Incluída na lista que traz os nomes e telefones de 310
mulheres apontadas falsamente como garotas de programa, uma estudante de
jornalismo de 19 anos afirmou que recebeu 400 mensagens no WhatsApp durante a
madrugada da última quinta-feira (4). Ela foi a segunda vítima a registrar
boletim de ocorrência no Distrito Federal.
Agora meu número já rodou, então como tirar essa perturbação
da minha cabeça? Mesmo que a polícia prenda as pessoas que republicaram, a
gente não sabe até onde chegou essa lista. As pessoas não pensam nessas coisas.
Mas eu espero que punam alguém, para que aprendam que isso não se faz. Já
imaginou se eu ganhasse por ligação? Ia estar rica a uma horas dessas."
De acordo com a garota, foram 50 mensagens por hora – quase
uma por minuto. O caso é investigado pela Polícia Civil. A lista circula também
pelo Facebook e traz telefones de vários estados, como Minas Gerais, Rio de
Janeiro, Maranhão e São Paulo. Oito meninas na lista são de Brasília.
Para parte das citadas na lista, divulgada por meio do
aplicativo WhatsApp e do Facebook, há ainda descrição da aparência física e o
suposto preço cobrado pelo programa. As observações dizem ainda que todos têm o
app no celular e que mandam fotos.
Entre as mensagens recebidas pela menina estava a de um
homem que disse ser casado. Ele perguntava o preço do programa para o final de
semana, pedia fotos e contava que queria a companhia de duas pessoas, já que a
mulher estaria viajando.
"Fiz a denúncia na Delegacia da Mulher. O investigador
me disse que já havia ouvido outros 15 relatos semelhantes", conta a
jovem. "É desagradável, porque meu celular trava a toda hora, é o dia
inteiro assim. Toda hora ligam, fico até com medo de atender. Acho que as
pessoas não têm nenhuma noção do efeito dos próprios atos. Eu levo na
esportiva, porque, se for na emoção, não vale a pena. A gente se esforça,
estuda, trabalha, rala e tem gente que vem e faz um negócio desses."
Antes de registrar a ocorrência, a estudante de jornalismo
tentou contato com as outras moradoras do DF para descobrir o que tinham em
comum. Segundo ela, nenhuma das meninas tem noção de quem pode ter divulgado os
celulares.
"Mesmo com tudo isso, estou tranquilíssima. Não vou me
deixar abalar. Trabalho para não ter raiva de ninguém, nem de quem fez ou de
quem vem falar comigo. Apesar das conversas até indecentes, eles não têm
totalmente culpa, porque elas não sabem que não é verdade, que é uma lista
falsa", explica a garota.
A menina afirmou que tem o número há oito anos e que não
pretende trocá-lo. A expectativa, diz, é que a polícia consiga solucionar o
caso.
"Agora meu número já rodou, então como tirar essa
perturbação da minha cabeça? Mesmo que a polícia prenda as pessoas que
republicaram, a gente não sabe até onde chegou essa lista. As pessoas não
pensam nessas coisas. Mas eu espero que punam alguém, para que aprendam que
isso não se faz. Já imaginou se eu ganhasse por ligação? Ia estar rica a uma
horas dessas", brincou.
Outros casos
Quatro garotas relataram dificuldades para denunciar o caso
e disseram que chegaram a ser desestimuladas pelos delegados a fazer o
registro, "porque seria difícil investigar". Ao G1, a corporação
negou que haja orientação para que as vítimas sejam desestimuladas a denunciar.
"Ao contrário, a Polícia Civil do Distrito Federal
solicita que todas as pessoas que se sentirem constrangidas se dirijam à
delegacia mais próxima ou à Delegacia da Mulher e registrem o fato",
afirmou a entidade em nota.
A corporação disse ainda que a orientação é que as mulheres
incluídas na lista não deletem as mensagens recebidas e, se possível, as
imprimam para que sejam anexadas na ocorrência. Não há prazo para o fim da
apuração.
Preferindo não se identificar, uma estudante de direito de
21 anos diz que tem vivido um "inferno" desde a noite da última
quarta-feira, quando recebeu as primeiras mensagens por WhatsApp. Ela conta que
a princípio não entendeu o que estava acontecendo e que um dos rapazes acabou
explicando a situação.
"Primeiro eu achei que fosse engano, não fazia sentido.
Depois, quando ele me mandou a lista, comecei a responder falando que colocaram
meu nome aleatoriamente, que eu não tinha nada com isso. Só que foi pior,
porque parece que atiçava mais. Só quando troquei minha foto para de homem e
comecei a responder mandando foto de pinto é que pararam. Pediam desculpa e sumiam",
explica.
O G1 acompanhou a jovem à 21ª Delegacia de Polícia
(Taguatinga) nesta sexta. Nos 20 minutos entre o atendimento dela no balcão e a
conversa com o delegado foram 59 mensagens e três ligações. No conteúdo,
questionamentos como "você é acompanhante?" e "manda
foto?". Chorando bastante, a estudante afirmou que não tem ideia de como a
incluíram na lista.
"Você fica assim [de um jeito] que você não consegue
fazer nada da sua vida. Você fica triste, angustiada. Não consegui contar para
ninguém. É horrível você ter que perder o dia, vir à delegacia e ficar o dia
inteiro aqui. É uma sensação meio que de impotência. É um desaforo de ter que
fazer tudo isso por causa de um retardado que quis fazer graça", declarou.
Especialista em crimes de internet, o advogado Jair Jaloreto
afirmou que tanto quem divulga a informação quanto quem a replica podem ser
punidos. "Com a popularização das redes sociais, os crimes contra a honra
aumentaram substancialmente. E quem replica a ofensa passa a ser autor também.
As pessoas identificadas que a repassam para os seu amigos também estão
cometendo um delito."
Com a popularização das redes sociais, os crimes contra a
honra aumentaram substancialmente. E quem replica a ofensa passa a ser autor
também. As pessoas identificadas que a repassam para os seu amigos também estão
cometendo um delito."
Jaloreto disse ainda que é falsa a ideia de que o fato de o
crime ocorrer em um ambiente virtual impede a investigação. A diferença está no
alcance da mensagem, já que na web ela se espalha com maior facilidade.
"Dificulta [a investigação] porque você tem um passo a
mais para fazer, mas não inviabiliza. Mediante uma ordem judicial, as companhias
de telefonia e de internet não obrigadas a fornecer o endereço e a titularidade
de onde partiram as mensagens", explica.
De acordo com o artigo 139 do Código Penal, difamar alguém,
atribuindo-lhe um fato ofensivo à reputação, tem pena de 3 meses a 1 ano de
cadeia, além de multa. A Polícia Federal informou que a investigação fica a
cargo das policias civis de cada estado, e que uma delas pode centralizar as
apurações, se os delegados acharem conveniente.
Fonte: Globo
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