O capitalismo neoliberal aumenta a brecha entre os Mundos Primeiro e Terceiro. Então gera imensas massas de miseráveis que se deslocam à busca de sobrevivência que não encontram onde moram. A Europa e a América do Norte surgem como a meca de tantos famintos.
A migração data do início da hominização. Os primeiros
humanos se nomadizaram. Iam à cata de frutos selvagens e de caça. Esgotavam-se
esses recursos, caminhavam então para frente. Assim viveram milhões de anos.
Por volta dos anos 8000 a.C., acontece a revolução agrícola. O nômade se fixa
no cultivo da terra e na domesticação de animais para o trabalho. Tal fato
provoca o sedentarismo com moradia estável em aldeias.
Daí para frente a migração e a estabilidade disputam as
pessoas. Sempre houve aventureiros que se lançaram a navegar pelos oceanos e a
caminhar pelas terras. A sociedade rural, porém, manteve certa estabilidade.
Vivia-se onde se trabalhava. As grandes movimentações aconteciam em momentos de
catástrofes.
A revolução industrial desequilibrou a balança. Demandava
mão de obra e começava a formar aglomerados urbanos. Esses atraiam cada vez
mais os camponeses que migraram massivamente para as cidades. Até hoje o
fenômeno continua. No Brasil, as metrópoles incham-se desordenadamente com o
êxodo rural.
Somam vários fatores. As pessoas fogem da vida dura e penosa
do campo. Não têm as comodidades que a vitrine urbana ostenta. Nas cidades, o
trabalho, o melhor salário, as cores e luzes do consumismo e do prazer, as chances culturais, a experiência de liberdade
seduzem altamente. E as migrações aumentam.
O sistema capitalista industrial deslocou pessoas do campo,
mas, de certa maneira, fixou-as na cidade. O êxodo se fazia contínuo do espaço
rural para o urbano. A transformação do capitalismo por obra da eletrônica,
informática, alta tecnologia está a produzir outro desequilíbrio. As massas
urbanas caem no desemprego. E elas começam a mover-se das regiões, cidades, países
e até continentes pobres para outros lugares que acenam para futuro melhor. Os
habitantes de países ricos refugam trabalhos braçais, de baixo salário e sujos.
Então contratam estrangeiros de países pobres para executá-los. De novo, voltam
as migrações já de outra natureza.
Mais: o capitalismo neoliberal aumenta a brecha entre os
Mundos Primeiro e Terceiro. Então gera imensas massas de miseráveis que se
deslocam à busca de sobrevivência que não encontram onde moram. A Europa e a
América do Norte surgem como a meca de tantos famintos. Mas elas cerram as
fronteiras reforçando o policiamento contra os migrantes. Imensa tragédia
humana que tende a crescer. O sistema econômico comete, ao mesmo tempo, dois
crimes. Aumenta o número das vítimas e cerra-lhes as portas de saída.
Soma-se a essa monstruosidade social o nefando tráfico
humano sexual que alimenta a vida perversa de grandes centros urbanos tanto
nacionais como estrangeiros. Acenam a presas carentes o dinheiro fácil do
comércio sexual. E a ética naufraga por todos os lados.
João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em
Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana
(Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou
mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56),
e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente
reconhecido como um dos teólogos da Libertação.
Fonte: Dom Total
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