campanha Quanto Custa a Violência
Sexual contra Meninas?”, na noite desta quarta-feira (16), em São Paulo.
“Em 2013, tivemos mais de 50 mil
casos denunciados [no país]”, afirmou a especialista de gênero da entidade,
Viviane Santiago. A estimativa, segundo ela, é que mais de 500 mil mulheres
tenham sofrido violência sexual. A campanha tem o objetivo não só de mostrar,
por meio de dados, que esses crimes ocorrem, mas também quebrar o tabu
envolvido na questão e interromper o silêncio, que atrapalha as vítimas na hora
de denunciar.
O documentário Filha da Índia
(India's Dauther), da diretora Leslee Udwin, presente no evento, foi uma
maneira de sensibilizar a sociedade para a questão, disse Viviane. O filme
conta uma história real de violência sexual, na qual um grupo de seis homens
aborda uma estudante de medicina, de 23 anos, dentro de um ônibus na Índia, em
dezembro de 2012. Eles a estupram e ela morre dias depois no hospital devido
aos ferimentos sofridos.
Esse é o estopim para uma série
de manifestações nas ruas do país, que mostraram a indignação da sociedade
contra esse tipo de violência. “Esperamos que, com o choque da questão do
estupro coletivo na Índia, as pessoas se perguntem como está essa situação aqui
no Brasil". Segundo Viviane, o debate tem o objetivo de saber se o país
está longe ou perto "de uma realidade tão chocante”.
Leslee ressaltou que não se pode
tratar somente os sintomas de um mal tão grave, como é a violência sexual. Ela
reiterou a importância de instruir mulheres e meninas para que denunciem os
crimes, mas disse que isso não é suficiente. A solução para um problema
desafiador como esse, de acordo com a diretora, é promover educação a fim de
mudar a mentalidade das pessoas.
A coordenadora adjunta de
Políticas para Crianças e Adolescentes, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos
e Cidadania, Kátia Cristina dos Reis, disse que é importante transmitir a
crianças e adolescentes informações sobre a violência sexual e os mecanismos de
denúncia. Ela lembra que existem leis que tratam da questão, mas que há
impunidade. “Temos legislação que protege crianças e adolescentes, legislação
que pune a violência sexual, mas temos que avançar na responsabilização”,
acrescentou.
“Estamos vivendo um retrocesso”,
disse Viviane ao se referir à retirada da discussão de equidade de gênero dos
planos de educação de estados e municípios. Segundo ela, pensar o gênero dentro
da perspectiva da educação é pensar em desconstruir a desigualdade que ainda
existe na sociedade. “Fazer o enfrentamento [à violência sexual] é modificar a
maneira como ensinamos meninos e meninas”, acrescentou.
Para a campanha de combate à
violência sexual contra meninas, a Plan Internacional elaborou materiais
informativos sobre a identificação de abuso e violência sexual, como denunciar
os crimes e procurar a rede de atendimento. Além disso, o documentário Filha da
Índia será exibido em outras cidades, entre elas o Rio de Janeiro, Brasília,
Campo Grande, Cuiabá, Recife e Teresina.
Fonte: Brasil Post
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