Antes de qualquer coisa, é importante compreendermos como
funciona o atual sistema político: ele é oligárquico. Mas o que isso significa?
Bem, significa que o poder está nas mãos de poucos, e estes “poucos” são aqueles que têm acesso às coisas
mais importantes na hora de disputar uma eleição:
dinheiro e influência.
Essa oligarquia funciona de
uma forma muito simples: quem tem mais recursos financeiros tem mais chances de
ganhar a eleição. Assim, os empresários
interessados em “lucrar” financiam as campanhas de
candidatos cujos interesses estejam alinhados com aquilo que lhes é conveniente. Portanto, o atual sistema político corresponde aos interesses do poderio econômico, e para que isso se mantenha, é preciso que os aliados
estejam no poder. E quem são os aliados? Em sua maioria, são homens, brancos e,
como já dito, empresários. O atual contexto político brasileiro opera de uma
forma que mantenha esse fluxo de poder, dificultando e impedindo que quaisquer
outros sujeitos
A exclusão das mulheres, assim como a exclusão de todas as
minorias políticas à negros, indígenas trabalhadores, as classes de baixa renda
são um elemento central para a perpetuação dessa engrenagem que mantém o poder
nas mãos daqueles que têm posses e exclui a representação política de quem
nunca teve. O poder concentra poder!
Por isso reivindicamos a paridade política entre homens e mulheres!
Queremos uma mudança radical do sistema político para democratizar o poder. Na luta pela
Reforma do Sistema Político, a Articulação de Mulheres Brasileiras (assim como
outras instâncias nacionais dos movimentos de mulheres e feminista) faz parte da
Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político e integra
duas grandes iniciativas dos movimentos sociais e outras organizações da
sociedade civil que abraçaram a demanda feminista por paridade: a Coalização
pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas e a Campanha Nacional pelo
Plebiscito Popular da Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político.
BARREIRAS CONTRA A PARIDADE:
O atual sistema de financiamento das campanhas eleitorais.
Os financiadores de campanha poderiam destinar seus recursos para as
candidaturas de mulheres, índios e negros que querem democratizar o poder, mas
não o fazem por quê? Por que é bem mais vantajoso para eles investirem em quem
já está no poder. É assim que eles mantém os privilégios, as normas e,
inclusive, os procedimentos fora da lei (a corrupção, por exemplo) para
continuar concentrando a riqueza e o poder nas mãos dos de sempre. O resultado
é que a representação política não muda, são sempre os mesmos que se elegem,
salvo raríssimas exceções. Cada dia mais, é eleitoralmente viável quem o poder
econômico banca. Essa forma de financiamento eleitoral é, ademais, super
eficiente para preservar o poder patriarcal e excluir as mulheres.É avessa a
paridade.
Para se ter uma ideia de como essa situação vem piorando, de
2002 para 2010 os gastos gerais da campanha eleitoral aumentaram de R$827
milhões para R$4,9 bilhões !!! Em 2012, as dez maiores financiadoras privadas
de campanha doaram R$ 92 milhões, sendo que 75% foram empreiteiras. Esses são
os valores legalmente declarados… sem incluir o famoso caixa 2 das campanhas….
A segunda forma de impedir que o poder seja exercido
democrática e paritariamente entre mulheres e homens é evitar que os cidadãos e
as cidadãs possam decidir diretamente sobre as questões que dizem respeito aos
bens comuns, aos nossos direitos, ao interesse público. Se cada pessoa pudesse
exercer o seu poder cidadão mediante plebiscitos, referendos, vetos e
iniciativas populares de lei, então as grandes decisões políticas seriam
tomadas paritariamente, ou seja, mulheres e homens, todos e cada cidadão,
teriam condições iguais de decidir. Porém, estamos longe disso: faz 25 anos que
esses mecanismos da democracia direta estão esperando para ser regulamentados
pelo Congresso Nacional, mas a tramitação está emperrada…
A paridade não se refere apenas a eleição de pessoas.
Queremos que as mulheres possam exercer igualmente o poder. A forma mais importante
de realização de paridade é a democracia direta: se mais da metade da população
é de mulheres, podemos pensar que para que a cidadania tenha poder, é preciso
que haja a democracia representativa, mas também é necessária a “democratização
da democracia”, pelos espaços de mudanças sociais,
dialogando diretamente com a cidadania, e também
através dos espaços
da comunicação. A PARIDADE NÃO É APENAS A REPRESENTAÇÃO POLÍTICA.
Uma terceira barreira para inviabilizar condições paritárias
de exercício do poder é a sobrecarga das tarefas de cuidado e domésticas que
recaem, de maneira altamente injusta e desigual, sobre a vida das mulheres. A
insuficiência das políticas públicas neste campo, a irresponsabilidade social
das empresas e a cultura machista que ainda prevalece nas relações familiares
impedem que a grande maioria das mulheres possa ter tempo ao longo das suas
vidas para dedicar à participação política. Neste ciclo do atual sistema
político brasileiro, marcadamente patriarcal, racista, patrimonialista, é
difícil para qualquer um que ainda não faz parte das oligarquias no poder
adentrar os espaços de decisão política
A condição das mulheres é ainda mais particular, levando em conta que
elas são as responsáveis primárias pelos trabalhos domésticos e pelo cuidado
das crianças e idosos. Isso quer dizer que não sobra tempo para que elas se
dediquem às atividades políticas As
mulheres que buscam a participação política são desestimuladas tanto pela falta
de tempo, quanto pelas suas famílias.
Muitas enfrentam múltiplas formas de discriminação (machista, racista,
sexista, por orientação sexual, identidade de gênero etc), além de encontrar
resistência dentro dos partidos. Já os homens costumam contar com o apoio
social e de suas famílias.
PORQUE A MOBILIZAÇÃO SOCIAL É INDISPENSÁVEL PARA A REFORMA DO SISTEMA POLÍTICO?
Faz muito tempo que se reivindica a Reforma do Sistema
Político Mas a grande maioria que está
no Congresso Nacional domina esse “jogo” e,
já sabemos, não
está interessada em fazer as mudanças que a
sociedade reivindica para democratizar o poder, com a participação das mulheres
e dos demais segmentos que sempre estiveram sub-representados nos espaços de
poder e decisão no Brasil. Muitos são cúmplices da sujeição do poder político
ao poder econômico, por isso, não criaram nem vão criar condições políticas
para enfrentar as desigualdades, garantir direitos, acabar com o clientelismo,
a corrupção, as estruturas patrimonialistas, fazendo a reforma do sistema
político.
A mobilização social é para pressionar, demonstrar a
insatisfação popular e a força da cidadania, para promover as mudanças que
queremos!
PARIDADE JÁ!
A paridade que nos interessa é aquela que traz justiça,
igualdade, diversidade, capaz de democratizar o poder e radicalizar a democracia
com a participação de todas e cada uma das mulheres. Para nós, não basta a
paridade superficial, entre ricas e ricos; entre as representantes das
oligarquias e os representantes das oligarquias, entre brancas e brancos.
Fonte: CFEMEA
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