A instalação de detectores de metal nas entradas de alguns
hotéis de prostituição na rua Guaicurus e vias próximas evidencia o
recrudescimento da violência na área central de BH. Até fevereiro, os
equipamentos serão colocados em vários desses estabelecimentos, mas para
garantir a vida e integridade das mulheres que aí se encontram isto não é
suficiente. Seria preciso também
contratar pessoal qualificado para
a segurança interna, e garantir que todos esses hotéis adotem outras
medidas adicionais como alarmes nos quartos.
Sujo, inseguro, repleto de camelôs, mendigos e usuários de
droga. Esse é o retrato da degradação do Centro de Belo Horizonte, por onde
passam todos os dias 1,7 milhão de cidadãos que veem seus direitos
desrespeitados pela inércia do poder público.
E as respostas aos problemas estão longe de serem dadas,
pois não há projetos a curto ou médio prazo para a revitalização do espaço mais
frequentado da capital dos mineiros.
“Para mim, o centro da cidade precisa de uma reorganização
completa”. A fala do comandante da 6ª Cia da Polícia Militar – responsável pela
segurança da região –, Gedir Rocha, traduz o sentimento da população.
Sem revelar números, por questão estratégica, o oficial
afirma que o Centro é a área mais policiada da capital, mas reconhece que o
aumento da concentração de moradores de rua, ambulantes e desocupados contribui
para a insegurança e as ocorrências de roubos, sobretudo de telefones
celulares, joias, bolsas e carteiras.
Medo
A sensação de insegurança é visível entre os frequentadores
do Centro. A gerente E., que trabalha na rua Tupinambás, conta que a loja foi
assaltada três vezes nos últimos anos, e, apesar das câmeras de vigilância, o
medo impera, “porque é muito difícil ver viaturas ou policiais rondando a rua e
vigiando o comércio”.
O proprietário de um movimentado restaurante, que pediu para
não ser identificado, revela indignação: “Já fui assaltado e estou ameaçado de
morte porque encarei viciados, traficantes e assaltantes, para defender o meu
trabalho. A verdade é que estamos perdendo espaço para esses criminosos, e o
poder público não tem dado retorno em termos de segurança”, protesta.
Ele é testemunha dos crimes ocorridos na área central.
“Estou cansado de ver assaltos, tráfico e uso de drogas perto do meu
estabelecimento. A única solução é o aumento constante e definitivo do
policiamento de rua no Centro”, fiz.
CDL reclama
O vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL),
Anderson Rocha, explica que o aumento da população de rua é um risco para a
cidade, por causa da existência, entre essas pessoas, de assaltantes,
traficantes e usuários de drogas.
“Quase todos os estabelecimentos comerciais no Centro
possuem circuitos de vigilância, além do Olho Vivo. Mas as pessoas precisam
contribuir para o combate aos crimes, evitando exibir joias, telefones,
dinheiro e outros objetos de valor para não atrair a atenção dos criminosos”,
alerta.
Um censo da população de rua de BH está sendo realizado e
deve ficar pronto no início do ano que vem. Somente após esse diagnóstico, a
prefeitura irá elaborar um plano para retirar os moradores dessa situação.
Calçadas esburacadas,
lixo, pichações...
Além dos problemas de segurança, o Centro de Belo Horizonte
sofre com a degradação urbanística, deixando a região nada convidativa. Muitos
passeios estão esburacados, placas de sinalização e orelhões, quebrados,
prédios e equipamentos públicos, pichados, e até parte das luminárias da Praça
7 está depredada.
A manutenção precária do Centro é alvo de reclamação. É o
caso da aposentada Genir Francisca Leonor, de 71 anos. No meio do caminho entre
o ponto de ônibus e a farmácia, na esquina da avenida Afonso Pena com rua da
Bahia, um buraco no passeio por pouco não frustrou o objetivo da idosa. “Quase
caí aqui tentando desviar, e é assim o tempo todo”, conta a moradora do bairro
União (região Nordeste).
O lixo também incomoda. “Tem sujeira por toda a parte, o que
deixa essa região com aspecto de feia e malcuidada. O pior é que as mesmas
pessoas que passam por aqui todos os dias são as responsáveis pelo problema”,
afirma a doméstica Goreth do Amaral, de 52 anos, referindo-se à falta de
educação de alguns pedestres.
Até quem vem à cidade poucas vezes por mês reclama da
situação. “É um absurdo. Temos que ficar desviando dos sacos nas calçadas e
conviver com o mau cheiro. As autoridades deviam estar mais atentas a essa
questão”, diz Aparecida Hipólito, de 53 anos, moradora de Betim, na Grande BH.
A enfermeira Janaína Moura, de 28, compara a cidade a um
livro. “Dizem que não se deve julgar um livro pela capa, mas esse é o
comportamento mais usual. A edição que contempla o Centro de BH com certeza não
é capaz de atrair nenhum leitor”, afirma.
Câmeras do Olho Vivo
desativadas
Pelo menos 20 câmeras de vigilância do sistema Olho Vivo no
hipercentro estão desativadas por problemas técnicos ou defeitos. Oito foram
desligadas por causa de obras do BRT, seis estão com problemas na captação de
imagens, cinco com problemas de transmissão de dados e uma com defeito no
cabeamento elétrico. O assessor de imprensa da PM, tenente-coronel Alberto Luiz
Alves, garante que já existe verba do Estado para a recuperação dos equipamentos.
O Centro e a zona Sul de BH vão receber mais 140 câmeras de vigilância do
sistema Olho Vivo a partir de 2014.
Vítimas devem prestar
queixa para gerar as estatísticas criminais
A subnotificação dos crimes ocorridos no Centro de BH
prejudica a tomada de decisões e o planejamento das autoridades policiais.
Segundo dados da Polícia Civil, neste ano, até novembro, foram concluídos 180
inquéritos abertos na região. Em 2012, foram 212.
Números bem aquém da realidade, segundo o presidente do
Conselho de Segurança Pública do Hipercentro (Consep), Lincoln Nascimento. Ele
confirma as denúncias de uso de drogas e assaltos. “Acontece que muitas pessoas
não prestam queixa quando são vítimas de furtos ou roubos”, diz.
O tipo de crime mais comum no Centro é o chamado “pulão”. Os
ladrões avançam sobre joias, bolsas, carteiras e celulares aproveitando um
momento de distração das vítimas.
É o que aconteceu com o estudante G., de 20 anos. “Estava
ouvindo música tão alto, no fone, que nem prestei atenção ao que acontecia
perto de mim. Dois homens me cercaram e um deles tentou puxar os fios do
aparelho e tentei reagir, quando fui jogado ao chão. Um dos dois assaltantes
estava com um facão na mão direita e pensei que ele ia usar aquela arma quando
eu estava caído. Felizmente, eles só queriam meu celular e meu rádio com fone
de ouvido”, conta.
A reportagem do Hoje em Dia passou um dia na Companhia da PM
da região e ouviu vários relatos do tipo. O comandante, major Gedir Rocha, recomenda
aos cidadãos se prevenirem e dificultarem a ação dos ladrões, não expondo
objetos de valor.
Outra vítima a prestar queixa na PM foi a auxiliar de
escritório A., de 28 anos. “Desci de um ônibus na rua Guaicurus, quando dois
homens armados me cercaram fazendo ameaças e exigindo que eu entregasse o
celular. Fiquei tão assustada que entreguei o telefone, pedindo, quase
chorando, que não fizessem nada comigo”, diz.
Um relato dramático fez o estudante J., de 17 anos. Ele
caminhava pela avenida Afonso Pena, por volta das 7h, a caminho da escola,
quando foi cercado por três homens que ameaçaram agredi-lo, obrigando-o a
entregar o seu celular.
“Quando eles me seguraram, pensei que iam me bater muito”,
relembra, ainda assustado com a situação ocorrida poucas horas antes.
Prostíbulos vão
instalar detectores de metal
A instalação de detectores de metal nas entradas de alguns hotéis
de prostituição na rua Guaicurus e vias próximas evidencia o recrudescimento da
violência na área central de BH. Até fevereiro, os equipamentos serão colocados
em vários desses estabelecimentos, mas para garantir a vida e integridade das
mulheres que aí se encontram isto não é suficiente. Seria preciso também contratar pessoal qualificado para a segurança interna, e garantir que todos esses hotéis adoptem outras medidas
adicionais como alarmes nos quartos.
Segundo o presidente
da Associação dos Amigos da Rua Guaicurus, Édson Cruz, os detectores serão
usados para inibir a entrada de armas nesses estabelecimentos e proporcionar
mais segurança às mulheres que fazem programa e aos clientes.
Na “zona boêmia” da cidade já existem duas câmeras do
sistema Olho Vivo e centenas de circuitos de vigilância interna de
estabelecimentos comerciais na região.
Cruz afirma haver relatos de homens que procuram esses
hoteis armados, principalmente com facas, canivetes e outras armas brancas.
Em menor quantidade, também há pessoas que se arriscam a
frequentar esses locais com armas de fogo.
O presidente da associação desconhece dados de violência nos
hotéis de alta rotatividade do Centro, mas ressalta que o reforço na vigilância
faz parte do esquema de prevenção.
Fonte: Hoje em dia e Pastoral da Mulher
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